O despertador toca e o torcedor de arquibancada levanta em alvoroço.
– Hoje é dia de Fluminense.
Todo o resto é apenas coadjuvante diante daqueles momentos no entorno do estádio, nos 90 minutos a gritar em pé ao lado da bateria, na descida da rampa, na cerveja de comemoração e resenha pós-jogo. As escadas de concreto do Maracanã são seu alimento. Sua voz ganha força. Sua vergonha fica longe, não é percebida, se perde em meio aos companheiros de jornada. O torcedor de arquibancada ama o jogo, mas gosta ainda mais é da presença, do sentimento de pertencimento, do orgulho de fazer parte de algo tão grande. É o corpo coberto de pó-de-arroz, o bandeirão, é a crença de que sua paixão faz a rede adversária estufar. Ele também é parte do gol.
Não há muito sentido para ele no jogo visto pela TV. É como se fosse outro esporte. O amor pelo Fluminense? É o mesmo. Seu ímpeto? É outro. Ele fica deslocado, inquieto, incomodado. Algo está fora de lugar e ele sabe muito bem o que é: falta a conexão entre ele e o gramado. Os jogadores não podem ouvir seu canto. Ele sofre com o afastamento. O time joga sem a mesma garra e ele tem certeza de que sua ausência é parte disso.
Entra o ano olímpico e ele só pensa que estará mais distante das suas querências.
Maracanã?
Engenhão?
Lá estarão Usain Bolt, Isinbayeva, Marta, Neymar… Onde estarão Fred, Cavalieri, Henrique, Diego Souza…? Em Volta Redonda? Espírito Santo? Brasília?
Pra onde vamos?
Aquele torcedor que junta suas moedas para pegar o trem, o metrô, o ônibus e saltar na Radial Oeste, acompanhando a procissão verde, branca e grená, para onde vai?
Fluminense deslocado. Fluminense perdido. Fluminense órfão.
Restarão alguns sortudos que terão o conjunto: dinheiro, tempo, disponibilidade.
Uma receita que abona poucos e que afastará a maioria por pelo menos um ano. O torcedor de arquibancada vive de incertezas.
A cerveja no Bar dos Esportes antes do jogo. Os jovens fanáticos cantando na descida da rampa. O metrô lotado de tricolores. O descanso justo após um dia inteiro dedicado ao Flu. Nada disso fará sentido.
Incertezas.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @nestoxavier
Imagem: ex/pra
Excelente texto. Vivemos um ano de incertezas, companheiro Ernesto!