Editorial – Surrealismo tricolor

Durante anos, ninguém falou em público pelo Fluminense além de Mário Bittencourt. Nenhum Vice-Presidente tricolor emitiu um pio que fosse, mas com a chegada do ano eleitoral finalmente surgiram as falas de Matheus Montenegro, respeitado por esta casa e muitos de nossos colegas.

As referências são boas, mas não tem jeito: cortes recentes de Montenegro em lives chegam a ser constrangedores, para não dizer ridículos, no sentido de tratar os torcedores mais informados como verdadeiros idiotas.

Num deles, de maneira delirante, declara que o Fluminense enquanto clube é completamente diferente a partir da gestão MaBi, incomparavelmente melhor. É difícil sustentar tal argumento diante de balanços fraudados, aumento significativo da dívida, novas lutas contra o rebaixamento, altíssima rotatividade de jogadores questionáveis etc. A Libertadores foi uma conquista importante e só. E a maior prova de que o trabalho no clube era frágil está no fracasso esportivo desde 2023, salvo apenas pela anêmica Recopa e a “pilha” em vencer a fraquíssima LDU.

Noutro corte, recentíssimo, Montenegro resolve terceirizar a culpa dos descalabros tricolores nas costas de Roger Flores. O comentarista, com propriedade, afirmou que o presidente MaBi estava rasgando dinheiro com os equívocos nas renovações de contratos dos treinadores na corda bamba, casos diretos de Fernando Diniz e Mano Menezes.

Rasgando dinheiro do Fluminense, não o do próprio bolso, é claro.

Em vez de reconhecer o problema evidente, o que faz Montenegro? Lança um desafio para alguém provar que Roger é tricolor, pois alega que o comentarista odeia o clube e só fala mal. Um argumento digno dos piores anos do Flusocismo…

Em suma, não foi Roger que arrombou as contas do clube, que montou um elenco cheio de jogadores desalinhados – e alguns fraquíssimos, que deixou o barco correr até a última linha de risco de rebaixamento.

Não é Roger que está querendo entregar o Flu a troco de banana numa transação duvidosa de ponta a ponta.

Ao reproduzir o discurso presidencial, com pouquíssimos cortes Montenegro perde uma credibilidade mantida intacta por anos.

Já o mandatário terminou a noite de quarta com vídeo em close, usando as redes tricolores em causa própria sob o pretexto de chamar a torcida para os jogos do Fluminense desta quinta, no Maracanã e Maracanãzinho. Na verdade, era somente propaganda pessoal no melhor estilo de Odorico Paraguaçu.