FLUMINENSE CAMPEÃO DA AMÉRICA (por Edgard FC)

Boca Juniors 1 x 2 Fluminense, a Glória Eternizada

Vence o Fluminense, assim, desse jeito mesmo voltamos ao topo de uma competição internacional. Se até um dia desses, desses de encontros casuais, ainda não éramos pertencentes ao panteão dos ganhadores da Glória Eterna, isso acabou. Ela nos conquistou, a Libertadores.

Para muitos, o momento mais esperado em tantos anos de torcida pelo Tricolor, dizem até ser o título mais importante da história. Que seja, hoje podemos tudo, a América é nossa!

Desde o anúncio, da sede em final única, de que seria em nossa casa, no Maracanã, todos já haviam se mobilizado internamente para este feito. Praticamente nada importava mais do que este tão sonhado título, mesmo assim, de quebra, vencemos mais um Carioca no início da temporada, em cima do rival da Lagoa, com uma bela goleada clássica em quatro a um.

Depois disso, o foco se voltou ao dia quatro de novembro. O elenco do Fluminense, além de sua comissão técnica e, óbvio, sua massa de torcedores parecia só se importar com esta tarde-noite, em que vivemos mais do que nunca.

Com o palco pronto, em meio a birras do prefeito da cidade, dos canais televisivos, até as (supostas) autoridades policiais, o Fluminense se impôs, pois essa é a nossa natureza, nascemos com a vocação da eternidade, lembram? Tudo pode passar, só o Tricolor não passará jamais.

Com a taça devidamente adornada no sopé da entrada do gramado via vestiários, tendo como um de seus condutores, Fred, que até esta data, persistia como o maior artilheiro do Fluminense na competição, ao lado de Germán Cano que, após ter marcado o décimo sexto nesta decisão, se isolou neste dado.

O adversário não poderia ser melhor, um dos maiores clubes do mundo: time de Maradona, Riquelme, Batistuta e Heleno de Freitas, além de tantos outros, o mítico Boca Juniors, hoje defendido por Romero, Rojo, Advíncula, Benedetto e Edinson Cavani.

Tudo pronto, nada mais interessa, já estávamos todos loucos da cabeça, coração acelerado, quase um samba sincopado premeditando o breque, a garganta ávida por berrar aos sete mares: como é maravilhoso ser Fluminense.

Wilmar Roldán, o mais experiente árbitro em exercício em nosso continente, autorizou o início do jogo, findando de vez toda a ansiedade por este momento. Agora os nossos representantes no campo, tinham de fazer suas partes, todos já sabiam o que realizar, precisávamos de paciência e persistência, a vitória estava a duas horas de acontecer.

Um primeiro tempo controlado, com o Fluminense atento e implacável, sem dar brechas ao adversário. Nino e Martinelli estavam soberbos, além de André. Após linda jogada pela direita, Jhon Arias rolou para Keno cruzar para Cano, na entrada da área, respirar e explodir a bola nas redes, abrindo a contagem e tirando o primeiro grito de gol da garganta; o bairro do Rocha, onde eu estava, se emoldurou tricolor.

Na volta do intervalo, o mais longo em tantos anos, nosso escrete retornou ao gramado sabendo que teria de lidar com o Boca mais faminto, pois precisaria sair para o jogo e tentar a sorte, além de outro adversário: a ansiedade pelo passar do tempo. Deveríamos ter liquidado a fatura. Mas seria muito difícil, é final de Libertadores.

O domínio do primeiro tempo, deu lugar às dificuldades impostas pelo rival, que de tanto insistir, chegou ao empate, com o excelente lateral peruano Advíncula; no lance, o jogador arrastou a bola da entrada da área pela direita e foi assistido por Marcelo e Keno, já cansados e, talvez, um pouco desatentos, acertou um belo chute de canhota, a bola ainda pingou no chão de giz antes de bater nosso goleiro Fábio, que até este lance estava defendendo todas as nossas mazelas.

A trajetória da gorduchinha foi perfeita, ondulada em queda-livre até balançar as redes, tirando a relativa paz que estávamos sentindo até aquele instante. E o pior: já se aproximava do final do tempo regulamentar. Os últimos minutos se tornaram quase tortura. Diniz teve de mexer a valer: Ganso, Martinelli e Marcelo saíram, JK, Lima e Diogo Barbosa entraram. Antes Marlon já havia suprido Felipe Melo em campo.

Diogo, que entrara na vaga do exaurido Marcelo, teve a chance de matar a partida; quando o cronômetro já apontava noventa e quatro minutos, tempo em que Roldán prometeu encerrar a partida, o ex-gremista avançou em diagonal dentro da área pela esquerda, recebeu o passe de Jota Ká, mas sua finalização escapara, ultrapassando a linha de fundo pela esquerda da goleira do Maracanã, que estava escoltada por Sergio Romero.

Mas o fado já estava dado: esse gol sairia dos pés de John Kenedy, estava escrito, não tinha jeito, era o correto com a história.

QPorém, antes disso enfrentaríamos o horror de uma prorrogação, da mesma forma que da outra vez. Entretanto, foi diferente, ainda bem, pois uma disputa por pênaltis certamente arrebataria muita gente antes da hora.

Quando a peleja se aproximava do minuto cem, o Fluminense emplacou uma jogada de cinema, quase uma linha de passe pela esquerda, Diogo Barbosa, que se candidatara a ser vilão por perder o gol que nos faria campeões no limite do tempo normal, iniciou a troca de passes com JK que devolveu ao camisa quarenta, ele então levantou a bola até Keno que, da entrada da área pela esquerda, ajeitou de cabeça para o quarto de círculo. O Menino Urso então atacou a bola, distraiu um golpe fatal e foi às redes, para a explosão de alegria tricolor em todo o mundo. Estava feito. Era o certo.

O gol suplantou todas as preocupações que se colocavam em nosso caminho. E foi dele: Jota Ká, um rapaz que exemplifica tantos que vivem o sonho de ser um jogador de futebol, mas por vezes, em nome das ganâncias e pilantragens, acabam escorraçados e soltos à própria sorte.

Mas não desta vez. A nota triste foi sua expulsão, como ele já havia sido advertido com amarelo – em falta dura que fizera antes, na comemoração – o homônimo de um presidente famoso dos EUA, foi literalmente para a galera, o que, para a tristeza do que deveria ser o futebol, obriga o árbitro a mostrar cartão amarelo. Pelo acúmulo, que herói tricolor foi expulso. Apenas mais um obstáculo a ser driblado.

Pouco após o gol que nos deu o título, o Boca reclamou um pênalti supostamente sofrido, aquela rodinha punk foi formada em torno do árbitro. Nino foi fundamental: nas costas de Roldán, ficou provocando jogadores do Boca; na confusão, após dar um chega para lá em Figal, Nino levou um tapa no rosto de Fabra, usando da malandragem exigida no cargo de capitão, foi ao chão para chamar atenção. E chamou, o VAR recomendou ao Wilmar que fosse ver o tapa em vários ângulos, com isso, retirou o amarelo que havia dado ao Fabra na confusão e lhe mostrou o vermelho, igualando assim os jogadores em campo de cada lado.

Após o gol, a resma de tempo até o apito final seria uma via crucis, um martírio infinito. Muitos pediam para o Fluminense furar a bola, outros sonhavam com mais um gol, porém a realidade se impôs, teríamos de sofrer cada minuto como se fossem dez, cada posse de bola adversária como um princípio de infarto em cada coração tricolor.

A tensão e felicidade se misturaram a todo instante, a vontade de gritar ‘é campeão!’ se impunha, como já sabemos que a cada dia, basta correr e olhar o céu, pois o sol vai sempre trazer bom dia.

A noite já havia tingido o céu, olhares incrédulos e atentos, outros já de joelhos ou de costas para a TV, todos atônitos a esperar o apito final. Wilmar jurou acrescer ainda dois minutos aos quinze da etapa final de prorrogação, o Boca tentava pressionar, todos já cansados após mais de cento e vinte minutos de futebol. Roldán andou em direção da bola, as batidas do coração já não sabiam em que ritmo deveriam estar.

E então, como diria um famoso narrador esportivo: ergue os braços, Wilmar Roldán e apita o final de jogo. O Fluminense é campeão da Copa Libertadores da América 2023.
Nenhuma dúvida conseguiu ficar de pé, acabara naquele momento aquela ausência, aquele sentimento horrível de ainda não ter conquistado o troféu icônico do nosso continente. Agora não nos falta mais. A Libertadores enfim, conquistou o Fluminense em sua base, crivada de pins que destacam seus conquistadores.

Terminada a peleja, os abraços efusivos e confortantes, ainda quase que sem acreditar no que acabáramos de testemunhar, não tinha jeito, somos campeões da América.

Foi um dia glorioso, consegui reunir minha família toda: mãe Fátima, irmãs Érica e Evelin, sobrinhos Guilherme e Gustavo (só faltou a afilhada Gigi), filhos Ariel, Ayrà, Nara e Akin, prima Karen, companheira Mônica, amigos queridos, incluindo nosso cronista Thiago Muniz, muito amigo de Wagner Victer. Amigos do Rugby, Marcão, Luan e Michael, do coração e da cultura popular Darlene, além de tanta gente querida do bairro.

Após o êxtase natural, me peguei abraçado às lágrimas com minhas irmãs, todas tricolores por minha influência, mas também legado deixado por nosso pai Carlos Alberto, que deveria estar aqui para vermos juntos esta conquista, mas não deu. Apesar de tantas tristezas e agruras, cá estamos felizes juntos, com a certeza de que é só o começo, haverá muito ainda por comemorar.

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Ficha do jogo:
BOCA JUNIORS 1 x 2 FLUMINENSE
Copa Libertadores da América – Final
Maracanã – Rio de Janeiro-RJ
Sábado, 04/11/2023 – 17:00 (Brasília)
Árbitro: Wilmar Roldán (FIFA/COL)
Cartões amarelos: Edinson Cavani 64’, Jorge Figal 68’, Luca Langoni 94’ e Marcelo Saracchi 120’ (BOCA JUNIORS); Keno 67’, John Kennedy 89’ e 101’, Nino 105’+7’ e Germán Cano 120’ (FLUMINENSE)

Cartões vermelhos: Frank Fabra 105’+7’ (BOCA JUNIORS); John Kennedy 101’ (FLUMINENSE)
Gols: Luis Advíncula 72’(BOCA JUNIORS); G

BOCA JUNIORS: Sergio Romero©; Luis Advíncula, Jorge Figal (Bruno Valdez 113’), Nicolás Valentini e Frank Fabra; Pol Fernández, Ezequiel Fernández (Marcelo Saracchi 106’), Cristian Medina (Vicente Taborda 106’) e Valentín Barco (Luca Langoni 78’); Miguel Merentiel (Lucas Janson 91’) e Edinson Cavani (Dario Benedetto 78’). Téc.: Jorge Almiron. 4-4-2

FLUMINENSE: Fábio; Samuel Xavier (Guga 85’), Nino©, Felipe Melo (Marlon 52’) e Marcelo (Diogo Barbosa 80’); André, Martinelli (Lima 80’) e Ganso (John Kennedy 80’); Jhon Arias, Keno e Germán Cano. Téc.: Fernando Diniz. 4-3-3