Não vou falar de títulos
Vinte e um de julho de 1902.
O esporte bretão, que em verdade já era praticado pelos chineses há alguns milênios, chegara ao Brasil em definitivo. E, nesta data, ao Rio de Janeiro. Não me entendam mal, é claro que já existiam clubes que praticavam o desporto, de forma amadora, antes do que nasceu nesta data, mas nenhum deles seria tão emblemático ou tão importante para uma mudança de cultura esportiva como fora o Fluminense Football Club.
Que seria, efetivamente, Rio Football Club, caso não houvesse a curiosa fundação desta mesma instituição nove dias antes da referida data, e que mais curiosamente ainda não era voltada exclusivamente para a prática de futebol, e sim de natação e regatas.
Portanto, naquela noite, nascia, sob a chancela de vinte sócios, um expoente maior do esporte, que seria o grande responsável pelo desenvolvimento do futebol no Rio de Janeiro e, posteriormente, no Brasil.
Horácio da Costa Santos (o anfitrião da reunião dos sócios), Mário Rocha, Walter Schuback, Félix Frias, Mário Frias, Heráclito Vasconcelos, Oscar Alfredo Cox (o primeiro presidente e principal idealizador da fundação do clube), João Carlos de Mello, Domingos Moitinho, Luís da Nóbrega Júnior, Arthur Gibbons, Virgílio Leite, Manoel Rios, Américo da Silva Couto, Eurico de Moraes, Victor Etchegaray, A. C. Mascarenhas, Álvaro Drolhe da Costa, Júlio de Moraes e A. H. Roberts talvez não imaginassem o que viria a ser o Fluminense Football Club, mas foram seus brilhantes fundadores e primeiríssimos sócios.
Elevar o pensamento àquela fatídica reunião na nobilíssima residência de Horácio Costa Santos me traz uma sensação de profundidade difícil de descrever. É como se eu estivesse mergulhando numa piscina praticamente sem fundo, cuja água são os fatos históricos, as glórias e os incontáveis serviços prestados pelo Fluminense ao futebol do Brasil.
Pobres, aqueles que, movidos pelo descaso, pela inveja ou pela simples rivalidade futebolística, deixam de reconhecer que provavelmente sequer teriam um time do coração se não fosse pelo Fluminense. Tolos, aqueles que vibram e torcem pela Seleção Brasileira, mas se esquecem de que foi o Fluminense o motor para que ela existisse e se tornasse uma potência. Iludidos, aqueles que medem o tamanho de seu time por taças que ele tenha conquistado ou pelo número de fãs que ele conseguiu, sem saber qual a importância elementar, histórica, fundacional do mesmo.
Terá ele devolvido um título após constatar uma irregularidade na escalação de um jogador? Terá ele recebido o prêmio Nobel do esporte por tudo o que representou? Terá ele sido capaz de abraçar uma causa nacional e, na 2ª Guerra Mundial, ter contribuído com a própria nação com doações? Terá ele construído um estádio do próprio bolso para que a seleção nacional atuasse, e permitido, mais tarde, que parte de seu patrimônio fosse destruído para pavimentar o progresso dos arredores? Terá ele cedido seu próprio estádio para os rivais regionais atuarem, na época em que ainda não haviam se estabelecido, e sem exigir nada em troca? Terá ele sido um dos poucos clubes a ter mais de 100 anos de idade que jamais necessitou de um “empurrãozinho” dentro de campo para conquistar o que quer que seja?
Se a sua resposta foi “sim” a todas as perguntas retóricas, obviamente você, que me lê, é um torcedor do Fluminense Football Club e, por esse motivo, já tinha conhecimento (espero) de todos os fatos supracitados.
Se a sua resposta foi “não”, não precisa se envergonhar. Afinal, nem todo mundo tem bom gosto, seja pobre ou rico, cristão ou ateu, negro ou branco.
Quem o tem, não por acaso, é considerado da “elite”.
Cento e treze anos, Fluminense. Não sei por que diabos ainda contam sua idade. Não faz sentido contar a idade de quem será eterno.