Gotham City tricolor (por Alva Benigno)

ATENÇÃO: CENAS DE INSINUAÇÃO HOMOERÓTICA. 

Sábado de ferveção, intensa movimentação e conversas no clube. É hora de política e o Fluminense é um incêndio no palco dos debates. Claro que a nossa bicha oficial lá estava, nem tão preocupada com os destinos das Laranjeiras mas sim com os próprios benefícios. Chiquinho Zanzibar ama o Flu do jeito dele, mas sua grande paixão é Zanzi F.C.

Tão logo chegou em Alvaroxavis, deparou-se com belas militantes pagas e fez biquinho de nojo: “Ô, gente pobre! Em vez de colocar meus beninos aqui, deixam essas bocreias no caminho. Eu teria trazido o Paulinho Glandão da Xavier da Silveira para ornamentar essa portaria. Gentinha…”

Olhou para o Senadim e avistou seu algoz da paixão: o maldito Careca 27,5 em pleno discurso, com seu crânio de pele brilhante e brações nodosos a sugerir sonhos danadinhos. Virou a cara, sentiu-se uma Miss Brasil dos anos 1960 e seguiu em frente rumo ao seu próprio Maracanã – a sauna. Vazia que estava, resolveu tentar jogadas de ataque no Bar do Tênis. Antes, deu uma espiada no churrasco do Pavão, mas não sentiu clima para forçar seu jogo ofensivo: a concorrência da escroqueria era muito grande.

Passou pelo banheiro e, possuído pela N.I.A, sigla da Necessidade Incontrolável de Aparecer, resolveu dar pinta: abriu a frasqueira e se montou para o acontecimento. Rouge dali, batom de lá, parecia uma explosão de breguice: saiu do cabine e se autoproclamou o Coringay. Era dia! Olhou para o espelho, colocou o doce debaixo da língua e logo virou um foguete interplanetário. Tudo bem: fogayte.

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Chegou no Bar do Pênis lotado, avistou os diversos grupos em campanha, cumprimentou seus comparsas de ocasião, mas não se ficou em nenhuma mesa, preferindo circular em busca de eboções e oportunidades diferentes, só que o jogo não estava entrando. Ninguém se aproximava, sua montagem não tinha surtido efeito, até que viu um jovem sentado e pediu ao garçom que lhe entregasse um torpedo com os seguintes dizeres: “14:15 na sauna, depois no Serrano. Duas horas, cem reais”. A bicha muquirana viu quando o rapaz amassou a cantada escrita e a jogou num prato a ser recolhido. Ficou bege.

O doce começou a fazer efeito e o bar virou um grande circo cor de rosa para Chiquinho, cada vez mais imponente e convencido de que era o Coringay. Começou a falar sozinho, gesticular, sentia-se um George Michael da terceira idade enquanto os grupos conversavam e ninguém lhe dava bola ou mole. Mergulhando de vez nas profundezas lisérgicas, ele começou a ver a terra girar a rodo, com as cadeiras saindo do chão como se fossem Transformers, e aí é com ele mesmo.

Já no fim da tarde, uma grande desilusão. Reconheceu Nenê de Lucas, um grande prócer tricolor, e nele viu uma chance de aproximação, quem sabe a oportunidade de ganhar um supositório de carne. Talvez uma ficada. Tomou coragem, chegou perto, trocou ideia e logo quis bancar o polvo tentando um abraço romântico.

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Não deu certo. Com o doce na cabeça, Chiquinho passou a ver no atraente homem da abominável zona norte a figura de ninguém menos do que seu segundo maior alvo de ódio: Bruce Wayne em trajes oficiais – o Batman. Bolado, o cavalheiro abordado lhe deu um toco inquestionável: “Sai pra lá, filhão. Tu é gay que eu sei”.

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Deprimido em seu mundo entorpecido pelo ácido, Chiquinho quase chorou ao ver seu Homem Morcego de saliente sunga preta. Era um rejeitado, um desprezado. Baixou a cabeça, deu meia volta e ainda tentou parecer altivo com o decadente andar rebolativo no meio do bar, sem qualquer efeito relevante.

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Desprezado no Bar do Pênis, ignorado por suas monas, doidão de ácido e sem vontade de ir para casa com as mãos abanando, sua última chance no final do expediente era tentar a sorte com a turma do Pavão. Foi o que fez. Ao avistar de longe uma suculenta picanha, aproveitou para fazer uma boquinha de graça, típica do universo zanzibariano. E muitos dos homens presentes eram seus correligionários até bem pouco tempo atrás. Sorriu para um deles perto da churrasqueira, seu velho conhecido de mil histórias. O ácido fez a festa.

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Apetitoso para Zanzi, o bardo da carne já tinha virado o Super Homem na cabeça da bicha velha reaça. Mandou logo a letra do cachê, cem reais por duas horas. O super herói dos sonhos de Chiquinho foi contundente: “Para de palhaçada, tia velha. Quinhentos reais sem frescura, e se der um pio eu te processo e o caralho!”.

Um escroque de verdade nunca sai derrotado: “Pavãozinho da Marvel, vem logo e cala tua boca que do teu lance eu sei. Tenho todos os teus e-mails. Tu processa é minha rola.”

Olharam um para o outro. Ficaram sérios demais e imediatamente gargalharam feito duas safadas. Desceram, passaram separados pelo Bar do Pênis e desapareceram no horizonte depois das quadras. O futuro a Deus pertence. O Coringay lisérgico venceu a caça homo no final. Um fim de sábado muito doce.

Que fim levou o Robin?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: heroes

#ProcessaMinhaRola