O futebol está podre (por Felipe Fleury)

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A realidade do futebol – fora das quatro linhas – é podre. Pudemos sentir o cheiro fétido que dele exala, ainda que guardadas as proporções devidas, dos recentes episódios envolvendo a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro. Se acreditarmos, porém, que a escória que comanda o esporte bretão se resume a Rubinhos e Euricos, estaremos muito enganados.

No âmbito regional eles são – imagino – o que de pior deve haver. Mas há muito mais escroques por aí. Desde que o futebol se tornou um grande negócio, graças a João Havelange, eles se multiplicam, ávidos por dinheiro e poder. Estão nas federações regionais, nas confederações nacionais, nas continentais e até – e principalmente – na própria FIFA.

A operação deflagrada no dia 27 de maio, e que decorre de investigação iniciada nos Estados Unidos da América, é prova disso. São 14 réus – sete foram presos, dentre eles o ex-presidente da CBF, José Maria Marin – cujas acusações abarcam, em síntese, fraudes, extorsões e lavagem de dinheiro, além de “suborno” para a escolha do país sede da Copa do Mundo de 2010 – África do Sul.

Quem acompanha o futebol de perto, inclusive os seus bastidores, sabe que não há qualquer novidade nisso. Escândalos de corrupção da FIFA são antigos e vão desde o triste episódio das bagagens dos jogadores brasileiros recém-chegados dos Estados Unidos após a conquista do mundial de 1994 até o pagamento de propinas aos dirigentes por empresas de marketing esportivo, com o intuito de conseguirem elevados contratos para divulgarem competições futebolísticas e ainda passam pela “farra dos ingressos” para as competições mais importantes, bem como recebimento de suborno para aprovarem países ou cidades sedes dos campeonatos continentais, por exemplo.

Segundo a Procuradora Geral dos EUA, Loretta Lynch, a interveniência daquele país decorre da prática dos crimes em território norte-americano, ante a utilização do seu sistema financeiro e a burla da legislação local. Acrescentou que a investigação não parará por aí, deixando uma clara mensagem à FIFA e a outras instituições ligadas ao futebol de que, com eles “o buraco é mais embaixo”. Imagino que a fala da Procuradora americana deve ter produzido efeito imediato nos grandes tubarões do futebol.

Ricardo Teixeira, por exemplo, que já não vinha mais ao Brasil, talvez esteja articulando a venda de sua mansão na Flórida a fim de procurar outro recanto paradisíaco para dilapidar os milhões que usurpou enquanto presidente da CBF e membro do conselho executivo da FIFA.

A sujeirada levantada pela operação do FBI é apenas a ponta do iceberg. O futebol é comandado por tubarões que se vendem para privilegiar interesses de grandes empresários ligados ao marketing, presidentes de países, sheiks etc. O futebol mesmo, esse que se joga nas quatro linhas, fica em segundo plano. O que importa é o tamanho das arenas, o preço dos ingressos, as receitas da exposição das marcas, o lucro das entidades futebolísticas.

Na verdade, os americanos poderiam ter economizado tempo e dinheiro promovendo uma investigação que durou cerca de três anos e que envolveu todo o aparato logístico e tecnológico que conhecemos dos filmes e séries trazidos até nós. Tudo o que era necessário saber tem sido divulgado há anos por um senhor escocês chamado Andrew Jennings. Responsável pelo portal Transparency in Sports (transparencyinsports.org), esse repórter investigativo é a pedra no sapato dos poderosos da FIFA. Todas as falcatruas, toda a imensa podridão que envolve o mundo do futebol foram por ele denunciadas, em razão do que recebeu a alcunha de “Inimigo número 1 da FIFA”.

Se desejarem conhecer um pouco mais sobre a sordidez que é o futebol, leiam “Jogo Sujo – O mundo secreto da FIFA”, de 2011 e “Um Jogo Cada Vez Mais Sujo”, de 2014, ambos de Andrew Jennings ou “Jogada Ilegal”, do português Luís Aguillar, que trata mais especificamente das falcatruas que envolveram as escolhas das sedes das Copas do Mundo do Qatar e da Rússia.

Eu li e o futebol acabou um pouco para mim. Não fosse a paixão tão arraigada que nutro pelo Fluminense, teria desistido.

José Maria Marin e alguns outros foram presos, mas há muito mais por aí. Trata-se de uma verdadeira organização criminosa que há anos desenvolve práticas nefastas envolvendo a malversação de quantias milionárias, o enriquecimento de seus dirigentes e a destruição do futebol. Agora que os EUA estão envolvidos, possivelmente alguns desses maiores bandidos serão capturados, dentre eles o próprio Blatter.

E se forem um pouco mais a fundo, a rede também trará Ricardo Teixeira e Havelange. Se o leitor, por acaso, acredita que Havelange é inocente de toda essa acusação de roubalheira, basta ler os livros acima indicados e fatalmente mudará a sua opinião.

Se as nossas autoridades constituídas tiverem um pouco de vontade política, aproveitam o ensejo e desencadeiam já uma ampla investigação – informação é o que não falta – que apure as responsabilidades dessa corja de dirigentes nefastos que apenas se locupletam do futebol. Poderiam começar pela federação deste Estado, averiguando-se os malfeitos praticados por Rubinho e seu cupincha Eurico Miranda, passar pelas demais Federações e atacar o tubarão-mor Ricardo Teixeira – uma vez que, segundo as informações da polícia norte-americana, as patifarias datam, pelo menos, desde o ano de 1991.

Vale lembrar que até mesmo uma CPI foi instalada em 2000/2001 para apurar os desvios de conduta de Ricardo Teixeira, não tendo obtido êxito, contudo. No caso, uma investigação isenta deveria partir do Ministério Público, sob pena de transformar-se em mais uma encenação para a mídia e para todos nós, amantes do futebol.

Os interesses de grandes corporações internacionais, como a Nike e os lobbys de políticos ligados à bancada da bola podem ser um empecilho e um caminho para a impunidade, mas não se pode deixar de tentar fazer história passando a limpo o futebol no Brasil.

As causas do malfadado 7 a 1 estão aí, para quem quiser ver. É preciso expurgar do comando do futebol nacional esses bandidos travestidos de dirigentes. E para ontem.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FFleury

Imagem: dinheiro vivo

RÁDIO PANORAMA 28 05 2015 ESCÂNDALO BRASILEIRÃO 2013

4 Comments

  1. Bom dia Fleury. Infelizmente, onde entram nossos patrícios, a roubalheira e corrupção imperam. Foi só o Havelange entrar na FIFA para começar a patifaria, que continuou com o seu ex-genro. É lamentável tudo isso.

    1. Uma verdadeira organização criminosa, José Roberto. Um abraço e ST

  2. Do futebol nacional só, não! Futebol mundial!

    Aliás, não só o futebol.

    As esferas de poder no mundo estão podres, carcomidas, corrompidas, num vale-tudo pelo dinheiro. Terrível.

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