Não se entrega a história (por Paulo-Roberto Andel)

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Tem certeza de que você quer a entrega?

Tem certeza de que o que você quer é que o Fluminense entregue uma partida, porque o hipotético prejuízo de um rival é mais importante do que a nossa história de luta, correção, ética e princípio desportivo?

Tem certeza de que o certo é igualar o comportamento do Tricolor aos mais abomináveis que já testemunhamos – e protestamos -, construídos à base de ladrilheiros, papeletas e portuguesas? E de uma entrega em 1996?

Tem certeza de que o clube que vestiu Marcos Carneiro de Mendonça, Preguinho, Castilho, Pinheiro, Telê, Didi, Assis, Ézio e tantos outros merece agora o papel de cemitério da lisura?

Tem certeza de que, depois de todos os massacres midiáticos que nossa torcida vem sofrendo desde 1996, na mais nojenta armação midiática já promovida contra um clube de futebol no Brasil, o que nos cabe é comemorar uma derrota por causa de outro time, completando 19 fracassos em 38 compromissos, estimulando mais deboches de estúdios e redações contra nós, desta vez por motivo justo?

pagar 1Tem certeza de que a pilha, a sacanagem, a grana em disputa, a briga por espaços comerciais e outros fatores são maiores do que a HONRA do Fluminense?

Tem certeza de que entregar o jogo é o que merece o cidadão Oscar Cox, semeador do nosso amor, que agora será justamente bustificado nas Laranjeiras?

Tem certeza de que, depois de oferecer o êxtase pela derrota, vai sobrar dignidade para se cobrar empenho no momento da necessidade da vitória?

Tem certeza de que vale a pena jogar no lixo o significado histórico da Taça Olímpica de 1949?

Se você tem certeza de tudo isso, é direito seu.  Apenas não conte comigo em suas fileiras. E nem me fale de amor ao Fluminense, pois o amor é bom, é honesto e não se compra, quanto mais com doze moedas de vingança em troca da própria dignidade.

Para mim, o espírito do Fluminense não se negocia nem tem preço. Ele não foi construído com os fracassos dos rivais em jornadas paralelas, mas com os tijolos das nossas conquistas e superações.

“Se quereis saber o futuro do Fluminense, olhai para o seu passado. A história tricolor traduz a predestinação para a glória”, disse o mestre Nelson Rodrigues. E quando se olha para este mesmo passado, se vê respeito, caráter, fidalguia.

“Fascina pela sua disciplina, o Fluminense me domina”, nos versos impecáveis de Lamartine Babo.  Disciplina. Coração, amor, paz, esperança, glória.

A expressão “entregar uma partida” encontra eco em outras palavras: decomposição, putrefação, depravação, desmoralização.

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Mas estou longe de ser o dono da verdade, felizmente – este papel cabe aos parlapatões das redes sociais. Apenas reproduzo o comportamento que um dia aprendi nas arquibancadas do Fluminense no Maracanã, nas Laranjeiras e em trocentos palcos mais modestos.

Em cada um deles, o nosso escudo significou liderança, vanguarda, justiça e honestidade.

Dizia Helio Andel que, em futebol, era possível aceitar tudo: derrota, goleada, baile, até mesmo rebaixamento – que é coisa muito triste mas não é vergonha, apenas um fracasso esportivo. A única coisa inaceitável para o pai era jogar sem vontade, fazendo corpo mole.

Quero vencer todos os jogos, pouco importando se o adversário é a Gávea, o Vasco, o Pitibiriba ou o Fiofó de Três Remelas. Como é impossível vencer todos, eu torço para que tente vencer, que lute, que mostre em campo o que é a história do Fluminense.

Quarenta anos depois, eu ainda respeito as lições de casa. O resumo é de cada um.

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poema o fluminense

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: exulla/ google

5 Comments

  1. Hola tricolores,
    Valeu, no caso me permita ocupar lugar em suas fileiras.
    ST

  2. Assino embaixo.
    Até posso respeitar (o que é bem difícil, convenhamos…) quem apoia a tal entrega. Mas isso é uma tremenda demonstração de covardia e baixeza de caráter, que não combina em nada com a história do Fluminense.

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