Amigos leitores,
Estou inaugurando hoje o que espero ser uma série de crônicas sobre o futebol, em especial sobre o Fluminense Football Club.
Começo falando da paixão pelo futebol, sentimento sem controle, que arrebata e domina, que inflama o peito e que torna as tardes de domingo únicas, como se o mundo parasse para assistir futebol.
Em frente à TV nos tornamos surdos e cegos para o mundo em volta. “Dialogamos” com os jogadores, espichamos a perna para fazer a jogada precisa e xingamos o juiz ou o cabeça de bagre que erra o passe, chuta pra fora ou engole um frango.
No estádio é diferente. Chegamos com o coração aflito, driblando carros e gente, bandeira na mão, ansiosos por entrar na arena e experimentar a magia de percorrer o pequeno e escuro túnel de acesso às arquibancadas e, de repente, ver o estádio se abrir em luzes, cores, batucadas e cânticos.
No momento em que os olhos captam as imagens das arquibancadas e do gamado e os ouvidos são inundados pelo som das charangas e hinos, a vida muda completamente. Trabalho, escola, família, igreja, dívidas, dores e aflições fogem da mente, nada mais faz sentido e nem importa. O torcedor do lado, até minutos antes um completo desconhecido, torna-se nosso melhor amigo no abraço do gol. E, estranhamente, temos as mesmas opiniões, os mesmos sentimentos, a mesma paixão tal como companheiros de toda uma vida, mas que dura somente até o apito final. Depois, nunca mais nos vemos, mas por duas horas fomos companheiros fieis, leais e daríamos a vida um pelo outro.
Durante o jogo parece que o cérebro se desliga do mundo exterior e nos aliena completamente. Na efemeridade da peleja, a esperança, a agonia, a tensão, a explosão de alegria ou a tristeza da decepção são os únicos sentimentos que nos lembram que estamos vivos. Futebol faz milagres, o jogo nos cura das doenças, o paraplégico anda, o cego vê e o mudo grita gol. Apenas o jogo, o time do coração importa. Nada mais!
E o gol? Ah, o gol, momento sublime e mágico. A jogada se desenrola, a iminência do gol injeta adrenalina no sangue, a perna começa a levantar o corpo, os olhos se esbugalham e os pulmões se preparam para soltar o ar que explodirá num grito de gol ou num abafado uuuuuuuuuuuuuuuu. A imagem da rede estufando santifica os ladrões e perdoa os ímpios. É a nossa maior conquista, o clímax do ato de torcer. Explodimos em emoção, abraçamos o sorveteiro, a mulher do torcedor vizinho, o vendedor de mate e até o policial, se ele deixar. O gol nos transforma em heróis de um acontecimento que apenas assistimos, mas que nos faz sentir donos da glória e do mérito da fantástica façanha de colocar a “gorduchinha” no “véu da noiva”.
Mas, nada, nada é mais emocionante do que ver tudo isso acontecer em um jogo do Fluminense. É privilégio do torcedor tricolor entrar no estádio e ver as bandeiras muticoloridas (ninguém tem igual) e o belo hino (o mais bonito do Brasil) sendo cantado por um coro de vozes afinado, como se houvesse treinado anos a fio. Ver a camisa tricolor sob refletores é como apreciar uma tela de Michelangelo, Giotto, Rafael, Veronese, Monet, Renoir, Degas ou Van Gogh. Ser tricolor é como palatar um bom vinho de tom grená, apreciar o sorriso branco de uma criança ou mergulhar num mar verde profundo.
Ser tricolor é muito mais do que experimentar um bom jogo de futebol e torcer pelo time. É amar o Fluminense e honrar sua tradição. Não somos tricolores por acaso, fomos escolhidos pelos deuses do futebol para torcer pelo time cujo futebol brasileiro se encarna em seus craques, como disse Nelson Rodrigues.
Afinal, o Fluminense me domina e eu tenho amor ao tricolor!
Meia Maratona do Rio
As imagens aéreas e no nível do chão mostradas no programa Esporte Espetacular no último domingo durante a meia maratona confirmam que o Rio é mesmo uma cidade maravilhosa, bela e bem cuidada. Nenhuma cidade do mundo tem o desenho natural do Rio, nenhuma é tão exuberante, nenhuma é tão charmosa. O povo que mora no Rio é mesmo privilegiado. Obrigado Deus por ter criado o Rio de Janeiro e deixar os homens fundarem o clube mais carioca de todos, o Fluminense.
Neymar & Tite
O desabafo do Tite após o jogo do Corinthians contra o Santos não foi apenas o choro de perdedor. Muito mais que isso, foi uma denúncia a um tipo de comportamento que revela o caráter do jovem craque santista. A dissimulação, a tentativa de enganar o juiz não são virtudes, são defeitos. Não tem valor a vitória alcançada à custa do engodo, não vale a pena vencer fora da moralidade. O Brasil está assistindo o julgamento do mensalão, que revela a falta de ética na política que envergonha o nosso povo. E essa ética distorcida nasce justamente a partir de desvios de comportamento não corrigidos e que merecem a nossa mais vigorosa repreensão. Por isso faço coro com o Tite. Também fiquei decepcionado com o Neymar, cujo comportamento não deve ser seguido pelos jovens que o admiram. Espero que ele jogue apenas futebol, como faz o Messi, e veja nesse puxão de orelhas do Tite uma lição para que melhore como atleta e como homem.
Jorge Dantas
Panorama Tricolor/ FluNews
Imagem: Sportv
Contato: Vitor Franklin
A casa é tua, Jorge! Salve!
Seja bem-vindo!
Saudações Jorge,
Excelente texto!
“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos…”
(Nelson Rodrigues)
STRI.
Excelente. Bem-vindo a esse “antro” de gente que escreve bonito! Falando em estádio, o que mais me chama (ou chamava) a atenção é o torcedor com o radinho colado no ouvido. Acho isso a imagem do Brasil. Hoje, na frente da TV, vejo um jogo ouvindo o rádio. Se não for o mesmo, é qualquer um. Parabéns, camarada Jorge.