O surdo deu seu primeiro sinal.
Tum!
De todos os cantos saía gente. Em alguns becos mal se podia acreditar como brotavam tantas pessoas. Era um aviso. Eles sabiam o significado.
Agora o surdo tinha cia. Um tamborim. Então o repique. O cavaco, o chocalho, a cuíca.
Era dia de festa. Das bocas em sorrisos sinceros e despretensiosos. Dos pés inebriantes e ousados. Dos corpos suados com carnes tremulando. Das forças inexplicáveis mesmo em dias difíceis, da amnésia saudável desse fenômeno chamado carnaval.
O batuque se fazia ouvir ao longe, misturando-se ao choro do bebê, aos copos tilintando com cerveja gelada, às gargantas em uníssono e aos beijos dos apaixonados e dos nem tão envolvidos assim.
A alegria sem motivos. Os dias de redenção dos sofredores. Os mesmos corpos que se amontoavam nos coletivos indo e vindo do trabalho, agora se tocavam no mesmo ritmo na avenida.
Os mortos de Nelson Rodrigues levantaram das tumbas sambando. Já era alvorada na Mangueira de Cartola quando o povo desceu o morro. O guri de Chico Buarque foi o primeiro a chegar no pé de um Maracanã receptivo aos seus.
Veio acompanhado do povo. Era a multidão. Era o samba unindo bandeiras diferentes, paixões diferentes, mas um amor infinito pela festa, pelo futebol, pelo samba.
Era um Rio de sonhos. Um Rio que, infelizmente, não passou em nossas vidas, mas levou nosso coração sem fazer força.
O surdo deu seu último sinal.
As cinzas recolhidas em uma quarta-feira ensolarada.
Abraçaram-se.
Recolheram-se.
A saudade da bola. Era o Fluminense em meus mais profundos desejos.
Agora recomeça a vida.
Panorama Tricolor
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Imagem: ex/pra