Ídolo e vilão (por Mauro Jácome)

224 - 03122014 - Ídolo e vilãoSituação difícil. Não sei bem o que pensar. O antagonismo é forte, muito forte. Por um lado, ele desperta em parte da torcida sentimentos ruins, às vezes de revolta, por inúmeros acontecimentos dentro e fora de campo. Por outro, desde que chegou, quase todos os grandes momentos vividos pelo Fluminense passam por ele. Talvez, depois de Romário, tenha sido o personagem que mais trouxe os holofotes para dentro de Álvaro Chaves, 41. Ídolo e vilão numa mesma pessoa. Assim é Fred.

Fazendo uma revisão desses últimos seis anos, surgem na lembrança situações marcantes. Positivas e negativas. Diversas. Ao seu lado, muitos apareceram, fizeram história, deixaram saudades: Deco, Washington, Cuca, Maicon, Abel, Nem; outros não: Muricy, Emerson.

Para estabelecer o paralelo entre as personalidades de Fred, revisitei sua trajetória e pincei os fatos que mais saltaram aos meus olhos:

– Arrancada contra o rebaixamento em 2009. No comando daquele time, que estava em frangalhos, fez partidas fantásticas, gols memoráveis. Arrastou multidões ao antigo Maracanã. Mosaicos, cantos, coros e festas. Tudo à beira do abismo. No entanto, muitos se lembram da quantidade de jogos em que ficou fora, machucado. Talvez a situação desesperadora não tivesse acontecido caso o artilheiro se cuidasse melhor. Paralelamente à épica fuga do rebaixamento, o mata-mata da Copa Sul-Americana. Guerra. E o líder estava à frente do batalhão. Onze pareciam mil. Pedradas, altitude, corredor, Maracanã. Também festas e cores. Reverter a goleada parecia impossível, menos para aquele grupo, menos para ele. Quase deu. No entanto, uma expulsão infantil estancou a brilhante e, ao mesmo tempo, avassaladora reação, deixando o Fluminense a poucos metros de um título importante para aquele momento mágico. Se não tivesse sido expulso… Mesmo assim, Fred já era idolatrado por milhares de crianças, puras e alheias aos problemas. Também suspiros e mais suspiros femininos.

– Veio 2010 e grande parte daquele time que ficou marcado como sendo de Guerreiros conquistou o Brasileiro. Campanha difícil. Corinthians e Cruzeiro na cola. O Fluminense, comandado por Conca, chegou à frente. O pragmatismo de Muricy e a genialidade do argentino são apontados como os principais fatores do título. E Fred? Ficou fora na maior parte do campeonato. Não fosse “O Fred”, passaria despercebido. Ali, ganhava corpo a fragilidade física do atacante. Ali, a falta de comprometimento, as noitadas e as farras eram citadas como ingredientes principais para as constantes ausências.

– Em 2011, naturalmente, o Fluminense, campeão do ano anterior, entraria no Campeonato Brasileiro como favorito. No entanto, a campanha era irregular. Até a 19ª rodada, em agosto, o time acumulava 10 derrotas e ocupava a 11ª posição. E onde Fred entra nessa história? Entra com os 60 “caipisaquês”. O escândalo derramou o Fluminense nas manchetes. O péssimo momento do time coincidia com o episódio. Aumentaram, significativamente, as restrições junto à torcida. O ídolo ganhava um forte inimigo: o vilão se personificava. Os dois Freds caminhavam firmes, de braços dados; cada um arrastando uma multidão de tricolores. A partir da 20ª rodada, o Fluminense engatou 12 vitórias e terminou em 3º lugar. E dessa vez, o que Fred tem a ver com isso? Fez 19 dos seus 22 gols em todo o torneio nos 19 jogos restantes. Cresceu o ídolo, mas o vilão remoía parte da torcida naquele pensamento que se tornava recorrente: se o comprometimento fosse desde o início…

– O ano de 2012 foi perfeito. Ou quase. Sempre tem um “porém”. Não me lembro de algum no momento, mas se vasculhar, acho. Carioca e Brasileiro. No torneio nacional, fez de tudo: artilheiro, melhor jogador, líder, campeão incontestável. Ali, fixou seu nome como o melhor atacante brasileiro ao lado de Neymar. O parceiro ideal do jovem craque na Seleção Brasileira. Copa do Mundo à vista. Titular absoluto. Nunca o ídolo se espalhou tanto. Falava-se de Fred ininterruptamente. O vilão parecia derrotado.

– Mais uma vez, o Brasileiro seguinte a um título deveria ser de luta pelo bi. No entanto, 2013 foi trágico. Um estadual fraco e uma eliminação nas quartas de final, para o Olímpia, na Libertadores foram somente aperitivos para um Brasileiro intragável. Ao fim das 38 rodadas, o Fluminense estava na zona de rebaixamento. Fred & Cia conseguiram a proeza de afundar na segunda divisão um time campeão. E Fred? Jogou, somente, nove partidas: perdeu cinco, empatou duas e ganhou outras duas. Fez três gols. Isso mesmo, somente três gols. Em compensação, foi um dos principais nomes da Copa das Confederações. Obviamente, era inevitável o comentário: se poupava no Fluminense pensando na Seleção. Se “na pátria de chuteiras” o ídolo cravou seu nome, no Fluminense o vilão ganhou do ídolo. Com sobras.

– Chegamos a este ano. A desconfiança era grande. O final de 2013 e as contusões colocavam dúvidas na participação de Fred na Copa do Mundo. Ao lado de Neymar, o jogador tricolor era titular em qualquer tentativa de se adivinhar o que se passava na cabeça do Felipão, mas havia a ressalva quanto à grave contusão que ainda persistia às vésperas da convocação. Corria sério risco de ficar de fora, mas conseguiu e foi para a Copa. Fiasco total. O vilão transcendeu as Laranjeiras. Justa ou injustamente, foi execrado em todos os cantos, capitalizando, ao lado de Felipão, a ira e o deboche do torcedor brasileiro pelo vexame. A recente condição de ídolo nacional foi batida pela de vilão. Grande parte dos tricolores tomou as dores de Fred. Até recepção especial houve. O ídolo falou alto. Neste Brasileiro pós-Copa, desandou a marcar gols: 15. Antes, só havia balançado as redes duas vezes. Para surpresa geral, inclusive dos fãs, Fred ressuscitou. Poucos imaginavam uma volta por cima, muitos decretaram seu fim. Está aí: a uma rodada do final, deixou para trás os concorrentes e, parece, terminará o campeonato à frente na tábua dos artilheiros. Óbvio: os fãs atribuirão o fato à qualidade de jogador, de artilheiro; os inimigos, à baixa qualidade do futebol doméstico.

Independentemente do que faça, hoje, ante aos últimos acontecimentos, o vilão parece estar mais vivo do que nunca. Os confrontos com parte da torcida estão cada vez mais fortes, a ponto de Fred conceder coletivas à beira de campo esculhambando quem aparecer pela sua frente: os desafetos das arquibancadas, os dirigentes, os setores da imprensa. Fred se afasta um pouco da condição de ídolo e faz crescer a de vilão.

E o futuro? Para os que, ainda, o veem como ídolo, com a saída de vários jogadores, Fred seria fundamental para manter um mínimo de qualidade para 2015. Para os que rangem os dentes a cada pronunciamento do atacante, seu ciclo acabou e, pior, contaminou o grupo e a campanha irregular deste ano se deve, em grande parte, aos seus caprichos e insatisfações.

E o futuro? Difícil prever quem vencerá ao final: o ídolo ou o vilão. Aliás, quando será esse final? Agora, amanhã, ano que vem, nunca?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @MauroJacome

Imagem: globoesporte.com

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6 Comments

  1. Melhor texto do ano. Parabéns, Maurão!!!

    PS: meu pensamento é igual ao dos replicaram respostas: quero o FRED ainda no Fluminense, mas o FFC é muito maior do que qualquer um jogador dele.

    PS2: Viva o Conca!!!!! Ídolo, ídolo, ídolo, mais do que qualquer um outro!!!!

  2. Sinceramente, o FRED é um cara enigmático! Essas declarações dele… não dá pra saber se o cara tá cavando sua saída, se realmente está incomodado com a situação do clube, ou somente a sua… Mas acho que o que acomete o FRED é o mesmo mal que acomete à marioria esamagadora dos jogadores de futebol atualmente, qual seja, ELES SE ACHAM MAIORES DO QUE O CLUBE! E pior, os clubes se apequenam diante desses caras!!! Cadê o Presidente do FLU pra chamar um cara desses e dizer: ô rapaz, baixa sua bola!

  3. Acho que o casamento acabou! É hora de seguir seu rumo! o tempo da fartura acabou! Não dá mais para salário de 900 mil. Que ele vá em paz para que possamos olhar pro poster de campeão sem repulsa.

  4. Ótimo texto… Um dos melhores, senão o melhor, que ja li a respeito dessa situação atual do nosso tricolor.. Fred, para mim, enquanto corresponder dentro de campo, deve ficar. Assim como muitos criticam o cavallieri e o mesmo nos salvou de sermos goleados em muitas partidas este ano, inclusive na goleada contra o Corinthians. Sabe o que faz falta de verdade? A aposta nos jogadores da base. No atual elenco temos apenas o marlon, jogador que aprecio muito e tem grande futuro.

    *** Antispam…

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