Entre o empate do Fluminense, no sul, com erro grotesco da arbitragem e do time que confudiu controlar o jogo com baixar o ritmo, o futebol brasileiro assistiu às Seleç ões Olímpicas feminima e masculina. Muitos têm praticamente acusado o time masculino de “falta de raça.” Eu já acuso o futebol brasileiro masculino de falta de talento.
Após o pentacampeonato, em 2002, foi o início do fim. A geração Dunga de jogadores e treinadores, da raça, superação, do esforço, ao lado da interferência do poder econômico de empresários que ficaram milionários exportando até jogadores medianos, mais fáceis de se revelar, afastaram dos campos o talento. Falta uma Marta: não por sua superação e sim pelo seu talento.
Na última vez que tivemos um time bom, em 2006, o marketing encheu de veneno as expectativas de um torcedor brasileiro que adora um “oba-oba”, vendendo bons jogadores (Adriano e Kaká) como super craques.
Não tínhamos mais o Rivaldo, que se completava perfeitamente com “os Ronaldos”. Não tivemos um substituto à altura. Kaká era jogador de contra-ataque, carregador de bola, não de armação, o que sobrecarregava Ronaldinho Gaúcho, que vivia seu auge. Para piorar, Adriano, um centroavante pesado e de força, atrapalhava mais que ajudava o Ronaldo Fenômeno, porque era da mesma característica, do mesmo espaço.
Perdemos a Copa. Quais foram as análises sobre o que faltou? De quem foi a culpa? Do pagode de Ronaldinho Gaúcho… Nunca é porque o adversário foi melhor nem porque precisaríamos melhorar tecnicamente. Como para a mídia e marketing, temos que ser os melhores sempre, caímos em qualidade sem que ninguém gritasse por isso. Melhor e mais lucrativo culpar falta comprometimento, falta raça de um jogador (sempre tem um escolhido para Judas).
A culpa em 2006 não foi do pagode do Ronaldinho Gaúcho. Faltou o Rivaldo. Um Alex. Tínhamos dois gênios, os Ronaldos, entre um time de jogadores comuns ou em fim de carreira, como Roberto Carlos. Um meio campo com Emerson, Zé Roberto e Kaká. Faltou criação. Talento para criar. Faltou outro Gaúcho, faltou um Alex, faltou uma Marta.
Voltando às Olimpíadas… Já repararam o nível de comentário sobre os outros esportes? Quando perdemos ou vamos mal, os comentaristas falam a realidade: perde-se porque não se alcançou o nível de desempenho esperado, sem nunca culpar os que têm talento, e sim, ao contrário, exigir e buscar mais o talento. Esporte é força, esforço, superação, mas sobretudo, talento.
Voltando às Olímpiadas, falta sim uma Marta ao time de futebol masculino do país porque nos falta um camisa 10. Aquele camisa 10 que organiza, cria e chega na área sabendo fazer o gol. Pior: na Seleção principal também. Sim, falta uma Marta.
Neymar, extremamente conturbado, se equivocando num comportamento medíocre para a grandeza de um esportista do seu nível, além de ter abusado das férias, prejudicando sua condição física, não é um camisa 10. Ele é apenas um atacante. Ele não faz um time jogar e depende de um meia de criação para receber essa bola de frente para o gol como gosta. Teve Ganso no Santos. Tem Iniesta e Messi no Barcelona.
Na Seleção, Neymar mistura o fato de ser “uma andorinha só” com individualismo, pensa que fará verão e joga mal, óbvio! Precisa lembrar que, como um ídolo mundial pelo seu mérito, sim, mas também por jogar no esporte popular. Se ganha milhões em propaganda e imagem é porque aquele torcedor é seu consumidor e a atitude de um esportista adulto, um homem de verdade, passa em saber respeitar seu público.
Separando o joio do trigo, a razão maior para Neymar falhar como “a andorinha só”, além de confundir máscara com personalidade, é exigir que ele faça a função de um 10. É como pedir um atacante virar o levantador no vôlei. Adivinhem o resultado? Já pensaram o Tande jogando como levantador como o Maurício? É isso o que acontece com Neymar na Seleção.
Falta uma Marta porque falta talento. É assustador constatar que temos somente o Neymar com talento de alto nível. Ao lado dele, tanto na Seleção Olímpica quanto na principal, são jogadores apenas bons ou bem comuns, como Renato Augusto e aqueles volantes que correm, correm e nada produzem. Falta uma Marta. Falta talento de criação no futebol brasileiro masculino.
Enquanto continuarem tapando o sol com a peneira, abrindo mão do 10, do “Paulo Henrique Ganso” para escalar e reverenciar “os raçudos”, só “raçudos”, não iremos voltar a ser o país do futebol, título que perdemos.
Nessa década de 10, iniciada com Dunga como treinador do Brasil (nada mais emblemático), perdemos o respeito, ninguém mais nos teme. Nem o Iraque, nem a África do Sul.
Para uma apaixonada pelo clássico e verdadeiro futebol brasileiro, dá uma tristeza como se algo belo e encantador de minha vida me fosse arrancado. Drástico. “Parabéns” aos responsáveis. Vou assistir Olimpíadas agora…
::Toques rápidos::
– Ouro olímpica, Rafaela Silva já foi atleta do Fluzão. Deixou de ser por quê? Alguém sabe?
– Ouro olímpica, a tricolor Rafaela Silva tem uma história linda e triste. Linda porque superou as dificuldades de nascer num país injusto que não nos garante educação, saúde e segurança de boa qualidade apesar de ser uma das maiores potências econômicas do mundo. É o descaso criminoso do Poder Público.
Em participação no Jornal Nacional da última segunda-feira, ao ser perguntada sobre a importância na sua conquista do Mestre de Judô e seu Sensei, o professor Geraldo Bernardes, a 3ª sargento da Marinha do Brasil e campeã olímpica respondeu:
“- Ele representa tudo. Sem ele, eu não estaria aqui. Minha família não tinha dinheiro para pagar minhas despesas para competir e ele pagou minhas viagens e alimentação nesses anos todos.”
Sem ajuda de “Bolsa” isso, “Bolsa” aquilo na maior parte da sua carreira. Sem um centavo de estrutura dos demagogos, conhecidos como políticos, eternos exploradores dos pobres. Sem um centavo do imposto que deveria investir pesado em Educação.
Deveria ser através das escolas básica e fundamental a estrutura para os jovens terem acesso ao esporte e a arte. Não é assim porque não querem, afinal, como sabemos, dinheiro é que não falta. E não querem porque quanto menos educação, maior a falta de informação, de raciocínio, de liberdade individual, o que facilita a eleição e reeleição dos mesmos políticos. É o Brasil, esse feudo.
– POR FIM, MAIS RAFAELA: Rafaela era considerada uma criança agressiva, espevitada, malcriada. Vivia na Cidade de Deus, uma das comunidades mais violentas do Rio de Janeiro, mas ainda assim ela não escolheu o caminho fácil do crime.
Panorama Tricolor
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Imagem: bru
Aplausos!!!
ST