Mais três pontos na conta e mais um clássico vencido, o que notoriamente se tornou uma boa rotina para o Fluminense apesar do futebol ainda pouco inspirado. Mas com algumas lições e caminhos para Abel observar.
A escalação inicial para o Clássico Vovô foi a repetição dos onze que foram a campo contra o Madureira e no Fla-Flu, com uma pequena alteração para o grupo que iniciou contra o Bangu, em que a equipe foi derrotada. Naquela ocasião, Nathan jogou em vez de Luiz Henrique.
Essa escalação, pela repetição e insistência, causa dúvida se Abel quer muito que ela dê certo ou se precisa mesmo ser assim. A trinca de zagueiros à frente de Marcos Felipe, David Braz, Nino e Ruf-ruf Melo, na linha média, mas sem ocupar o meio (deixando terras improdutivas, que melhor seriam tratadas pelo MST), Samuel, Yago, André e Cristiano da Moldávia, tendo o setor ofensivo ocupado por Luiz Henrique, semi-ocupado por Willian e desocupado por Fred.
Digo isso porque, até aqui, nenhuma vez essa escalação funcionou ou fez sentido, já que sempre precisamos das substituições para que o Fluminense apresentasse o mínimo de futebol aceitável para competir, pasmem, no Campeonato Carioca.
Nesta quinta não foi diferente.
O Botafogo, equipe muito jovem e frágil, consegue superar fisicamente adversários mais frágeis, o que encontrou na Série B 2021 mas, nesse início de Cariocão, bastou enfrentar o Fluminense para refletir sua realidade, apoucada e fraca, ainda conectada na segunda divisão.
Nosso rival alvinegro, mais um que veio do remo, tem no comando um velho conhecido das agruras Tricolores, Enderson Moreira – discípulo não assumido do futebol covarde e retranqueiro, deveras praticado em Pindorama – que mandou a campo um 4-4-2 com seu meio-de-campo em arco, deixando clara a intenção de jogar em ‘U’ com retomada de bola e ativação dos lados na velocidade de seus jogadores. Esbarrou somente em suas limitações técnicas, mas conseguiu criar alguma chance, mesmo que à distância do gol, a não ser pelo escanteio que teve e faturou, deixando o placar do Engenhão em um a zero.
Após o gol do Botafogo, o Fluminense adiantou um pouco mais André, o que foi suficiente para dificultar as saídas de bola adversária e procriar jogadas com Luiz Henrique, porém sepultadas quando Fred era partícipe. A melhor jogada Tricolor no primeiro tempo foi uma esticada que Luiz Henrique pegou de primeira de pé direito e preparou para o arremate de Willian na entrada da área, quase gol defendido por Gatito, bom goleiro que trancava a meta da Estrela Solitária.
O Fluminense voltou do intervalo com duas intervenções de Abel: Jhon Arias e Germán Cano nas vagas de Fred e Samuel, jogadores que não somavam nada e, quando tentavam participar, atrapalhavam as ações. Com as trocas, Yago se deslocou para o lado direito, como um ala, Cano deu mais vida e movimentação ao centro de ataque e Arias como um meia central, ora em linha com André, mantendo o 3-4-3, ora avançado como um enganche ilustrando um 4-3-1-3, que proporcionou o que de melhor o Fluminense ofereceu até aqui na temporada 2022.
Deu para o gasto, após boa jogada que gerou um escanteio, David Braz e Kanu disputaram a bola que sobrou para Nino, de peito assistir Willian para marcar o empate.
Mesmo longe do ideal, mas dentro do modelo proposto por Braga, esse conjunto de jogadores é capaz de competir melhor no Carioca. Ainda vejo outras trocas que poderiam ser feitas, sobretudo na ala esquerda em que há uma persistência desnecessária com o jogador que veio da Moldávia, que pouco soma como peça, parece um totem recebendo bola a todo instante para cruzar e tentar acertar uma. Muito pouco para uma função importante no modelo que rascunha um 3-4-3, em que as peças dos lados de campo deveriam ser as fundamentais, tanto para dar profundidade ao ataque quanto para associar passes e jogadas por dentro a fim de criar chances de gol.
David Braz após esforço duplo, saiu de campo lesionado, e para seu lugar veio ao time Luccas Claro, abençoado com o segundo gol também após uma cobrança de escanteio. A defesa é outro setor que precisa de mudança, pois Luccas mostrou em parcos minutos que deveria seguir titular em vez da sustentação de Braz. Por fim entraram Martinelli e Caio Paulista, mas tiveram muito pouco tempo para exibir algo que mereça atenção.
Destaque muito positivo foi o Nino, uma partida irretocável. Trouxe segurança, qualidade técnica, jogou como zagueiro, lateral, volante e apoiador, sempre somando em todas as partes do campo que ocupou, seja defendendo ou atacando, criando ou destruindo, repetindo ou melhorando o que havia feito no Fla-Flu, hoje sob testemunho de Adenor Tite, técnico da Seleção da CBF que acompanhou o ‘Vovô’ de um dos camarotes do Nilton Santos, outrora João Havelange.
Abel, veja o que o campo e o que os jogadores te mostraram até aqui. O time inicial não tem condição alguma de funcionar minimamente bem, isso é mais que evidente. Não adianta insistir, seja por qual motivo for. O campo fala, Abel.
Entendo a comemoração efusiva do treinador tricolor, mas me desculpem amigos: não nos enganemos. Os desafios da temporada ainda estão no porvir.