Tricolores de sangue grená, a partida desta noite carregava em si uma importância talvez difícil de perceber num primeiro momento. Primeiro jogo das oitavas de final da Copa do Brasil. Meh. Tendemos a pensar que o jogo da volta é o mais importante, mas frequentemente o confronto inicial acaba fornecendo uma vantagem para um ou para outro que, à luz do regulamento – seja ele bom ou não – acaba por ser mesmo decisiva.
Se algum dia houvesse uma condição ideal para enfrentar o Corinthians, esta aconteceria hoje. Com o time completo, perto da torcida, contra uma equipe esfacelada, com muitos desfalques e com histórico recente bastante negativo. Ah, e tendo como técnico o Cristóvão Borges, é claro. Perto dele, Levir é o Guardiola. Cava, W. Silva, Gum, Henrique, W. Matheus, Douglas, Cícero, Scarpa, Marquinho, Wellington e Ceifador. Eis o escrete tricolor para o prélio decisivo.
O jogo começou com intensidade pelo lado do Fluminense, ainda que este pecasse em objetividade – canetas à parte. O Corinthians não conseguia jogar, devido à boa marcação adversária, e o Flu se soltava aos poucos, começando a chegar com algum perigo. Lentamente, porém, o time alvinegro equilibrou o confronto, em que pese as ações do tricolor ainda serem mais efetivas. Era, até então, uma disputa para ver quem errava menos e desarmava mais. Quando o jogo está truncado assim, geralmente a bola parada costuma fazer a diferença. Mas não fez.
O alvinegro teve algumas chances, porém infrutíferas. Lá pros 18 minutos, começava a se desenhar o “caminho das pedras”. Em contra-ataque do Fluminense, Scarpa limpou e bateu de forma consciente. Tinha endereço certo: o ângulo direito de Cássio, mas a bola caprichosamente saiu. Na sequência, o Corinthians fez uma pequena blitz, contando com muitos erros da zaga, mas a linha de fundo foi o destino da redonda. Aos 24, falta para o Flu. Será que dessa vez a bola parada seria determinante? Não dessa vez. Scarpa bateu e a zaga corintiana afastou. Em seguida, resposta do Corinthians. Escanteio cobrado, cabeçada pra fora.
Após os trinta minutos, a posse de bola passou a ficar mais com o time paulista. A proposta do Flu parecia mesmo a de jogar no contra-ataque. E num destes, aos 36 minutos, uma excelente trama de passes resultou num escanteio. Tiro de canto batido, desvio, novo escanteio. Escanteio batido, a zaga afasta, o Flu recupera. Bola na esquerda, cruzamento, Cássio soca a bola para o meio da área. Marquinho a domina e bate pro gol. Estopa! Um a zero para o Fluminense! E a bola parada decidiu. O Corinthians sentiu o golpe. Precisando se abrir para tentar o empate, o time paulista tentava trocar passes, mas o cenário anterior não se alterava. Embora chegasse constantemente, eram as investidas tricolores que levavam mais perigo após a retomada de bola. A marcação tricolor seguia implacável, e assim terminou o primeiro tempo.
Não houve mudanças tricolores para o segundo tempo. Porém, Guilherme deu lugar a Lucca no Corinthians, que tentou um “abafa” inicial. Com menos de cinco minutos, o alvinegro quase marca em cobrança de falta. A entrada do novo atacante deu aos paulistas fôlego novo, e eles seguiram mais intensos no jogo. A torcida tricolor cantava intensamente debaixo de chuva, sem a menor intenção de abandonar o time à própria sorte naquele momento difícil. Sem o dedo do treinador tricolor, parecia pouco provável que os dez minutos de pressão corintiana não se transformassem em vinte. Já não havia saídas para o contra-ataque e nossos rivais se aproximavam cada vez mais do gol. A torcida começou a pedir Marcos Jr. pouco depois de Levir mandar os reservas para o aquecimento.
Infelizmente, aos 17 minutos, antes de qualquer mexida que pudesse mudar o panorama do jogo, nossa defesa entregou a paçoca e Rodriguinho empatou, batendo sem chances para Cavalieri, após receber a bola sozinho. E o Corinthians continuou na mesma toada, perigando virar o jogo. Trocou Marlone por Giovanni Augusto. Cristóvão sinalizava claramente que tentaria a vitória. Levir finalmente mexeu, aos 22, colocando Marcos Jr. e Danilinho, sacando do time Ceifador e Marquinho. Aparentemente, a ideia era colocar o time pra correr mesmo.
Inicialmente funcionou. Tivemos algumas chances de bola parada entre os 20 e 30 minutos, e conseguimos aliviar a pressão, que estava insuportável. Logo, o alívio se transformou em morosidade, e o nível caiu bastante. O jogo ficou muito feio, com faltas desnecessárias para ambos os lados e pouquíssimo futebol de fato. Cristóvão trocou Camacho por Willians, visando garantir pelo menos o empate, que era vantajoso para sua equipe. Aos 36, o Corinthians trocava passes tranquilamente, fazendo o tempo passar. O Fluminense rifava a bola e apostava na velocidade dos seus garotos para tentar alguma coisa. Levir segurava a última alteração de forma incompreensível.
A torcida tentava incendiar o time naqueles momentos derradeiros do prélio, mas a falta de organização impedia a criação de chances claras de gol. Numa das raras chegadas à frente com eficiência, Cássio quase fez uma bandalha, salvando no último segundo. Na sequência, o Corinthians quase marca, em jogada perigosa. Houve um “sprint final” dos dois times, com algumas chances interessantes, mas a partida terminou mesmo em igualdade. Para o Corinthians, um bom resultado. Vai jogar pelo 0 a 0. O Fluminense precisa vencer em Itaquera para avançar. Faltam ainda noventa minutos. Estamos no páreo.
Panorama Tricolor
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