O dia 19 de outubro de 1902 é uma data especial para o Fluminense; afinal, trata-se do primeiro jogo da nossa história com uma goleada fragorosa de 8 a 0 sobre o Rio Football Club (gols de Horácio Costa Santos (3), Heráclito Vasconcellos (2), Félix Frias, Eurico de Moraes e Adolpho Simonsen) e a desmoralização de um adversário peculiar.
Essa derrota do Rio Football poderia ser encarada como um placar comum, mas havia uma questão de fundo que envolvia a relação dos clubes: o nome e o que se pretendia com o futebol na, então, capital da república brasileira. Mas antes de falarmos sobre isso e a criação do Flu, temos que resgatar algo anterior: os amistosos de Oscar Cox e amigos nas terras paulistanas em 19 e 20 de outubro de 1901, onde arrancaram dois heróicos empates (2 a 2 e 0 a 0). Um placar surpreendente para os garotos do Rio de Janeiro, ainda engatinhando naquele novo esporte. Nesse amistoso, os meninos se autodenominaram de Rio Team contra os paulistanos chamados São Paulo Scratch.
No retorno da viagem, empolgados com o placar e com a desenvoltura da equipe, os novos praticantes do football estavam decididos a criar um clube para a prática dessa modalidade. O nome? Praticamente, o mesmo que usaram em São Paulo: Rio Foot-ball Club. Logo, organizaram uma reunião em 30 novembro de 1901, que seria totalmente esvaziada.
Esse fenômeno foi tratado como um pormenor pelos presentes, que estavam mais preocupados, naquele primeiro momento, em exercer a prática do futebol, do que, necessariamente, insistir na criação de um clube de forma atabalhoada. Daí, partiram para mais amistosos em São Paulo no ano seguinte, em julho de 1902. Ficaram encantados com o Estado vizinho que já tinha um campeonato próprio para a prática do esporte, imaginavam que poderiam fazer o mesmo pelo Rio de Janeiro.
No retorno ao Rio, estavam determinados a uma nova reunião para a construção de um clube especificado para a prática do futebol, porém, tal qual foi a surpresa quando souberam que um sujeito chamado João Ferreira (presente na primeira reunião) havia se juntado a um gringo inglês, sócio do Payssandu Cricket, chamado T. Mackintosh para sorrateiramente fundar um clube de futebol no dia 12 de julho com a reunião no Club de Natação e Regatas na Rua Santa Luzia (na antiga Praia de Santa Luzia, onde hoje seria o Aeroporto Santos Dumont).
Porém, a empáfia desses senhores viria a esbarrar em algo fundamental: a estrutura. Cox quando propôs construir um clube para a prática do futebol, havia travado contato na Suíça e Inglaterra com os alicerces daquele esporte, então compreendia que para sua prática existia desde coisas simples: o respeito a um manual de regras, como até complexas, um campo de futebol nivelado, por exemplo.
O Fluminense viria ser criado dias depois (21/07/1902), mas dessa vez, teria ampla convocação e uma reunião animada com 20 presentes que escolheriam o presidente do novo clube, Oscar Cox. O número de associados cresceria vertiginosamente em poucos meses – lógico que um espaço na Rua das Laranjeiras, após o aluguel de um terreno, com o fim de construção de um campo de futebol, fortaleceria a adesão para os curiosos com o novo esporte.
De qualquer forma, precisava-se ir às forras contra os oportunistas que usurparam o nome, e a goleada mostrou que o novo clube não havia criado aquele esporte por capricho, que iria se empenhar no mesmo, algo que se evidenciou anos, décadas e um século depois. Quanto ao Rio Football, naturalmente foi se desfalecendo. A prática do futebol não era barata, nem sempre os associados do Paysandu viam com bons olhos a prática do futebol no seu campo, a bola de couro era artigo importado de difícil acesso, sede então, sequer tiveram (o Club de Santa Luiza, onde fizeram a reunião, se preocupava apenas com o pólo aquático, natação e remo, esportes terrestres, no máximo, um turfe no domingo e olhe lá!).
Coube ao Rio Football se limitar a um clube itinerante, disputando “peladas” pela cidade contra clubes de pouca ambição em se desenvolverem. Enquanto o Fluminense fundava a Liga Metropolitana de Football (LMF) em 1905 para a realização de um campeonato regional no ano seguinte, coube ao apressado usurpador do nome se filiar a União Sportiva Fluminense, um entidade que viria organizar um campeonato em 1907 com agremiações mais preocupadas em se divertir com jogos esporádicos do que se comprometer com o avanço do esporte.
Por fim, no final das contas, o Rio Football Club nos prestou um favor enorme. Num clube representativo de todo o Rio de Janeiro e que iria se ampliar para o país, a ideia do Fluminense (de fluvial, Rio) ou de morador do Estado (cabe qualquer versão) viria nos contemplar.
Flu, Fluzão, Nense e os derivados do nome original sairiam muito mais poéticos na boca dos torcedores do que um nomezinho com apenas três letras…
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Parabéns pelo excelente texto, Valença!