Amigos, o jogo do Fluminense contra o Cruzeiro na noite de quarta merece ser analisado com cuidado e lucidez. O pior que pode acontecer é a análise com base no resultado.
Não tivemos uma grande atuação, mas, mesmo assim, é apropriado dizer que foi uma das melhores que tivemos na temporada. Vai aí uma má e uma boa notícia.
A má é que ter um jogo desses como um dos melhores da temporada mostra o quão mal estamos. A boa é que ele vem com um time cheio de reservas e a aparição de peças que andavam sumidas das quatro linhas.
Ao contrário de outras jornadas, o resultado da partida contra o Cruzeiro não teria sido em nada injusto ou surpreendente se fosse uma vitória do Fluminense. Criamos pelo menos quatro ou cinco oportunidades claras de gol, algumas construídas no nosso melhor estilo.
Surpreendente mesmo foi a nossa atuação com uma escalação que provocava risos de incredulidade e desespero antes da partida. Não acho que a escalação foi boa e a critiquei muito no pré-jogo, mas o que vi em campo me surpreendeu.
Para quem fala que o modelo de jogo do Fluminense é manjado e consiste em toques para o lado e para trás dentro da nossa intermediária, o que não é verdade, mas consequência da insistência em escalações equivocadas, conseguimos, em vários momentos, apresentar com êxito nossos fundamentos, quebrando a marcação pressão cruzeirense e conseguindo, a partir dessa quebra, acelerar o jogo e pegar a defesa adversária mal guarnecida.
Isso foi fruto de uma organização que ampliava as opções de saída de bola, usando os dois lados do campo e as progressões por dentro, tirando dela a previsibilidade de outras jornadas.
Conseguimos, em algumas ocasiões, desorientar a saída de bola do Cruzeiro exercendo marcação por pressão, algo que passamos a quase desconhecer em jogos da equipe considerada titular por Diniz.
Por que isso aconteceu? Porque houve mais vontade, mais esforço, mais intensidade e dedicação ao jogo.
Até mesmo as aproximações pelo lado na fase ofensiva aconteceram e originaram situações de risco para a defesa do Cruzeiro.
Tudo isso quer dizer aquilo que eu tenho dito insistentemente. O problema do Fluminense está nas escalações, nas escolhas do técnico. Na insistência de Diniz em Felipe Melo, Marcelo na lateral-esquerda, Keno e Cano se arrastando em campo.
Diniz, ontem, insistiu em um meio de campo convidativo às ações adversárias, principal caminho encontrado pelo Cruzeiro para nos criar constrangimentos defensivos. Por mais que Lima corra e se dedique, tem dificuldades na marcação, enquanto Renato Augusto não tem pernas.
Mesmo Renato Augusto, porém, que é um jogador mais vertical, participou da construção de duas jogadas de extremo perigo, uma em cada tempo, mostrando que não está tão morto quanto eu pensava, embora não pareça haver dúvidas de que sua autonomia de voo não supera 45 minutos.
Enfim, a atuação do Fluminense ontem, partindo da premissa de que o time escalado foi majoritariamente composto por reservas, seria plenamente aceitável se houvesse um time titular que justificasse tal condição perante os referidos reservas.
Não é o que acontece e os resultados o comprovam. Calegari e Gabriel Pires, que entraram na segunda etapa, demonstraram não haver nenhum absurdo em considerarmos que facilmente podem ser titulares de Diniz. Felipe Andrade já demonstrou isso no começo da temporada, atuando como meia, assim como Luan Freitas e João Neto, escorraçados do clube para que ninguém pudesse cobrar suas escalações.
O Fluminense pode facilmente renascer dentro da temporada sem mesmo esperar o retorno de André e Arias, assim como a estreia de Thiago Silva. É só uma questão de Diniz abrir mão da teimosia, mudar a política do vestiário, acertar nas escolhas e fazer esse time jogar dentro do modelo de jogo que estamos acostumados a admirar.
Não esse simulacro que temos visto ao longo da temporada, que nada consegue fazer além de nos irritar. Diniz só precisa por em prática o paradigma que tanto professa: coragem.
Com o que temos à disposição, vamos para cima da Dissidência domingo com: Fábio; Calegari, Antônio Carlos, Martinelli e Alexsander; Felipe Andrade, Gabriel Pires, Ganso e Lima; Kauã Elias e JK.
Time física, etária, técnica e taticamente equilibrado, que faz frente a qualquer um dos atuais protagonistas do futebol brasileiro.
O problema é que, com essa escalação, o Fluminense corre o risco de atropelar a Dissidência em campo e acabar com todo e qualquer argumento que sustenta as escalações atuais.
Razão pela qual eu não acredito que nada diferente venha do que a mesmice de sempre. Basta observar as entrelinhas da entrevista de Diniz ontem. O que nos leva, mais uma vez, ao peso nefasto da política dos medalhões intocáveis e do futebol “injogável”.
Vai mudar isso trocando o técnico? Não. Vai mudar trocando a política e isso vem de cima, da presidência do clube, dando carta branca e respaldo para o técnico escalar o que tem de melhor.
Caso isso aconteça, logo sairemos das sombras do Z-4 no Brasileiro e teremos razões reais para acreditar em conquistas ainda em 2024.
A seguir, cenas dos próximos capítulos.
Saudações Tricolores!
Sempre muito bom ler seus textos lúcidos, Savioli! Torçamos para que Diniz abra mão de sua teimosia, porém também acho difícil devido aos seus posicionamentos em coletivas.
Sobre a escalação, discordo do Martinelli na zaga e Kaua Elias no ataque; daria preferência a T. Santos com Martinelli no meio e saída do Felipe Andrade, que deve ser aproveitado de fato como volante, e na frente Isaac em vez da ouvem promessa de Xerém.
Daria oportunidade no banco a outros jovens, seriam apostas válidas para dar intensidade.