Tricolores de sangue grená, o Fluminense fez um campeonato digno, bem acima das expectativas da mídia, da folha de pagamento, dos analistas esportivos e do próprio planejamento da diretoria, mas abaixo do que nós, torcedores do gigante que ele é, gostaríamos. Infelizmente, a quinta colocação e os impressionantes 64 pontos não foram o bastante para conseguirmos acesso direto à fase de grupos da Libertadores, já que os bastardinhos fizeram o favor de perder para o São Paulo, uma vez que já sabiam que a arbitragem no Beira Rio daria aquela força. Não obstante, depois que o Fluminense foi garfado de forma completamente absurda contra o Santos, eu sabia que a possibilidade de dependermos do resultado da Copa do Brasil era grande. Em condições normais, o São Paulo teria vencido o Botafogo (a arbitragem tentou ajudar) e liquidado a fatura antes. Dessa forma, só nos resta mesmo lamentar a falta de influência nos bastidores, que possibilita aberrações como as que vimos na Vila Belmiro, e a própria incompetência da equipe em alguns jogos do campeonato, já comentados extensamente aqui, nos quais deveríamos ter tido resultados melhores.
Atualmente, nossas melhores chances de título são nas competições em que determinadas equipes, protegidas aqui no Brasil (e, principalmente, no estado do Rio), não recebem qualquer tratamento diferenciado. Por sorte, nos classificamos para uma delas, a Copa Libertadores da América. Por azar, dependemos de um título do Palmeiras na Copa do Brasil para jogar a fase de grupos de forma direta. O primeiro jogo da final da Copa do Brasil, disputado na Arena do Grêmio, deu a vantagem mínima ao time paulista. Ao vencer por 1 a 0, mesmo jogando boa parte do segundo tempo com um homem a menos, o Palmeiras encaminhou o título, que é o que nos serve. Mas, é claro, não foi criada uma vantagem arrebatadora, que nos permitisse cravar o desfecho da competição. Esse compasso de espera é péssimo para qualquer planejamento, principalmente porque o Carioca também está batendo à porta, e não poderemos ficar muito tempo sem utilizar o time titular, sob pena de perdermos a cota televisiva dos jogos em que fizermos isso a partir da quarta rodada. Porém, eu tenho uma visão diferente.
A cota televisiva oferecida pela Record para o Carioca é uma mixaria, diferente do que tínhamos com a Globo. A perda de receita por jogo que não recebemos é menor que a que temos com o Maracanã fechado. Eu esperaria a definição entre Palmeiras e Grêmio, e só manteria o time treinando de fato se tivermos que jogar contra o Ayacucho agora em março. Caso contrário, daria férias e jogaria todo o Carioca com o sub-23. Não temos força política nos bastidores mesmo, será mais um “Flamengão” para garantir a cota mínima anual de títulos aos eternos protegidos. Se chegarmos sem força, como em 2020, não precisarão nos roubar. Caso estejamos na ponta dos cascos, sempre dá pra ignorar um empurrão no zagueiro, como em 2017, por exemplo. Sei que muitos discordam dessa visão, mas é muito difícil levar um campeonato tão viciado a sério. No passado, perdemos jogadores importantes por lesão atuando nessa mesma competição viciada, e nos fudemos na Libertadores por causa disso. Acho que já chega.
A única maneira de recuperarmos respeito extracampo é nos impondo e não aceitando o jogo que estão tentando fazer. Os clubes estão passivos demais em relação ao descalabro que está se tornando o futebol brasileiro, e quando resolverem se mexer pode ser tarde demais. O VAR veio para legitimar a sacanagem e são os clubes que pagam por ele. Quando essa merda perder a graça e perder público, vão lamentar. Acho que já passou da hora de formar uma liga que não tenha que se submeter à arbitragem que a CBF nos empurra, e que possa ser fiscalizada por representantes de todos os clubes, de modo a garantir a lisura da competição, evitando que ela se torne viciada. Já que não há esperança para algo assim no Rio, tampouco em competições de mata-mata, como a Copa do Brasil, ao menos que uma competição nacional principal, de pontos corridos, possa realmente promover uma disputa justa, sem favorecimento para quem quer que seja, e que permita o melhor vencê-la, e não aquele mais protegido, ajudado ou com as costas quentes. O futebol brasileiro está morrendo, e tem gente lucrando com a sua estadia na UTI, assim como vários lucrarão com o seu enterro.
Eu pretendia falar de elenco nessa coluna, mas as duas últimas rodadas mudaram completamente meu foco, de modo que deixarei para a próxima, até para dar tempo a Roger Machado indicar quem ele deseja contratar. Se queremos um 2021 vitorioso, o Fluminense terá que se reinventar também fora de campo e entender as regras do jogo. É um jogo sujo, pérfido e voltado para dois times ganharem tudo e o resto se foder. Logo, é preciso iniciar uma verdadeira articulação para valorizar o produto nacional. Se queremos ser protagonistas, é necessário assumir a dianteira uma vez mais. Talvez não para criar uma nova “Primeira Liga” imediatamente, mas para que as decisões concernendo ao futebol brasileiro sejam tomadas em bloco. Há um óbvio entrave: paulistas e dissidência parecem bastante contentes com os rumos atuais do nosso esporte, mas mesmo eles não podem jogar sozinhos. Caso nada seja feito, é bem provável que, ao chegar dezembro, estaremos mais uma vez lamentando o que poderia ser, mas não foi. Para sermos gigantes, é preciso agirmos como gigantes. Caso contrário, nosso gigantismo ficará apenas no discurso.
Curtas:
– A FIFA estuda permitir contratos internacionais a partir dos 16 anos. E aí CBF e clubes? Vamos entubar essa quietinhos?
– Roger Machado chegou e só posso desejar a ele muito boa sorte em sua empreitada no Fluminense. Que não destrua o sistema defensivo, que hoje é bastante firme, e resolva os problemas ofensivos e de recomposição no meio com inteligência. E, principalmente, que tenha peito para barrar quem tiver que barrar de acordo com o esquema tático escolhido para o time, entre os vários que espero que ele treine. O Fluminense não pode ser o time de uma nota só que só basta para ganhar de times pequenos ou desinteressados pelo jogo. Tem que ser competitivo também contra os grandes com maior constância, e não por mero acaso da escalação.
– Marcão, o meu muito obrigado pelos serviços prestados. Acredito que, futuramente, você será um grande treinador. Ainda está em formação, reconhece isso, é um cara humilde e gentil. Tem todas as virtudes de uma grande pessoa e tenho certeza que será um excelente técnico.
– Palpite para a primeira rodada do Carioca: Resende 1 x 3 Fluminense.