Numa noite como essa de domingo, o que me faz falta é pegar um dinheiro com meu pai, descer para a Bella Blú e comprar uma pizza bem grande. A gente comia em silêncio, eu ficava esperando a mesa redonda da TVE, os gols do Fantástico e pensava na escola no dia seguinte, Instituto Santo Antônio de Pádua, o Padão, rua Tenreiro Aranha, a vila, ao lado do shopping.

Sem pai, sem mãe, sem família, sem Bella Blú, sem TVE, sem a juventude, tudo fica incomparavelmente mais pesado. Tanto faz se você tem 11 ou 50 anos: os verdadeiros amores são eternos. E doem, doem de rasgar o ventre.

O Flamengo massacrou como naqueles tempos, mas o time dele não é aquele, nem o nosso é aquele outro. Muita coisa mudou. O problema é que, assim como não há mais pai, mãe, Bella Blú e escola, também não surge mais um Deley, um Robertinho, o Mário. Não tem mais preliminar, nem pó de arroz, nem torcida, nem nada. Só sobrou o cachorro quente Geneal. Onde foram parar os astronautas que vendiam refrigerante, todos de branco com capacete e tanque nas costas?

O que sobrou foi conversar com os amigos no Whatsapp. O problema é que o amor dói.

Sábado que vem eu vou lá. Fico procurando um Maracanã que não mais existe, uma torcida que não mais existe, o meu pai que não mais existe. Olhando para 2019 e procurando 1978, 1989 ou 1995, quem sabe os restos de 2007 e 2008, ou voltando a 1990?

Alguns ainda estão por perto, outros nunca mais verei, não há mais tempo. Só espero que isso não seja morrer, ainda não está na hora, ainda falta alguma coisa.

Futebol é muito mais do que um jogo. É a vida da gente escorrendo e vamos lembrando, lembrando, lembrando, fazendo das alegrias o eterno presente. Castilho ainda está por aí por isso, assim como Didi e Telê. Assis e Washington, Altair. O passado longínquo é nosso pequeno prazer efêmero. Lembrar, sonhar, ser menino. O futuro que deveria ter demorado bem mais.

Vida que segue, ou o que resta dela.

Panorama Tricolor

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