Fluminense 1 x 2 Junior Barranquilla – O empate teria sido mais justo (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, parece que a torcida do Fluminense e a crônica esportiva aprenderam, nos últimos jogos do Fluminense, a enxergar a performance do time para além do resultado. Tal foi a comoção com a má exibição no primeiro tempo contra os Dissidentes, que redes sociais e redações clamaram por providências. A continuar daquele modo, a casa ia cair mais cedo ou mais tarde.

A opinião pública deixou Roger contra a parede. Como as cabeças pedidas eram as de Nenê, principal alvo, como já fora a de Lucca em passado recente, e a de Egídio, autor de pênalti infantil no Fla-Flu de sábado passado, Roger deu ao povo o que ele pedia, inclusive com a entrada do aclamado Cazares.

É bem verdade que a troca, em passado recente, de Lucca por Kayky deu um verdadeiro upgrade no time do Fluminense. Kayky foi, desde então, o principal jogador em nossas manobras ofensivas, fosse iniciando jogadas, dando assistências ou fazendo gols (dois golaços, inclusive).

Quanto à entrada de Cazares logo de início, quem separa a análise da paixão sabe que o equatoriano não apresenta condição física exemplar. Nas duas vezes em que iniciou uma partida como titular, jogou 10 minutos e depois se apagou. O ganho físico com a entrada de Cazares inexistiu, mas o Fluminense, em troca, teve uma melhora tática, porque Cazares é um meia jogando no meio, ao contrário de Nenê.

Logo no início, Cazares fez lançamento espetacular para Kayky, que invadiu a área e tentou deslocar o goleiro buscando o canto improvável, mas o guarda metas estava atento e conseguiu a defesa, mandando a bola a escanteio.

Aqui é preciso uma pausa para falar do adversário. O Junior não é um cachorro morto. Os caras deram sufoco no River lá na Argentina. E ontem mostrou que não veio para o grupo da morte a passeio. Pode até ser que não se classifique, mas mostrou muita qualidade no jogo de ontem.

Foi um time organizado taticamente e com muita capacidade de imposição física, sem abrir mão da boa e velha técnica colombiana. Essa combinação foi letal para o Fluminense já no primeiro tempo. A disputa por espaço era insana de intermediária a intermediária. Marcavam nossa saída de bola, nossa transição ofensiva e nosso ataque com a mesma intensidade e organização.

Mesmo assim, já finalizáramos quatro vezes com perigo a gol quando nossa defesa relaxou e permitiu o cruzamento na área para a cabeçada de Valencia na pequena área, sem dar chance alguma para Marcos Felipe. O segundo gol, logo no início da segunda etapa, foi outra falha do nosso sistema defensivo. A preocupação em montar a linha de quatro defensiva, sem que houvesse uma cobertura nos dois homens de meio deles, que chegavam de trás, deixou Cetré livre para arrumar o corpo e mandar um lindo chute no canto esquerdo de Marcos Felipe.

Esse início de segundo tempo repete o que acontecia já pelo menos nos quinze minutos finais da primeira etapa. O Fluminense perdera a capacidade de se articular em campo, visivelmente dominado fisicamente. Mas, ora, se isso estava acontecendo desde o primeiro tempo, por que Roger não fez trocas no intervalo que melhorassem o nosso desempenho físico? Por que voltar com a mesma formação e tomar o segundo gol num lance em que Yago chega atrasado, desesperado, para tentar dar o bote no adversário?

Antes de responder a essa pergunta, nós precisamos trabalhar outro aspecto crítico do jogo. Amigas, amigos, se é para tirar o Egídio e colocar o Danilo Barcelos, melhor deixar o Egídio. Mas esse tipo de troca mostra o quanto Roger Machado está engessado nesse esquema de jogo.

Desde o ano passado, o Fluminense parece ter um esquema tática oficial, que já sobrevive ao terceiro treinador.

Vocês já repararam o quanto mudou as características dos jogadores de lado, mas mesmo assim eles fazem a mesma função em campo? Quase sempre, jogam como meias pelos lados, sendo atacantes. Com Cazares, ontem, até que os homens de lado jogaram mais próximos da área adversária, inclusive desperdiçando, cada um, uma grande oportunidade de abrir a contagem.

E aí não fica difícil responder à pergunta sobre a inércia de Roger no intervalo. Em que ele mudaria o time simplesmente trocando peças? Melhoraria fisicamente, não é? Mas Roger tiraria Fred no intervalo para colocar Abel Hernandez, que era a substituição mais óbvia? Não, depois de levar o segundo gol, Roger recorreu ao expediente mais criticado nos últimos dias: colocou Nenê e Fred para jogarem juntos novamente. Saíram Cazares, Luis Henrique e Kayky. Entraram Caio Paulista e Gabriel.

É muita ingenuidade acreditar que Caio Paulista vai mudar as partidas desfavoráveis para nós sempre que entrar no segundo tempo. Da mesma forma, nem sempre obteremos ótimos resultados sempre que trocarmos todo o setor ofensivo com 15 minutos do segundo tempo. Fizemos isso contra o próprio Junior no jogo de ida e o time caiu assustadoramente de produção, numa jornada em que fazia talvez sua melhor partida no ano.

Sem variações táticas e com ideias engessadas fica difícil reagir a estímulos e desafios diferentes. Ora, se o nosso meio estava sendo amassado, por que não fazer as seguintes trocas no intervalo:

 Sai Fred, entra Abel Hernández, para aumentar a pressão em cima da saída de bola do Júnior e aumentar a movimentação em cima da última linha colombiana?

 Sai Cazares, entra Samuel Xavier, com esse último ocupando a lateral e Calegari indo formar o meio com três volantes, dando mais cobertura a zaga e melhorando nossa transição ofensiva?

 Sai Danilo Barcelos, entra Gabriel Teixeira, recuando Luis Henrique para a lateral, ganhando mais fôlego e verticalidade ofensiva, poder de criação pelo lado esquerdo e mais volume no setor de criação do meio de campo, já que tanto Gabriel, quanto Luis Henrique, possuem características de criação de jogadas e aproximação com os meias?

Com o passar do tempo, Kayky não reagindo no jogo, aí sim colocaria o Caio Paulista e, no último caso, cansando um dos volantes, colocava o Ganso para jogar mais à frente, municiando o ataque. Mas não tem Nenê nessa ideia, e parece que Roger estava aflito esperando a hora de colocá-lo em campo. Talvez sabendo que a ideia de começar com Cazares não daria certo. Afinal de contas, havia comprovação estatística disso.

Eu vejo muito o pessoal falar em Jefté, e concordo que o garoto poderia ter uma chance, mas alguém já pensou no Julião na lateral-esquerda? Julião fez boa partida atuando nessa posição com Odair Hellmans no ano passado. Julião fez grande exibição atuando como meia no Fla-Flu da Taça Guanbara esse ano. Fez o gol da vitória: um golaço.

Eu estou aqui escrevendo um monte de coisas, falando de ideias, não é que eu tenha exatamente preferência por essa ou aquela, mas é para ver se a gente areja um pouco essa discussão.

O Fluminense teve evolução no primeiro tempo de ontem. Aumentou a posse de bola, teve quatro finalizações perigosas a gol em três chances claras. Teve um repertório razoável na construção a partir do meio de campo, mas infelizmente a gente tem que entender que o Cazares não é a solução. Cazares é jogador para os 30 minutos finais, quando os espaços aparecem e ele pode usar suas habilidades para dar velocidade com precisão às ações ofensivas e manter o meio de campo produtivo e organizado.

Agora, a solução não é voltar a colocar o Nenê como titular ao lado do Fred. Seria meio passo para frente, meio passo para trás. Ah, vai colocar o Ganso no Fla-Flu? Se é para mudar sem mudar muito, boa ideia. Guarda o Cazares para os 30 minutos finais.

Meu time no Fla-Flu? Marcos Felipe; Samuel Teixeira, Nino, Lucas Claro e Igor Julião; Martinelli, Yago, Luis Henrique e Calegari; Caio Paulista e Abel Hernández.

Parece algo muito louco? Olha a intensidade desse time! É para torrar o saco e arrancar o pulmão do peito dos Café com Leite no primeiro tempo. Muita marcação, muita intensidade, muita correria, transição rápida, duas carretas desgovernadas em cima da linha defensiva deles.

Aí você, no segundo tempo, coloca o Cazares, o Gabriel e o Kayky em cima da defesa deles, que vai ter gol de tudo quanto é jeito.

Exagero? Otimismo em demasia? Talvez! Provavelmente. Não vai ser, todavia, com esse pensamento engessado que nós vamos alcançar um patamar que nos qualifique a ser alguém, de verdade, nessa temporada.

Agora, não tem nada perdido, não.

Podemos ganhar o Flamengão 2021? Sim, podemos. Foi com esse futebol meia boca que nós construímos uma invencibilidade de três jogos contra eles. Desesperar-se com o resultado contra o Junior só faz sentido se levarmos em conta que teremos que decidir a vaga na próxima fase contra o River em Buenos Aires, mas vale lembrar que o River entra em campo daqui a pouco com os onze atletas que sobraram do surto de Covid, e, pelo protocolo, serão esses os mesmos que enfrentarão o Fluminense.

Não é o melhor dos mundos, tampouco o que mais nos dignifique, mas é o que temos para o momento. Começamos a semana pensando em garantir a vaga nas oitavas da Liberta ontem e ganhar o Flamengão no sábado. Podemos ganhar o Flamengão no sábado e temos tudo para garantir a vaga na próxima fase na Libertadores na terça, mesmo que Roger não promova as transformações pelas quais tanto esperamos.

Saudações Tricolores!

1 Comments

  1. Grande Marcelo!!! A maior parte da torcida do Fluminense pediu a saída do Nenê, mas pediu também uma mudança no sistema, não adianta mudar uma peça, sendo que essa peça continua fazendo a mesma função do anterior. A única bola que o Cazares pegou onde ele deve jogar deixou o Kayke livre, na cara do gol. É bem nítido que nosso time precisa povoar o meio campo, temos peças com capacidade de criação, não adianta entrar com 2 volantes, sendo que um deles só corre como um desesperado, sem objetividade. Temos que ter 2 volantes sim, mas temos que ter 2 armadores para poder municiar nossos atacantes.

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