Publicado originalmente em 12/11/2016
A MÃO FLÁCIDA
Sr. X, 48 anos, hetero, sócio
“Conheci pessoalmente Francisco da Zanzibar há cerca de um mês num sábado de manhã. Chegando ao clube, logo depois da portaria social, caminhei em direção ao Fidelix quando fui abordado por ele, ao lado de um rapaz efeminado que, conforme foi dito depois, era seu sobrinho. Francisco estava panfletando para um candidato do clube e falou de mil maravilhas de acordo com sua opinião particular: queria a ordem e progresso do Fluminense, um completo choque de ordem, o fim do comunismo tricolor (que diabos era isso?) e, segundo suas palavras, uma nova era nas Laranjeiras com base na valorização da família e do papel do homem de bem. Achei aquilo um tanto estranho, sem entender porque ele tinha de falar o tempo todo com a mão em meu ombro direito. Na verdade, parecia o papo de um fascista do caralho. Seu sobrinho parecia desapontado, até enciumado – a todo momento se abaixava para ajeitar a meia soquete e ajeitar a bermudinha quase infantil.
Zanzibar é um sujeito estranho. Sua voz grossa às vezes desafina, ele desmunheca o tempo inteiro enquanto ajeita o cabelo acaju, parece um tanto desinteressado com a fala do interlocutor e regularmente põe a mão na parte de trás da calça, como se estivesse ajeitando ou puxando uma calcinha do biquíni do próprio bumbum na praia. E fala aproximando a cabeça de você como se quisesse se insinuar para o interlocutor o tempo inteiro. Reconheço seu pleno direito à vida homoafetiva, mas que a exerça com seus pares. Sem contar seu tom prepotente, professoral, como se estivesse diante de completos ignorantes quando expõe um ponto de vista.
Dizem que é uma figura influente dos bastidores das Laranjeiras e que usa o próprio corpo para revelar joias da base. E que tem laços de amizade com outros próceres da casa. Relatos dão conta de que gosta de louvar ditaduras, militarismo, golpes de Estado e outras aberrações da política.
Agora, de tudo, tudo mesmo que já vi e ouvi deste sujeito, o que mais me chamou a atenção foi seu aperto de mão. Ela é flácida, frouxa, pastosa, parece em decomposição. É até difícil de explicar. Seu cumprimento é a melhor definição da palavra “pusilânime”.”
SAUNA FLU
Benino Souza, 27, atleta, hetero, sócio
“No começo do ano, eu estava lanchando um sanduichinho de linguiça no Bar do Pênis, quando um homem de cabelo acaju perguntou se podia se sentar ao meu lado, pedindo ajuda para que eu lhe mostrasse como filmar em seu próprio smartphone. Imediatamente me assustei ao ver que havia em seu álbum virtual várias fotos de travestis nus em processo de ereção. Já me preparava para lhe dar um esporro sinistro quando ele imediatamente me pediu desculpas, dizendo que aquilo era alguma brincadeira feira por seu afilhado. Relevei.
Era Francisco da Zanzibar. Ele me convidou para conversar sobre o Fluminense, e me perguntou se eu teria interesse em participar de um grupo de estudos que se reunia semanalmente no clube para debater o Flu. Disse-lhe que talvez pudesse ir em alguma ocasião, perguntando onde eram os encontros para os debates. Ele pediu meu telefone de contato, passei e me despedi.
Dias depois, Zanzibar me respondeu no Whatsapp. Para minha surpresa, ou melhor, estranheza, ele me disse que os eventos periódicos aconteciam na sauna. Agradeci, mas dispensei o convite.
Dias depois, de forma inacreditável, fui adicionado a um grupo chamado “Sauna Flu”, onde todos os integrantes atendiam por codinomes efeminados. Pulei fora e bloqueei. Deve ter sido aquele coroa filho da puta quem fez isso. Deixa ele aparecer de novo no Bar do Pênis pra sentir o sabor da linguiça.”
VELHO BICHA
Carlos Clay, 27, boxeur, hetero
“Esse cara é um dos maiores filhos da puta que já vi. Sempre se pendurou no clube. Vivia azarando jovens jogadores, tomava banho com eles, dava calote no Bar dos Guerreiros, peidava mal a rodo dentro da Fluboutique, tinha a péssima mania de alisar os rostos dos funcionários. Eu odiava quando, ao chegar na portaria, o via no Senadinho: bastava eu me dirigir a caminho da piscina e esse boiola ficava fazendo fiu-fiu. Um velho bicha asqueroso que fica assediando todo mundo, rabo de fogo do caralho.”
MISÓGINO
D., 28, ex-funcionária, hetero
“Esse homem é detestável. Grosseiro, ignorante, fala gritando com as pessoas e mistura aquele perfume barato com um fedor que parece até de cocô, insuportável.
Várias vezes o vi dando ataques comigo e outras funcionárias. Uma vez chamou uma colega nossa de “negrinha atrevida”. Ele é racista, não tenho dúvidas, mas o racismo dele parece que é só com mulheres. Nunca o vi dar qualquer alteração com funcionários, apenas com as garotas. Eu preciso trabalhar, mas foi um alívio sair do Fluminense para nunca mais ter que ver esse vovô porco e mal educado.”
GRANDE TRICOLOR
Agnaldo Happybath, 40, adevogado, nem assumido, nem desassumido, apenas Agnaldo
“Chiquinho Zanzibar é um dos maiores tricolores de todos os tempos. Conhece os bastidores, as internas e os segredos das Laranjeiras. É um orgulho tê-lo em meu rol de amigos e, se um dia eu for o presidente do clube, Zan Zan terá um lugar de destaque no carro alegórico da gestão. Aliás, se ele quiser, pode ser o carnavalesco, porque tem um talento enorme. Andam dizendo que ele recebe remuneração do clube para alguns negócios, mas são calúnias: ele é um homem de grupo, de elenco, conhece os caminhos e é uma grande influência para mim.”
ORDEM E PROGRESSO
Garrastazu Hitler, 69, militar, feliz
“Francisco da Zanzibar representa a autoridade, a disciplina, o rigor que o Fluminense precisa no dia a dia. É um veterano do clube, tem experiência em gestão, é rodado no futebol e sabe a hora de falar grosso e falar fino. É um patriota, um homem de bem, um tricolor apaixonado e já deveria ter ganhado um busto no clube pelo conjunto de sua obra.”
LIFESTYLE
André Biron, 33, jornalista, sócio, hetero
“Chiquinho Zanzibar não é uma pessoa, mas um estilo de vida.”
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SUPOSITÓRIO DE CARNE FURIOSA
Com Esmeralda tendo viajado no feriado, Chiquinho Zanzibar teve o sábado livre. Não compareceu ao encontro com seu grupo político no clube, nem ao churrasco empresarial. Não foi visto em Laranjeiras. Não queria saber da politicagem suja, sua grande arte por sinal. Só pensava nos prazeres da gula e da carne.
Numa mistura de fome e tesão, ele foi ao Shopping Rio Sul e, na loja da rede de fast food Burger King, comprou dois sanduíches Whooper Duplo Furioso para viagem. O Whooper é um sanduíche sério, honesto, gostoso, grande e grosso.
Pegou o táxi no quarto andar e ficou bastante irritado quando percebeu que se tratava de uma motorista, mulher e com trejeitos lésbicos. Não é capaz de controlar sua misoginia em nenhum momento.
Sem dar uma palavra sequer com a condutora, chegou ao endereço, pagou a corrida, saiu sem agradecer, subiu, entrou em casa, deixou os dois sanduíches em cima da mesa e foi tomar banho.
Na volta, com o tradicional robe grená, sentou-se no sofá. Antes, havia pego apenas um dos sanduíches. Lanchou com sofreguidão, lambendo delicadamente a pele do rijo bife de hamburger, sorvendo os temperos e molhos. Ao mesmo tempo em que se alimentava, fazia da comida um ritual fálico, uma espécie de gastronomia do fellatio.
Terminado o prazer da alimentação, colocou o prato sujo em cima da mesa, pegou o segundo sanduíche e foi para o quarto. Deitou-se, tirou o robe e ficou completamente nu. Desembrulhou o Whooper, ficou em posição de conchinha e vivenciou sua perversão sexual no mais absoluto êxtase.
O sanduíche lhe tocando feito um pênis de pão, roçando-lhe as nádegas suavemente, até que o bife temperado acariciasse a entrada de seu ânus com mostarda, pimenta e especiarias estadunidenses. Uma devassidão de prazer pleno para a bicha nobre, até que ele começou a se acariciar na frente e atrás, sentindo o hamburger lhe fazendo mulher. Coisa de poucos minutos e a certeza do prazer homossexual cumprido com o urro lancinante que cortava o apartamento:
– FURIOSO, FURIOSO, ME COME CURIOSO!
O pobre sanduíche ali era um mero supositório de carne ao invadir a bunda decadente e gulosa do maníaco reacionário e quase enrustido. Não teve prazer; foi apenas o objeto de desejo gay ardente de um tirano afrescalhado.
Panorama Tricolor
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