Era uma noite de incertezas. Na primeira partida da decisão, o Flu não perdera por um triz: levou um golaço no fim do jogo, conseguiu o empate e a torcida saiu silenciosa. Eu gritei muito, ao lado de meus amigos Raul, Gomes e Tiba: depois de uma reação como aquela – saída dos pés do desconhecido Thiago Neves -, o título estava assegurado.
Não pude ir ao Orlando Scarpelli. Fui para a churrascaria Estrela do Sul na praia de Botafogo, que já não existe mais, com o Tiba. Colocaram um telão, tricolores anônimos e famosos apareceram. O Flu fez tudo diferente: acostumado a ganhar campeonatos no último segundo, venceu daquela vez com um golaço no comecinho e depois aguentou firme. A jogada de Adriano Magrão para Roger é um clássico eterno da história tricolor.
Jogando em casa, o Figueirense fez de tudo para empatar, mas não conseguiria: o nosso time era um demônio na marcação e, quando a bola chegava ao nosso gol, o inacreditável Fernando Henrique defendia tudo, às vezes até com as mãos. Reconheço: ele foi um monstro.
Ainda na churrascaria, em certo momento da partida alguém deu um passe para o lado e gritei: “Lança essa, Deley! Vamos decidir o jogo!”. Encostado numa pilastra, vendo o jogo em pé e saboreando um drinque, o eterno craque retrucou: “Não dá pra mim, brother”. E rimos.
No fim do jogo, fizemos nossa caminhada da vitória até a casa sagrada. A Pinheiro Machado virou um mar de três cores. Lembro de muitos jovens cantando e pulando. Foi uma noite imortal. No dia seguinte o mar tricolor invadiu o Santos Dumont e Renato, sempre ele, fez sua tradicional pose de fanfarrão com grandes óculos escuros, sem sorrir, na frente do caminhão que trouxe os campeões – ele pode. A correria foi maravilhosa.
Dez anos depois, o que lembro é que aquela conquista foi absolutamente sensacional. Ela foi mergulhada em teatro. Depois daquele seis de junho, viveríamos infernos e céus, tragédias e alegrias. O Fluminense desde 2007 virou protagonista do futebol brasileiro, fosse conseguindo grandes conquistas, fosse vivendo grandes dramas, fosse fuzilado pela imprensa calhorda do país. Viveu, sorriu, chorou, ganhou cicatrizes e lembranças inesquecíveis. A saga permanece até hoje, quando novamente desacreditados, estamos revivendo a história do “timinho” que pode ir longe.
Há dez anos, o Fluminense que eu vivi inundou meu peito de alegria. Foi a primeira vez naquele 2007 que eu tive um dia de felicidade, desde a passagem da minha mãe, ocorrida meses antes. E também foi o último título visto por meu pai.
A Fernando Henrique, Roger, Adriano Magrão, Renato Gaúcho, Carlos Alberto, a turma toda, aquele velho Maracanã imortal e tudo mais, um abraço da mais sincera saudade.
Imagem: Fernando Maia – O Globo
@pauloandel