Amigos, amigas, não escrevi sobre o jogo passado, entre Ceará e Fluminense, porque não reunia as condições para tal. Não, não foi pela frustração natural que o jogo teve de tirar a vontade de qualquer um de analisá-lo, embora isso fosse plenamente compreensível, mas pelo fato de estar numa confraternização de família, com churrasco, em que eu era o churrasqueiro.
Daí vocês podem imaginar a dificuldade de acompanhar e analisar o jogo com olhos críticos, muito embora a irritação fosse semelhante a de todos vocês. Preferi, em minha última crônica, tratar de assuntos estruturais, que precisam ser encarados de frente por quem se atrever a governar o Fluminense, nada menos que o maior clube do Brasil.
Mal começava a semana, minha reflexão apontava para algo muito parecido com a escalação de hoje. Jogo no Maracanã, seria impossível para Marcão deixar John Kennedy de fora. Ao mesmo tempo, sabemos como funciona a política no futebol tricolor. O que significa que Fred também não poderia estar ausente da escalação. Minha tese era de que sobraria para Caio Paulista, já em péssimos lençóis com a torcida, o que de fato aconteceu.
Antes de começar o jogo, o que desafiava minha mente era o que Marcão faria com uma escalação com dois centroavantes e dois pontas. Para manter Fred no time, Marcão reinventou o Fluminense, atuando num 4-2-4. A dinâmica tática do Fluminense era muito interessante. Apesar de jogar com apenas dois meias, os quatro homens de frente, exceto Árias, faziam aproximação por dentro, trocando de posição o tempo todo, contando com o auxílio de Samuel Xavier, que vez ou outra aparecia por dentro.
Essa movimentação de Samuel Xavier não é nova. Foi um dos traços que observei já na partida contra o Ceará, em que eu já comentava ser ele um dos homens mais participativos nas ações ofensivas, o que, por si só, já nos deixa apreensivos.
O fato é que o Fluminense se portou bem taticamente, com uma boa dinâmica de jogo coletiva, fazendo bem a transição e provocando espaços de criação entre as linhas pernambucanas. O problema é que as atuações técnicas individuais eram deploráveis. JK abusava do individualismo, enquanto Fred tinha enorme dificuldade de dar agilidade às próprias ações. Luís Henrique, que se movimentava bem, também pouco criava, enquanto John Árias não contribuía com a dinâmica de jogo e também não rendia bem tecnicamente.
O Fluminense teve domínio tático no primeiro tempo, mas, pelas atuações individuais, foi incapaz de obrigar o goleiro do Sport a fazer uma única defesa em 45 minutos. O que me levou, particularmente, a um dilema. Quem colocar no segundo tempo para manter aquela dinâmica e dar qualidade às ações ofensivas? Colocar Abel no lugar de Fred talvez aumentasse nossa intensidade, mas dentro daquela dinâmica de jogo Abel seria menos efetivo do que Fred.
Caio Paulista, por sua vez, entrando no lugar de Árias, não agregaria tecnicamente, o que nos colocava numa verdadeira cilada. A ideia de Marcão, portanto, não tinha sustentabilidade. Quem, afinal, se lembrava da existência de Cazares? Pois foi ele quem entrou no lugar de Árias, sugerindo a continuidade da nova ideia de jogo de Marcão. Cazares, aparentando estar mais magro – não sei se foi só impressão minha – entrou muito bem no jogo, agregando a então inexistente capacidade de criação do nosso ataque.
Aconteceu, porém, que o Fluminense começou a perder o domínio do meio de campo. A resposta? Fred. Marcão percebeu isso e decidiu trocar o camisa nove por Caio Paulista. Para o observador pouco treinado nas coisas do futebol, parecia uma ideia idiota colocar Caio Paulista no time para brigar com a bola. Ainda, no entanto, que brigasse com a bola, Caio Paulista aumentaria a imposição física de nossa equipe, num momento em que Fred não agregava absolutamente nada.
Mas, nesse caso, a emenda saiu melhor que o soneto, porque Caio Paulista entrou bem no jogo, mostrando que talvez seja uma ótima opção para os 45 minutos finais. Melhor que isso, ajudou a reavivar a dinâmica inicial. Sai dos seus pés a nossa melhor jogada na partida. Caio cai pelo meio, coisa difícil de vermos Árias fazer, e faz excelente lançamento para Cazares na direita, desmontando toda a dinâmica defensiva do Sport. Cazares, que recebeu com espaço, percebeu Luís Henrique entrando pelo outro lado e fez cruzamento primoroso. Luís Henrique, livre, só deslocou o goleiro e mandou a bola na trave.
Martinelli fazia ótima partida. Mesmo assim, Marcão decide trocá-lo por Yago, sem mexer, portanto, no esquema, mas colocando mais fôlego no time e ganhando um jogador com mais característica ofensiva. Podemos questionar as saídas de John Kennedy e Luís Henrique, já no final, pelo aspecto técnico. Afinal, os substitutos eram Lucca e Abel Hernandez. É preciso, no entanto, levar em conta a questão física.
O Fluminense lutou até o fim, procurou o gol obstinadamente, mas sem abrir mão da organização ou lançar mão de soluções exóticas, como, no caso do jogo passado, terminar o jogo com Fred, Bobadilla e Lucca. Não houve nenhum desvario tático, apenas investimento em manter a imposição física. A lucidez de Marcão acabou premiada quando, aos 51 minutos da segunda etapa, após boa trama pela esquerda, Marlon cruzou para David Braz desviar de cabeça, a bola bater na trave, caminhar sobre a linha, tocar a bainha da rede e morrer mansamente dentro do gol.
Vitória merecida do Fluminense, num jogo em que Marcão agiu como técnico e pode vislumbrar soluções para que o Fluminense inicie uma nova caminhada nesse Brasileiro, que precisa ser rumo ao G-6.
É preciso ter em mente que Fred e Árias não podem ser titulares. Cazares, mais magro e depois do jogo de hoje, tem que ser titular. Caio Paulista pode ser uma peça importante na engrenagem entrando no segundo tempo. É hora de repensar esse time num 4-3-2-1, com Martinelli, André e Yago fazendo o trio de volantes, com Luís Henrique e Cazares flutuando por trás de John Kennedy.
É quase a repetição da nossa melhor atuação nos últimos tempos, na derrota para o Inter por 4 a 2. Com Cazares no lugar de Ganso e John Kennedy no lugar de Abel.
Saudações Tricolores!