“Scooby-Doo! Where are you?”. Era assim, no desenho animado, que o lânguido personagem Salsicha procurava o simpático cachorro quando ele tinha um sumiço repentino. É óbvio que logo depois o notável cão surgia e o final era sempre feliz.
Infelizmente o espantoso sumiço não se resolve no campo esportivo tricolor com os chamados para o jovem lateral esquerdo da base, Jefté, sempre apontado como uma grande promessa. Aliás, vi muitas partidas dele na base do Flu, gostei muito e posso até afirmar que ele produziu, em muitos jogos, até mais do que o consagrado pelo Real Madrid, Marcelo, quando atuava na base, e que quando eu apontava como sendo potencial craque e clamava por sua escalação, diziam que ele era um mero ciscador.
O fato é que o jovem Jefté, inexplicavelmente ou talvez com uma explicação não confessável, não teve sequer uma chance entrando como banco no campeonato brasileiro ou até em campeonatos inexpressivos, como o Carioca. Muitas vezes os plantonistas analistas de defesa justificam uma eventual contusão ou que o atleta ainda não estar “maduro” ou usando a expressão melhor: “precisa ainda ser maturado”.
Enquanto isso não acontece, tivemos passagens tétricas de laterais pelo Fluminense. Não só o Orinho, devidamente celebrado na contratação por muitos. Depois, por uma dupla curiosamente oriunda do mesmo empresário: Egídio e Danilo Barcelos. O resgate do próprio Marlon foi até correto, mas o ciclo é rompido com outras operações de laterais como um tal de Raí, que diziam “jogar nas duas”, vindo do Americano para ser emprestado ao Bangu.
Agora mais recentemente surgem à tona outras lendas do “scout”: um jogador com passagens pelo Bonsucesso, Volta Redonda e CRB, nenhuma delas com destaque, e que veio despertar no elevado futebol técnico da Mondálvia, sendo descoberto às vésperas de completar 30 anos e o pior de tudo: vindo comprado por módicos 7 milhões cotados em euros. O rapaz atende pelo nome de Cristiano.
Da mesma forma, também na linha de quase trintão, aparece um jogador bastante limitado do Equador, que já veio “inchadinho”, com nome peculiar e que será difícil para cantar nos coros do estádio, chamado Pineida. Imaginem a musiquinha que vão cantar antes dos jogos: “Ohh, Pineida: aquele que aperta e não peida!”.
Tudo isso portanto parece que é feito na lógica de não proporcionar qualquer chance ao garoto Jefté.
Mas por que dar chance a esse garoto da base? Por uma razão óbvia: se ele decolar, vamos valorizar um ativo que nos trará ao mesmo tempo retorno esportivo e retorno financeiro para uma futura transação, especialmente numa posição muito carente no Brasil e no exterior. Portanto, merece ser testado e ter as suas chances antes de ser descoberto por aquelas operações jabaculescas para clubes da segunda divisão de Portugal.
Essa lógica psicopata e autofágica de base viro tipo um novo “Complexo de Vira-Latas Tricolor”, que o saudoso Nelson Rodrigues resgataria se vivo estivesse, e que fez com que tenhamos nos últimos anos trazido e mantido craques da meiuca como Yuri, Wellington Baiana, Hudson e até o já esquecido Henrique, enquanto um jovem com talento desde a base, que era o André, dormitava e era oferecido como um entulho tal qual a cama velha da saudosa vovó, que só ocupava espaços, mas que os espertos compradores sabiam que era feita de madeira de lei.
Essas loucuras tricolores merecem reflexão, pois não queremos obrigatoriamente que o Fluminense faça um raro replique da nossa divisão de base, mas não é nada demais planejar que nosso time possa permanentemente ter, atuando como titulares, de cinco a sete jogadores oriundos da base, sendo complementados com reais talentos captados, que sejam literalmente reforços e não jogadores reservas nos seus clubes.
Quanto a esse caso dos reservas, o conceito de “reforços” precisa ter uma visão bastante clara, pois dos cinco a sete novos anunciados/cogitados como brilhantes reforços, a maioria é de reservas nos seus clubes de origem. Até os craques do Atlético Mineiro que sonhamos são reservas de lá. O Fluminense como estratégia se reforça com reservas de outros clubes, aliás sempre caros e de meia idade.
Vamos em frente. Esperamos que pelo menos no início desse Carioca 2022, antes de evaporar o álcool que circula nas veias equatorianas, possamos dar uma chance para o Jefté no banco e que Salsicha realmente venha encontrar nosso Scooby-Doo em Xerém.
Feliz 2022.
Victer, e ainda há o Marcos Pedro, campeão brasileiro sub 17 em 2015 e titular do sub 20 neste ano e que teve o contrato renovado recentemente. Pela tv, achei bom jogador. Mais um a ser preterido pelos Ourinhos e Barcelos da vida…