Fome de gol (por Crys Bruno)

bola2015

Na última semana, nós vimos o Fluminense funcionar contra o São Paulo e, simplesmente, contra o Cruzeiro fazer uma partida “medonha”, como definiu bem minha querida amiga Nathália Torezani.

Essas duas atuações fizeram muitos torcedores mencionarem a bipolaridade do time. Mas será que ainda temos o lado eufórico? Começo a achar que essa bipolaridade está entre o sofrível e o catastrófico. Teríamos dois lados, duas caras ou uma só?

O Fluminense não faz uma boa partida há muito tempo (fez alguma esse ano?). Nem quando ganha. Fazer boa partida é se impor, dominar o adversário, ser soberano, dono do jogo. A maioria, inclusive nas vitórias, tem a face do sofrível, mesmo quando figurou no G4. Foi assim lá trás contra o Goiás, Atlético-PR, Flamengo, Cruzeiro… 

Outro fator estarrecedor é que, exceto contra Goiás e São Paulo semana passada, dificilmente vencemos com dois gols de diferença. É um time que não gosta de fazer gols porque joga noventa minutos vidrado em não levá-los. 

Modelo de jogo e postura de time pequeno. Isso não é futebol moderno. Nem novidade tática. Isso é retranca, normalmente utilizada pelos “peixinhos” contra os “tubarões” na Europa. Eu acho detestável, tenho a maior má vontade com essa postura, me faz sentir torcedora do XV de Piracicaba enfrentando o Corínthians.

Mas é o modelo usado pôr praticamente TODOS os técnicos brasileiros. No Fluminense, um atacante avançado com os dois jogadores no lado do campo sendo escalados ali para marcar os laterais adversários, ao invés de lhes explorar às costas; os meias recuam tanto que viram cabeças-de-área e com a bola não há pernas para jogar como deve ser, infiltrando-se na grande área ofensiva ou indo à linha de fundo.

No caso do nosso Tricolor, com agravante: como Fred é um centroavante com finalização muito acima da média, os técnicos costumam abusar da ausência de fome de atacar, de “agredir” o adversário, pressioná-lo na defesa deles. A fome é obsessiva para não tomar gols.

Como mencionei nos últimos posts, Eduardo Baptista tem essa filosofia de jogo (retranca) como seus dois antecessores, Enderson e Drubscky. Só se difere em mostrar que sabe encaixar a caracteristica do jogador na posição do campo, como quando abriu Marcos Jr. e centralizou o Gérson. Pena que este, segundo volante como Cícero, está muito avançado e novamente fora de posição, devendo dar o lugar a Vinícius ou Osvaldo. 

Jean e Cícero são cabeças-de-área, não meias, como apostaram Drubscky, Enderson e tantos outros. Falando nisso, outro ponto positivo do atual técnico: preferir a qualidade técnica aos brucutus. O que já deixou a impressão de que houve melhora no time contra o São Paulo, porque nossos atuais volantes dão qualidade ao passe.

Mas a fome de ataque inexiste. O pavor para evitar tomar gols vai continuar a ser o primordial, fundamental, essencial, igualmente, com nosso recém-contratado treinador. Isso é cansativo e desanimador. Desequilibra o Fluminense. 

Marcar bem, marcar muito, é importante, claro, mas quando você posta seu time para fazê-lo somente entre o seu goleiro e a intermediária defensiva, está desequilibrando, jogando excessivamente atrás, dando um espaço de quase setenta metros para o adversário respirar, pensar a jogada.

Marcar bem e marcar muito é tão importante quanto criar e finalizar, tentar o gol, NUNCA MAIS IMPORTANTE. Aliás, quando você adianta ofensivamente, é até compreensível já que SÓ VENCE QUEM MARCA… GOLS! O Fluminense entra em campo para marcar o adversário.  Gols? Uma bola ou outra para o Fred. Ponto final. 

O repertório é o mesmo. O time tem uma nota só. É assim desde quando mesmo? 2011? 2013? O estudo para se formar técnico de futebol no Brasil parece se resumir em aprender a tática: “Como não perder para se manter no emprego”. Não ser derrotado é a obsessão dos nossos técnicos e, também, do Eduardo Baptista. 

É a “italianização” do futebol brasileiro, que deu às caras com Zagallo (Copa de 1974) e Claudio Coutinho (Copa de 1978), ambos fracassos como o da Copa de 1990 com Lazaroni, mas que ainda assim, após a conquista de 1994 firmou-se como única filosofia, estilo e modelo de jogo vitorioso. Todos aqueles que pensavam ofensivamente foram distratados do mercado nesses últimos 21 anos.  

Nossos técnicos são temerosos, inseguros, fracos. Eduardo Baptista não é diferente. Infelizmente. No entanto, já mostra ser bem melhor que os últimos treinadores contratados pelo clube desde o retorno do “não-técnico” Renato Gaúcho, em 2013. 

Nesse estilo, para o Fluminense, será cada vez mais difícil vencer e triunfar no topo do Brasileirão ou mesmo na Copa do Brasil, quando o mata-mata, não raro, prestigia a retranca. Por quê? Um clube que não agride, não se impõe ao adversário, que durante 90 minutos não se faz pressão, sofrerá ainda mais, por exemplo, às garfadas do apito.

O Fluminense precisa se impor. Falo sobre isso desde a Libertadores de 2013. Não adianta achar que ele conquistará novamente títulos com essa retranca de 2010, 2012, porque não ganha mais. Mudou de patamar. Não era mais visto como azarão. 

Com isso, passou a enfrentar mais retrancas, a ter menos espaço de contra-ataque. Não mudou sua postura nem assim. Quase voltou para a série B e o pior: se rebaixou tanto como time que, hoje, não mete medo em ninguém.

Por tudo isso, cheguei a conclusão que ele não tem duas caras nem sofre bipolaridade. Nosso time tem mesmo uma cara só, uma nota só, um repertório só: medíocre e retranqueiro. 

Hoje, no Maracanã, na primeira partida da semifinal da Copa do Brasil, o mais difícil desafio para o Fluminense será ativar o apetite do Eduardo Baptista e dos jogadores em marcar… GOLS! GOLS! GOLS! No plural mesmo. 

ATENÇÃO, porque será isso que o Palmeiras fará lá. Nosso adversário sabe jogar como time grande, respeitando sua história e torcida. Mesmo cabaleante, mal ou bem, o Palmeiras vai nos agredir quando nos receber como visitante porque tem a fome de marcar gols dos grandes. Porque não, empate de 0 a 0 não é melhor que VITÓRIA de 2 a 1.

TOQUES RÁPIDOS:

– Os adversários não nos temem mais, foi o que escrevi acima e que as palavras do Marlon demonstram bem: 
 
“– Conversei com Gabriel Jesus (adversário da semifinal) e com o Gabigol… Falamos do jogo de quarta-feira, aí eles disseram que Palmeiras e Santos vão passar e fazer a final. Eu disse: “Tá bom, vamos esperar até quarta”. Vão jogar contra mim, né… vai ser um duelo bom. Espero que eu me saia melhor” – brincou Marlon.

– Com boa esperança: Marlon vai para o jogo. Que alívio! Ao lado de Fred, Marlon é um jogador sem substituto nesse time.

– Gostaria muito que Vinícius fosse o número 1 desse “4-4-1-1” do Eduardo. É o jogador dessa posição, ao contrário de Gérson. 

– Galera garantindo presença. Faz a diferença isso, porque empurra nosso time para o ataque e não deixa os caras desligarem da tomada.

– TENHA FOME DE GOLS, FLUMINENSE! TENHA FOME DE GOLS, FLUMINENSE! TENHA FOME DE GOLS, FLUMINENSE!

– AO MARACAAAA!

Abraços fraternos.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @CrysBrunoFlu.

Imagem: google

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3 Comments

  1. A italianização do futebol brasileiro é um termo apropriadíssimo. E o que acontece com o futebol italiano mesmo? Só decadência. Algo que estamos vendo há tempos por aqui. Perfeito Crys. E seu número de leitores só aumentando. Vence o Fluminense!

  2. Ainda bem que alguém pensa como eu……achei que estava ficando louco. Retranca, isso mesmo.

    ST

    1. Risos, oi, Gaia, muito obrigada pela leitura e pela força: já não estou tb sozinha nessa.
      ST

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