Chico Buarque (por Paulo-Roberto Andel)

 

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No dia de aniversário de 69 anos, o que se pode fazer para falar de Chico Buarque sem cair no lugar-comum, no mais do mesmo? Difícil, mas vamos lá.

Herdeiro direto da tradição de Noel Rosa, comandante da sofisticação da música popular brasileira há quase meio século, poeta colossal e inquestionável, sex-symbol já na terceira idade com o mesmo magnetismo de antes que enfeitiça as mulheres, artista engajado capaz de enfrentar a ditadura, o ex-presidente FHC e a mídia conservadora – que adoraria poder criticá-lo, mas não tem a devida coragem – ou ainda na esperança da “Nova República”, com o clássico “Vai Passar” ao lado do parceiro Francis Hime. Bem-nascido, bem-criado, reconhecido mundialmente, mas com sua obra sempre dando atenção aos humildes de alguma forma, tal como Sebastião Salgado faz na fotografia – o próprio Chico fotografou em suas letras a imagem do samba, da gafieira, dos botecos, de uma boemia saudável hoje escassa nas grandes capitais.

Sua obra misturou-se com a de outros gigantes da música brasileira – o que dizer de seu parceiro tricolor Tom Jobim? Ah, sim: nenhum outro grande compositor de música popular sabe traduzir tão bem os anseios da alma feminina em suas letras. Muito antes das injustiças sociais de eras recentes lá estava Chico a denunciar mazelas com pérolas como “Meu Guri” e “Geni e o Zeppelin”. Bem antes disso, ainda garoto, já era craque dos profissionais: “A Banda” e “Construção”. O recado aos ditadores e seus lacaios foi bem dado com “Apesar de Você” – quando a coisa apertou na censura, bastou virar Julinho da Adelaide, mostrar todo o seu talento e os censores idiotas ficaram a ver navios, tentando descobrir qual era a do “novo compositor”.

O aniversário de Chico também serve para louvar a tradição tricolor de gigantes das artes em suas arquibancadas. Falei aqui de Tom Jobim, mas poderia tranquilamente dizer sobre Maria Bethânia, Elis Regina, Gilberto Gil, Fagner, João Donato, Ivan Lins, Renato Russo, João Barone, Toni Platão, Dado Villa-Lobos – pequena amostra do que é a música do Brasil vestida com o garbo tricolor. Basta ou ainda precisa mais?

Ora gozando o grande amigo rubro-negro Ciro Monteiro em letra de música, ora vestindo a camisa do Flu e assumindo sua condição de torcedor fanático de futebol num tempo em que isso era tabu – nos anos de chumbo, o esporte era tido como coisa de “alienado” e, por isso, não “merecia” a atenção dos artistas e intelectuais -, Chico atravessou fronteiras e conseguiu algo muito difícil para qualquer artista em qualquer lugar do mundo: juntar o sofisticado e o popular de tal forma que seja aceito por todas as classes.

Em pleno gozo de vida e boa saúde, cantado e decantado pelos quatro cantos do mundo, Chico Buarque trouxe o Fluminense para sua imagem e obra desde sempre. Símbolo eterno tricolor, ele faz da nossa torcida um orgulho celeste. Em dias de voz do povo nas ruas, tais como esses que estamos passando nas ruas do Brasil, é bem fácil buscar num álbum musical de Chico uma canção alusiva ao tema. Ou duas. Ou dez.

A Chico, o PANORAMA (com trocadilho) oferece uma canção de aniversário: “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil. Lembrança de tempos difíceis para o país mas, para variar, de grande jornadas tricolores nos gramados. Um dia Chico foi para Roma: a barra pesou. Outro dia, voltou e continuou a ser o que sempre foi desde que surgiu artisticamente: a bússola da excelência da música brasileira. Aí está até hoje: imbatível. “Eis o malandro na praça outra vez”. Pensando bem, sempre esteve.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

3 Comments

  1. Anda sumido. Poderia fazer uma música popular sobre o Flu com tantas que se fez para outros clubes. Só conheço uma dele, Bom Tempo que menciona o tricolor en passant. Saudades dos bons tempos!

  2. Brilhante homenagem a esse gênio da nossa mpb!

    Parabéns, tricolor!

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