Conmebol 67% x 27% CBF (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, previ, antes da parada para a Copa América, que o Corinthians seria um dos times que mais se beneficiaria da interrupção na temporada. Carille é um grande técnico e conseguiu transformar aquele Corinthians modorrento do primeiro semestre em um time rápido, ofensivo e bem postado defensivamente, uma característica já inata às equipes corinthianas.

Não por outra razão, vem subindo na tabela no Campeonato Brasileiro. Assisti à partida entre Corinthians e Botafogo e vi um verdadeiro massacre técnico e tático. E olha que estamos longe de ver um time cheio de super estrelas.

Diante do confuso momento pelo qual passa o Fluminense em seu departamento de futebol, com a consequente demissão de Fernando Diniz, era natural que a crônica esportiva enxergasse um expressivo favoritismo para o rival. Eu mesmo tive essa impressão e registrei em minha última coluna.

A minha impressão mudou ainda antes do jogo quando o Fluminense anunciou a contratação de Osvaldo de Oliveira. A simples ideia de que o Fluminense não atuaria de forma desorientada e sem um comando técnico já trouxe uma mudança de perspectiva. A presença do novo treinador no treino de terça-feira foi um fato positivo.

A escalação não me disse muita coisa. A entrada de Frazan no lugar de Digão passava longe de ser uma ameaça. Não me lembro de ter visto Frazan fazer uma única exibição comprometedora esse ano. Ontem não foi diferente. A entrada de Nenê no lugar de João Pedro me pareceu uma tentativa de atuar com um meio de campo mais povoado, ao mesmo tempo em que tirava-se a referência da zaga corinthiana.

A principal característica do Fluminense no jogo de ontem foi a marcação mais recuada, principalmente na segunda etapa. Chegamos a marcar no 4-5-1, com o time compactando atrás, ficando Nenê isolado na primeira linha de combate. Com isso, conseguimos eliminar o ponto forte do Corinthians, que é a transição rápida.

Além disso, a postura dos nossos laterais mudou. Ficaram mais atrás, fechando os espaços que os adversários encontravam pelos lados do campo, nas costas de Julião e Caio Henrique, o que, naturalmente, suprimiu, em contrapartida, parte do nosso poderio ofensivo e capacidade de imposição de jogo.

A consequência dessa postura do Fluminense foi um jogo em que as defesas sobrepujaram os ataques e pouco se viu em termos de grandes oportunidades de gols, o que, certamente, favorecia ao Fluminense. O recuo excessivo na fase final do jogo, no entanto, acabou se mostrando perigoso. Embora só nos ameaçasse com bolas alçadas na área, o fato é que o Corinthians esteve perto do gol.

No final, 55% de posse de bola para o Corinthians, mas o resultado foi do Fluminense. Uma partida sem sofrer gols, algo raro, e a possibilidade de decidir no Maracanã lotado daqui a uma semana.

Tudo isso pode levar os analistas mais apressados a vaticinarem que a demissão de Fernando Diniz foi um acerto e que o Fluminense, mais pragmático, está no caminho certo. Concordo que um pouco de pragmatismo não faz mal a ninguém, mas devo chamar atenção para um outro aspecto importante.

Na partida de ontem, não tivemos contra nós a arbitragem. É, aliás, o que vem acontecendo ao longo da Copa Sul-Americana, onde os árbitros são da Conmebol. Por essa razão, entre outras, claro, temos, até aqui, a seguinte performance: 4 vitórias, 2 empates e 1 derrota. Isso equivale a 67% de aproveitamento, contra os 27% do Brasileiro.

Ocorre-me, então, a lembrança de dois jogos. Só dois. Contra Goiás e CSA. Em ambos esses jogos a nossa vitória foi transformada em derrota pelas arbitragens. Somem esses seis pontos e teríamos dezoito, no meio da tabela, na 12a posição.

Reparem as amigas e os amigos que eu estou falando de duas partidas. Quem conseguir um tempinho para fazer um levantamento completo certamente concluirá que, sem os erros de arbitragem, estaríamos na parte de cima da tabela.

Apesar do futebol mais pragmático de ontem, por vezes até feio de se ver, o Fluminense fez uma partida equilibrada com o Corinthians, o que não percebo como surpresa alguma. O natural do Fluminense é ser melhor que os adversários durante as partidas. Tem sido assim ao longo da temporada. Mais posse de bola, mais chutes a gol, porém, infelizmente, mais derrotas.

Por que as derrotas se jogamos melhor, criamos mais e finalizamos mais? É claro que não dá para colocar tudo na conta da arbitragem. Tivemos falhas individuais, momentos de desconcentração coletiva e erros de Fernando Diniz. Caso removêssemos todas essas variáveis de nossa trajetória, estaríamos, provavelmente, brigando pelo G-4, pela simples razão de que jogamos mais que nossos adversários.

O fato é, podemos concluir com facilidade, que Diniz nunca foi o problema do Fluminense. Era preciso fazer ajustes, claro, mas não era a falta deles a grande responsável pelos nossos tropeços e sim as arbitragens tendenciosas.

Tudo isso me leva a concluir que, se o Fluminense quiser se livrar da luta contra o rebaixamento no Brasileiro, terá que fazer algo para neutralizar a ação sistemática das arbitragens para nos prejudicar. Ou isso acontece, ou teremos, daqui a alguns dias, a torcida pedindo a cabeça do Osvaldo de Oliveira e, junto, merecidamente, a do Celso Barros.

Então, a demissão do Diniz continua sendo um erro dantesco e não foi a sua saída que nos propiciou o bom resultado de ontem, porque temos obtido grandes resultados na Sul-Americana mesmo com ele no comando, e isso inclui o Peñarol, líder do Campeonato Uruguaio, que sapecou o Flamengo na Libertadores em pleno Maracanã.

Repito, o resultado obtido diante do Corinthians não é uma surpresa, como não será nada de absurdo se formos campeões da Sul-Americana. Temos time e elenco para isso. Resta saber se ainda temos técnico. Caberá a Osvaldo provar que pode fazer um trabalho à altura do trabalho de Diniz.

Se eu acredito nisso? Acho que é muito cedo. Não temos uma referência para fazer essa análise. A referência será o produto que veremos em campo nas próximas partidas. Mas é bom ficarmos atentos porque mesmo que faça um bom trabalho, talvez ele não seja reconhecido por causa dos resultados no Brasileiro, exceto caso o Fluminense aja nos bastidores e acabe com a pouca vergonha que vem sendo as arbitragens em nossos jogos.

Repito, enfim, que, embora não se possa analisar uma performance com base em um único indicador, a única causa da desproporção entre os nossos resultados na Sul-Americana e no Campeonato Brasileiro atende pelo nome de “arbitragem”.

O nível dos adversários não é diferente, os nossos erros individuais não são diferentes, o nosso modo de jogar tampouco, assim como os erros coletivos. A diferença é a ação danosa da arbitragem. Logo, demitir Diniz foi uma perda de tempo. Foi colocar o Fluminense diante de mais uma ameaça, que é o desmonte de um modelo que tinha tudo para nos levar muito longe. Vamos torcer para que essa ameaça não se concretize e esperar que a direção do clube foque no verdadeiro inimigo, ou corremos o risco de comemorar o título da Sul-Americana na Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

3 Comments

  1. Boa noite, Marcelo !
    Sou do Nordeste, tricolor apaixonado. Gostaria de falar com você um assunto sério. Não pode ser aqui no site.
    Tem como vc me dizer uma maneira que pudessemos conversar?

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