Havia um tempo… (por Walace Cestari)

Havia um tempo em que éramos cinza e branco. Pioneiros. Visionários. Trocamos a preferência alheia por remos e água pela bola e a grama. Superamos o críquete, introduzimos uma nova modalidade. Mostramos o norte para todo um esporte. Vencemos o preconceito contra a bola no pé. Formamo-nos como gentílico de todo um povo. Fizemo-nos Fluminense.

Havia um tempo em que éramos aristocratas. Amadores apaixonados por excelência. Calçávamos o burro que puxava a niveladora do gramado com luvas de veludo. Construímos uma casa para o futebol. Inventamos o público e a arquibancada. Fomos o berço do futebol brasileiro. Parimos a seleção pentacampeã do mundo.

Havia um tempo em que éramos absolutos. Invejados. Imitados. O paradigma de clubes brasileiros e estrangeiros. Canônicos. Fidalgos, respeitamos as regras do prélio. Multiplicamo-nos e fomos a base para o desenvolvimento de outros tantos esportes. Éramos o símbolo da disciplina e da organização. O mundo foi obrigado a reconhecer e a premiar tamanha contribuição.

Havia um tempo em que éramos soberanos. Favoritos. Sempre o time a ser batido. Reinávamos nos gramados, derrotávamos adversários, colecionávamos títulos. Forçamos, com nossa grandeza, os adversários a tornarem-se grandes. Criamos os clássicos e impúnhamos nossa superioridade nos derbys.

Havia um tempo em que éramos mágica. Ficção. Rodeado de personagens sobrenaturais, tínhamos vida própria na literatura. Ajeitávamos a gravatinha para manter nossa aparência impoluta. Sempre calçados com as sandálias da humildade. Ultrapassávamos as quatro linhas. Ganhávamos todo um universo. Em prosa. E na pena de outros, em verso. Cantados e decantados, criamos menestréis. Fomos, também, a arte.

Havia um tempo em que éramos máquina. Atropelávamos adversários, desintegrávamos resultados. Reduzíamos a pó a esperança das contendas. Oponentes tremiam ante nosso manto tricolor. Ou branco. Colecionávamos vitórias. Santificávamos resultados. Semeávamos craques. Colhíamos títulos. O pó de arroz cobria-nos nas arquibancadas e na alma.

Havia um tempo em que éramos vergonha. Caídos. Pensamos que nossa aristocracia bastasse ao mundo. Esquecemos de nossa esportividade. De nossa disciplina. De nossa organização. Experimentamos as dores humanas. Fomos faustos. Terra arrasada. Largamos nossa história. Vivemos nosso pesadelo. Drama. Tragédia. Chegamos ao fundo.

Havia um tempo em que éramos fênix. Brilhantes. Matamos os ares aristocráticos para renascer guerreiros. Vencemos adversários e imprensa. Contrariamos expectativas e calúnias. Lembramos a todos a grandeza que é só nossa. Limpamos o terreno e reconstruímos nossa identidade. Fizemos adversários tremer diante de nós. Voltamos a ser o que sempre fomos: campeões.

Havia um tempo em que éramos poucos. Depois milhares. Então milhões. Já fomos o comportamento exemplar. E também quebramos vidraças francesas. Choramos. Sorrimos. Abandonamos as arquibancadas. Criamos os rabugentos. Voltamos. Entendemos nosso papel. Abraçamos os nossos nas derrotas. Quando se imaginavam pedras, ofertávamos carinho.

Há um tempo agora. Feito por nós. Das várias páginas do clube, escrevemos no presente o que queremos que seja lembrado no futuro. O Fluminense sempre foi mais de onze. Sempre foi o pulsar de sua arquibancada. O tempo de agora nos dá a opção de virarmos as costas para nossas três cores. Ou não. Cabe a escolha. Há um tempo em que podemos ser diferentes. E esse tempo é o hoje. É a hora em que podemos ser tricolores. De verdade. É nossa a alternativa de construir as vitórias. De guerrear junto ao time. De fazer a diferença e ser o que sempre fomos: a história.

Walace Cestari

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

13 Comments

  1. Só posso agradecer a todos por todas as palavras elogiosas que recebi. Muito obrigado!

  2. Haverá um tempo em que olharemos pra trás e acharemos engraçado o nosso momentâneo e incurável pessimismo, quando nosso time receber a taça de campeão da Libertadores.

  3. Maravilha!
    Merece ser musicado por algum TRICOLOR mestre da música; quem sabe Ivan Lins ou Arthur Moreira Lima?!?!?!
    Para ficar pra sempre, nada como belas linhas emolduradas por uma bela música!
    Saudações TETR4-TRICOLORES!!!!

  4. Façamo-nos, cada vez mais, SÓCIOS DO FLUMINENSE, para ajudarmos a criar bases para lhe garantir o mesmo futuro de pioneirismos e glórias!

Comments are closed.