Semana de fechamento da janela europeia de transferências e os clubes e torcidas brasileiras fica em polvorosa.
Os torcedores, com receio de perder seus principais jogadores e, em consequência, enfraquecer seus times.
Os dirigentes, na expectativa de conseguir vender algum ou alguns jogadores e fazer caixa para atenuar a sofrível situação financeira dos clubes.
Essa e a ciranda do futebol brasileiro, agravada a partir da Lei Pelé que, ao acabar com a escravocrata Lei do Passe, criou outra criatura sinistra chamada empresário, ou representante, ou procurador de jogador de futebol.
Esses, os novos senhores de engenho do futebol brasileiro, tornaram-se os novos donos dos atletas e os clubes se tornaram reféns.
Faço esse introdutório, para chegar na novela que se criou em torno da saída de Marcos Paulo do Fluminense.
O jogador, formado na base em Xerém, destaque nos times Sub15 e 17, essa última a melhor geração formada nos últimos anos e que, por tudo isso e aliado à necessidade do clube, foram alçados ao time principal, pulando a etapa de formação do Sub20 e até do Sub23.
O jogador chega incensado por uma torcida carente, que mesmo sem muitas vezes ter assistido a uma atuação sequer, os promovem a craques e aí começam os problemas.
Esses garotos passam a ter a obrigação de apresentar uma performance excepcional em todos os jogos, começam a serem alçados à condição de estrelas, ídolos de barro, sem nenhum preparo. Não passaram pela lapidação do Sub20, pela correção e aperfeiçoamento dos fundamentos e tem o empresário pressionando o clube, o atleta, a família a já fazer as malas e atravessar o oceano.
Aos 16, 17 anos essa pressão torna-se insuportável para a maioria e aí vem o mau desempenho, as más atuações, as primeiras vaias, ate chegar ao linchamento.
Está semeado o terreno para colher uma saída em busca do tesouro.
Não está sendo diferente com M. Paulo. O jogador, cujo contrato encerra-se em dezembro próximo, já pode assinar um pré-contrato com qualquer equipe e sair em janeiro sem que o Fluminense receba nada por isso.
O mercado de transferências atravessa sua pior crise de todos os tempos. Pandemia, crise financeira, clubes aqui e no velho mundo em situação difícil, guardadas todas as proporções cabíveis, e, aliado a isso, o jogador em má fase.
Marcos Paulo, que poderia valer ate 15 milhões de euros, hoje está avaliado em, no máximo, 6,5 a 7 milhões de euros e isso para jogar em times de segunda linha, mesmo tendo passaporte da comunidade europeia.
Especulou-se um empréstimo ao Torino da Itália com opção de compra, mas não evoluiu a negociação, que nas circunstâncias, seria boa para todos.
Agora resta ao Fluminense, no desespero, buscar uma renovação, mesmo que curta, que lhe dê condições de receber algum retorno financeiro, em uma janela futura, ou ainda tentar o mercado russo, cuja janela se encerra no dia 20. Sem isso, perde o jogador de graça em janeiro.
O futebol hoje é negócio, e grande. Compete páreo a páreo com o submundo do boxe, das corridas de cavalo. Enriquece empresários, dirigentes e ate alguns jogadores.
O romantismo ficou lá atrás, na linda história de um ídolo como Castilho, que sacrificou parte do corpo pelo clube que amava e que, ainda assim, só encontrou o devido reconhecimento depois de morto e por iniciativa de alguns torcedores.
O caso de Marcos Paulo não servirá de lição. mês que vem surgirá outro e depois mais um.
É o circulo virtuoso de empresários, dirigentes e apaniguados, mas também o circulo vicioso e mortal dos clubes e dos torcedores românticos.
Panorama Tricolor
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