Fluminense 1 x 0 Atlético-MG (por Bruno Langer)

Há menos de um mês, derrotávamos o mesmo Atlético-MG, em pleno Mineirão, com gols de Serna e Árias. Com uma diferença, contávamos com a luz do melhor volante do Brasil: André. Aquele jogo nos tirou da zona de rebaixamento e exorcizou o tabu de sete anos sem vitória tricolor em Belo Horizonte. Redenção em verde, branco e grená com os nossos próximos adversário na Bendita Copa.

As 17 finalizações do Galo naquele dia, ontem pareceram uma miragem distante. O Atlético, que rugia no Brasileirão, cacarejou pelo empate na noite de Copa.

A biometria facial, essa invenção infernal que afasta o popular do estádio, afasta também o futebol de sua essência. Não fosse pela cativa da prima da minha namorada, eu mesmo não teria visto o Fluminense em campo. Apesar da pressão tricolor nos primeiros 15 minutos, o jogo esfria com a falta de oportunidades bem aproveitadas. E como esfria. O Galo teve uma boa chance, tão desperdiçada quanto a nossa. A cancha já parecia uma sopa insossa, quando o Fluminense precisava era de um canja de galinha, reconfortante.

Logo aos dois minutos, Ganso — como um maestro desafinado — errou um passe que Kauã Elias, que astuto, recuperou. Ficou cara a cara com o goleiro atleticano, mas o chute saiu como um suspiro cansado de quem ainda não entrou no jogo. A bola morreu simpática nas mãos do arqueiro.

John Arias, como um espírito inquieto, tentava sozinho o que o time não alcançava. Num arranque pela esquerda recebendo lindíssimo lançamento de Thiago Santos, no final do primeiro tempo, deixou a bola sozinha na pequena área. Pra ninguém. Isolado. Um reflexo do que era o Fluminense naquele momento.

O segundo tempo foi uma continuação. O que o Tricolor precisava, mais do que qualquer tática, era de coração, de alma. Sair do Rio com uma vantagem — qualquer que fosse — poderia ser determinante para o sonho do bicampeonato da Libertadores.

O que causou preocupação foi Thiago Silva ao sair mancando no intervalo, cedendo lugar a Antônio Carlos — uma comparação que faz o coração pesar. O craque passou sua braçadeira de capitão a Ganso, e aí estava outro dilema. Talvez com seu terno estava apertado demais, limitando sua já defasada mobilidade. Pouco apareceu, e dizer que jogou bem seria um exagero. Ganso é como o jogador que depende do extraordinário — e o extraordinário, dele. Sem aquele passe mágico, sem a recomposição improvável, Paulo Henrique foi uma sombra em campo. Faltou-lhe o brilho. Isso se consolida no esquema de Mano Menezes.

O técnico tricolor mexeu bem no time, isso é fato. E mexeu nos momentos certos. Detalhes que decidem uma classificação. Nossa dupla de Thiagos, Silva e Santos, não permitiu grandes imposições do Galo. Quando Silva foi substituído por Antônio Carlos, o nível se manteve. E caso eu não criticasse Martinelli e Serna, estaria traindo a mim mesmo. Enquanto Martinelli não se escondia, mas também não rendia o que se esperava, Serna corre afobado e suas canelas se confundem com a bola. Manutenção de Bernal, por sua vez, foi compreensível pela necessidade de garantir o jogo aéreo num jogo que isso poderia ser determinante. Como foi, mas não pela cabeça uruguaia.

Fábio esteve atento; Samuel, embolado. Mas o que definiu foi uma jogada no estilo Keno do próprio driblando pela esquerda ao receber belo passe de Marcelo, tirando Palácios da cena e servindo Lima, que cabeceou firme, beijando suavemente a rede adversária. Um gol romântico, quase tímido, que só se afirmou pra mim ao acariciar a bochecha das malhas. Um gol de três abençoados saídos do banco.

Xingar Gustavo Scarpa, ah, isso é um dever cívico de todo tricolor. Ele, que saiu pela porta dos fundos, foi alvo das vaias no Maracanã na sua saída de campo.

Ao final do jogo, fui ao banheiro do Maracanã e, entre os gritos de “o Galo vai morrer” e “já morreu”, ouvia os tricolores afirmarem sua devoção ao ódio e ao amor por Lima. Um jogador que exala desconfiança e entrega tanto ao time. Quem nega sua importância é prisioneiro de ilusões. Alguém, certa vez, disse que “se esse safado hablasse español, seria ovacionado a cada toque”. E se com esse ódio ele responde em campo, continuarei a odiá-lo.

Agora, o próximo desafio é contra o Botafogo. Só então voltaremos à Arena MRV, no dia 25 de setembro, para decidir as quartas de final da Copa Libertadores de 2024.

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