Chega de 2017! (por Zeh Augusto Catalano)

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Estou com 47 anos de idade. O tempo, amigo, passa muito rápido. Era ontem que eu pegava o 247, vindo do Méier, pra ver meu time jogar no Maracanã sem divisórias ou cadeiras. Chão de cimento. Entradas apertadas, que provocavam aquele descortinar daquele templo de sonhos.

Faz um longo ano que meu amigo Marco Aquino, tricolor de quatro costados, foi para uma melhor, ver Assis e Castilho jogarem no Fluminense dos Céus. Ele era jovem, e sua morte foi uma terrível surpresa.

Faço essa reflexão após mais uma temporada jogada no lixo. Um ano inteiro em que o time do Fluminense oscilou entre o limbo do nada e o perigo do rebaixamento.

Sábado passado, eu assistia ao finzinho de Liverpool x Chelsea, quando chega aqui na minha casa um amiguinho da minha filha, tricolorzinho de sete anos. Mudei então para Fluminense x Sport. “Ah, agora eu quero ver o jogo!”. Todo feliz. O Fluminense já perdia e se arrastava em campo. Uns minutos depois, o Sport mete o segundo gol. O menino largou de mão. Foi brincar com minha filha. Nem o gol de bicicleta o trouxe de volta.

As consequências de uma (duas, três, cinco…) temporadas opacas como essa são muito maiores do que o prejuízo financeiro de rendas medíocres e ausência das competições internacionais. São a causa de vermos cada vez mais pirralhos vestidos de Chelsea, Real Madrid, Barcelona, em vez de Fluminense, Vasco, Botafogo… A nossa paixão, dos burros-velhos que vimos os grandes times de 70, 80, 90, que frequentamos o Maracanã religiosamente, não cresce no ambiente árido de narrações chatíssimas e sucessivas atuações medíocres. As crianças se desinteressam. E esse prejuízo é muito difícil de ser recuperado.

Este foi um campeonato fraquíssimo. O Corinthians fez todo o esforço do mundo para não ser campeão. Ninguém aceitou o convite. Times recheados de jogadores caros, como Palmeiras, Santos, Atlético Mineiro e Flamengo tiveram temporadas deprimentes, oscilando boas atuações com partidas inaceitáveis. O Fluminense esteve abaixo disso. Teve boas atuações esporádicas num ano triste.

Vejo as coisas do Fluminense de fora, sem aquela paixão de torcedor que embaça os olhos. Foi um ano difícil, em que a nova gestão do clube pagou um preço alto pela inexperiência – exatamente como um garoto lançado no time profissional.

Abro aqui parênteses para reforçar um ponto muito importante sobre o futebol de hoje em dia: os grandes clubes do Brasil são verdadeiras fábricas de dinheiro, mesmo quando em crise, como todos estão hoje em dia, raras exceções. Os gestores eleitos para administrar um clube movimentam mais grana do que a grande maioria dos municípios do país, e isso sem nenhuma estrutura de controle. (Por favor, não me venham com conselhos fiscais, deliberativos etc). Por isso, em muitos lugares ninguém quer largar o osso. Aonde, em que mercado, público ou privado, uma pessoa vai ter acesso a esses montantes? Em que empresa um semi-analfabeto pode pleitear o cargo de relações-públicas? Não se enganem. Não é paixão. É dinheiro. Lucro. Poder. Exposição na mídia. Holofotes. Televisão.

Nessa lógica, o caminho mais fácil que a nova diretoria do clube poderia ter tomado em 2017 teria sido o de contratar dois ou três medalhões sem saber como ou de onde tirar dinheiro para pagar. Isso iria certamente trazer resultados imediatos (ou não!) e aliviar a pressão que vem das arquibancadas e redes sociais. Mas os caras optaram pelo caminho que me parece o correto, o da austeridade. Receberam um pacote de jogadores velhos e com contratos longos e caros. Aguentaram o tranco e atravessaram um ano turbulento com um técnico sabidamente torcedor do clube – que viveu certamente o pior ano de sua vida. Olhando lá pros lados de São Januário, ou mesmo pra Gávea, onde se enterram milhões sob uma muralha, o horizonte parece muito mais calmo. Isso, ao meu ver, é muito digno de elogios. Resiliência. O comando não cedeu à fúria imediatista. Suportou a pressão dos momentos ruins e encerrou o ano, aos trancos e barrancos, mas sem desvarios. Ou seja, o Fluminense começa a pensar 2018 comandado por uma diretoria que não se comportou de forma irresponsável ou aventureira.

Vai dar certo? Não se sabe.

Só sugiro muito cuidado com estas víboras de facebook e redes sociais, que só aparecem para sentar o pau quando as coisas vão mal. É muito fácil e muito cômodo criticar o trabalho dos outros. Difícil é fazer. Porém, pior do que criticar as atitudes ou ideias de alguém, é descer ao nível de xingar e ofender a pessoa, por pura falta de argumentos.

Sou amigo do Paulo-Roberto Andel há 30 anos, e conheço o Marcus Vinicius Caldeira há quase isso. Discordamos de praticamente tudo em termos políticos e religiosos, o que não me impede de escrever aqui nesse espaço, muitas vezes sob óticas completamente distintas sobre futebol e o Fluminense. O PANORAMA existe há cinco anos e meio, e é uma iniciativa de nós três. Por aqui já passaram várias pessoas que se aproximaram e se afastaram, pelos mais variados motivos. Discordância no campo das ideias não foi um deles. Ou, se foi, o foi por decisão do próprio, não do Panorama.

Não sou torcedor do Fluminense. Por causa disso, já quiseram me impedir de escrever nesse site, mal sabendo que fui eu quem o desenvolvi. Enquanto isso, tem muita gente que se diz Fluminense, mas quer, na verdade, futuramente se aproveitar da instituição para mamar em suas tetas, financeiras ou virtuais. Posso afirmar que não ganhamos, até hoje, um único centavo com esse site. Espero que consigamos um dia. Caso negativo, temos a certeza de que fizemos algo que divertiu e informou as pessoas que nos leem. Que as fez refletir sob óticas distintas às delas.

Pensar é algo cada vez em mais desuso na sociedade do século 21. Muitos dos que bostejam nas suas redes sociais infelizmente não têm essa capacidade. O ano foi difícil no Fluminense, no Brasil, nos Estados Unidos, na sua casa, na minha, no mundo.

É esse o 2017 que está chegando ao fim. Dias melhores virão, se você fizer seu melhor.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#JuntosPelo Flu

Imagem: zac