JK: o massacrado que virou o improvável ídolo do Flu (por Wagner Victer)

Deixei pra escrever esse artigo sobre o JK antes da final que, independentemente do resultado, é algo importante para uma reflexão.

Gosto muito do JK e tenho uma história muito bacana de quando o conheci, quando ele tinha de 14 para 15 anos.

Quando fui Secretário Estadual de Educação, havia um programa chamado Lei Maria da Penha nas escolas desenvolvido com o MP. Um dia resolvi levar os garotos de Xerém e os garotos do Ninho do Urubu para assistirem uma apresentação sobre o programa, até porque existem muitos atletas que perdem sua carreira por conta de inaceitáveis práticas de violência contra a mulher.

Minhas equipes da Secretaria de Educação discutiam, in loco, como a Lei Maria da Penha poderia influenciar na vida dos garotos.

Óbvio que acompanhei de perto a apresentação para os garotos do Fluminense em Xerem, e naquela ocasião foi quando o conheci o menino JK. Desde então, me chamou muita atenção, primeiramente pelo nome e também porque naquela época já um garoto era muito engraçado, fazia intervenções diferentes e por isso comecei acompanhar melhor as partidas dele desde a base.

Em uma outra oportunidade, ainda como Secretário de Educação, levei a garotada de Xerem para visitar o Gamexp, que era um grande evento na Barra e, mais uma vez, lá estava ele muito animado e engraçado, e bati muito papo com ele, sempre chamando a atenção pelo seu estilo marrento e muito engraçado.

O fato é que, na vida, quando atuamos na educação é que acabamos criando algumas empatia com os garotos, quando gostamos do seu perfil e a vida nos oferece essa oportunidade de poder observar sua evolução.

JK ainda é um menino que tem 21 anos, um ano mais novo que meu filho Francisco. Vem de família humilde e tem aquele jeitão que pode levar a cativar o torcedor jovem, pois desde que chegou ao Flu ele não só se identifica com o Fluminense, como também acaba sendo abusado e provocando nosso principal rival, mas principalmente se tornando um “matador de urubus”.

Como existem os haters de Xerém, o JK foi um que viveu muito isso. Ele foi dito ser traficante, amigo de bandido, drogado, portador de arma, homem da noite e até que estaria com AIDS.

Ou seja, ele era permanentemente massacrado por aqueles que queriam criar um ambiente para trazer Bobadilhas da vida, Willians Bigode, Marroneys, Jesus, Piranis e outras barangas que foram buscadas pelo Fluminense somente para “agradar” empresários e enganar os tolos.p

Soa inexplicável seu empréstimo para o Ferroviária, que obviamemte não tinha nada com recuperação, até algo curioso, pois foi emprestado a um time do interior de São Paulo como se lá também não tivessem outros problemas para resolver ou como se houvesse uma melhor supervisão, já que esse time pertencia ao seu próprio empresário em uma operação estranha e ligada possivelmente a um contrato de gaveta para sua revenda.

Mesmo eventualmente não tendo chances no Flu, ele entrava, muitas vezes ficando poucos minutos, e até conseguindo fazer gols importantes, como os fez contra o Flamengo. Porém isso não se colocava como uma oportunidade contínua para ele. O caso se enquadra naquela lógica de que não podemos elevar os garotos de Xerém, pois vão fechar espaço para trazer as tralhas que nos interessam e que estão ligadas a outros empresários e, se esse jogador da base aparecer, dificultará sua venda para o exterior nas chamadas operações pontes. Essas operações inclusive marcaram diversas passagens de jogadores que se firmaram dentro do Flu, como o famoso caso do próprio André, que seria emprestado ao CRB ou dado ao Botafogo, e que se consolidou devido ao movimento da Covid e ao gol que ele fez contra o Flamengo.

JK, que recebe a camisa 9 do Fred, como uma grande marca, também na linha divina nasceu dia 18 de maio, no mesmo dia que o nosso Patrono João Paulo II, e virou a nova cara da torcida do Fluminense, especialmente dos jovens.

Sua comemoração do estilo garras de urso, que alguns marginais absurdamente tentaram inicialmente relacionar com apologia a algum traficante, ganha a criançada e todos nós que amamos o Fluminense já repetimos.

Seu estilo forte, aliado à técnica e frieza chama atenção. A comparação ao Romário é muito boa pelo estilo que o Romário sempre teve não só no futebol, mas em sua maneira franca de se colocar perante a mídia, o futebol e por gostar da noite. E por que não gostar da noite? Quer dizer que um jovem de 21 anos não pode gostar da noite?

JK quando se machuca durante o período de férias jogando uma pelada dentro de uma comunidade, aliás como todos os jogadores fazem, automaticamente associam ao tráfico, como se a maior parte dos jogadores do futebol brasileiro não tivesse vindo de comunidades e como se as comunidades fossem antro contagioso de marginais e não um local onde temos a maioria de pessoas de bem que são trabalhadoras.

JK é um tapa na cara dos coxinhas, dos nutellas que não conseguem enxergar um palmo à frente e pensam o Fluminense como um aceitável celeiro de manipulação de empresários, achando que isso pode ser feito.

Foi um grande absurdo completo terem massacrado JK. Ele é a cara de Xerém, é a superação e um ídolo que ficará na eternidade, independentemente do resultado da final.

JK é esse jovem que vi ainda garoto e que mesmo com todo destaque que hoje ganha para o mundo, para mim ainda continua sendo aquele menino que conheci anos atrás, mas que hoje veste com respeito à nossa camisa e que serve não só como referência, mas também para refletirmos como o futebol pode ter situações improváveis que calam os imbecis.

1 Comments

  1. Muito obrigado pelas belas palavras e acompanhas de carinho. Viva JK e que nos traga mais felicidades!

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