Peter Siemsen dá seus últimos passos no comando do Fluminense Football Club. Em novembro, elegeremos um novo presidente no mais democrático pleito que a história do clube já presenciou. Os sócios-torcedores, com mais de dois anos de contribuição – e eu me incluo entre eles – poderemos exercer plenamente a cidadania tricolor.
Esse parágrafo inicial seria apenas um sonho, porém, se a democratização nas eleições presidenciais do Fluminense não tivesse sido planejada e implementada pelo próprio Peter.
Escrevi há mais de um ano, quando a disputa eleitoral embrionariamente se desenhava, que os então eventuais candidatos deveriam tratar a disputa com respeito recíproco e, sobretudo, respeito maior ao Fluminense. O Fluminense está acima de todos.
E isso inclui ser honesto nas opiniões, reconhecendo valores positivos nos seus adversários. Bater por bater, criticar sem argumentos é mesquinho e chega a ser vil, quando se tem por trás a ambição de ocupar o mais alto cargo na hierarquia tricolor.
Peter cuidou de Xerém como se cuida de sua própria casa, transformando um abrigo sujo e mal administrado num centro de excelência e referência das divisões de base no Brasil. E é de lá que abastecemos nossas equipes e ainda fazemos dinheiro para sobreviver em tempos difíceis. E ainda temos um CT de primeiro mundo, sonho antigo que faz o Fluminense pisar definitivamente na modernidade, tornando-o ainda maior.
Foi Peter, também, quem nos deu sobrevida após a saída da Unimed, quando nove entre dez “entendidos” de futebol previram o nosso fim. Administrou e escalonou dívidas, obteve certidões negativas fundamentais para que possamos estar aptos à obtenção de patrocínios e sobreviver ao PROFUT. E quanto à internacionalização da marca, tratou o tema com pioneirismo, levando o Fluminense para o centro da Europa através da compra do STK Samorin, o Flu-Samorin. Não olvidemos, também, do Projeto Guerreirinhos, com filiais em diversos estados e até no exterior, que também se propõe à valorização e difusão da marca Fluminense e cujos frutos serão colhidos pelo clube muito em breve.
Peter foi um administrador zeloso e responsável, o que não o impediu de ter cometido erros. Esta foi a metade boa de sua Administração.
Por outro lado, foi imperdoável como tratou a repercussão do caso Flamenguesa, quando deixou à própria sorte, alvos das iras nas redes sociais e nas ruas, muitos tricolores que, de forma independente, defenderam a honra do clube. A sua omissão foi quase criminosa e, por pouco, não terminou numa tragédia.
Ao se calar, deu passe livre para a imprensa nos bombardear com infâmias manipulando a opinião pública para que acreditasse que o Fluminense era, mais uma vez, o grande vilão do futebol nacional. Este foi um dos maiores equívocos de seu mandato.
O outro foi o futebol. Suas escolhas para o departamento de futebol do clube jamais foram as mais acertadas e sua Administração pecou pela falta de comando nos momentos em que era preciso ser firme. Levemos em conta o baixo orçamento, sobretudo após a saída da Unimed, mas ainda assim temos exemplos próximos de clubes semifalidos que conseguem montar times aguerridos com baixo orçamento. E crises internas, complôs, panelinhas covardes poderiam ter sido evitados.
Quatro anos de insucessos para o torcedor foi um terrível pesadelo, especialmente quando já estava se acostumando a novamente ser referência nacional e a participar com qualidade das competições sulamericanas.
Parece claro que Peter entendeu que era mais importante cuidar de outros assuntos e relegou o futebol a segundo plano. Futebol é o carro-chefe do Fluminense e delegá-lo a ineptos foi um erro crasso.
Uma boa administração financeira não precisa necessariamente fechar as torneiras do futebol. Um investimento, ainda que comedido, mas criterioso dentro de campo, certamente traria dividendos maiores ao clube. Apesar da verba escassa, o que havia foi desperdiçada em péssimas contratações de técnicos e jogadores. Muito dinheiro e planejamento jogados no lixo.
Houve, portanto, na Administração Peter Siemsen um verdadeiro paradoxo: a boa mão que cuidou das contas e da marca Fluminense não soube cuidar do futebol com o mesmo talento.
É claro, nada pode ser perfeito e o torcedor, que é paixão, talvez tivesse preferido menos equilíbrio financeiro e mais títulos.
Peter deixará um legado formidável para seu sucessor: projetos encaminhados, um CT de primeiro mundo e dívidas equacionadas. E isso deve ser lembrado sempre. Por outro lado, o novo presidente deverá ser diferente em tudo do que Peter foi na gestão do futebol. E essa é a parte de sua Administração que deve ser esquecida.
De toda a sorte, não há como se negar que Peter Siemsen escreveu seu nome na história do Fluminense Football Club. Para o bem ou para o mal. Em novembro, a sua verdadeira avaliação será dada nas urnas, o local adequado para expressarmos a nossa vontade. Afinal de contas, o Fluminense somos todos nós, agora literalmente.
Panorama Tricolor
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Imagem: f2
Peter foi melhor presidente de todos os tempos.
Análise fria, boa. Discordo do “negligenciou”, mas, delegou a outros tocar o dep futebol. Começou bem terceirizando à Unimed que com recursos e Rodrigo Caetano fez o time campeão brasileiro e carioca em 2012. Depois, a Unimed degringolou e com ele o departamento. Agiu rápido botando seu homem de confiança à época Mario Bittencourt, mas, que se mostrou um desastre. Por fim, corrige um pouco a rota com Jorge Macedo. Contratações mais estudadas e não da cabeça boleira de VP de futebol.