Cartola, 108 anos (por Marcus Vinicius Caldeira)

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Neste 11 de outubro, se vivo fosse, Angenor de Oliveira – ou simplesmente Cartola – faria 108 anos.

“Bate outra vez, com esperanças o meu coração/ Pois já vai terminando o verão, enfim/ Volto ao jardim, na certeza que devo chorar/ Pois bem sei que não queres voltar para mim/”

Um dos maiores gênios da música popular brasileira, co-fundador da escola de samba Estação Primeira de Mangueira e tricolor de coração, Cartola é (imortal, portanto continua sendo mesmo após sua passagem) o símbolo da genialidade popular, da humildade, do pensar um mundo de amor e paz e das lindas melodias.

Um poeta que mesmo sem ter muito estudo – após a morte da mãe, quando ele tinha 15 anos, precisou trabalhar –  foi capaz de construir versos maravilhosos que muito doutorzinho jamais seria capaz de fazê-lo.

“A sorrir / Eu pretendo levar a vida / Pois chorando / Eu vi a mocidade / Perdida”

Cedo, passou a trabalhar como ajudante de pedreiro onde passou a usar um chapéu para se proteger do cimento que caía e daí veio o apelido Cartola!

Com uns amigos, fundou o bloco dos Arengueiros no morro de Mangueira, que viria ser a espinha dorsal para a criação do G.R.E.S Estação Primeira de Mangueira.

Aliás, sobre a Mangueira cabe um aparte. Muitos associam a escola – por ser popular – ao Flamengo, clube mais popular do país; porém, apesar de portelense eu frequento a Mangueira desde 2002 e posso assegurar: tem muito tricolor lá dentro! Muito! Tanto que na conquista do Brasileiro de 2010, a Mangueira recebeu os tricolores para comemorar o título!

“Ai, essas cordas de aço / Esse minúsculo braço / Que o violão / Os dedos meus acariciam”

Teve na sua trajetória musical parceiros admiráveis, dentre eles Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Dalmo Castelo, Aluisio Dias, Elton Medeiros. Admirado por Paulinho da Viola, Sérgio Cabral, Beth Carvalho e por monstros sagrados da música brasileira, sua obra é vasta e maravilhosa!

“Ao amanhecer , ao anoitecer / Cantam em bando aves fazendo verão / Ouve-se os acordes de um violão / E são eles , verdes periquitos”

Na década de 40, Cartola desapareceu do cenário musical e só foi ser reencontrado em 1957 por Rubem Porto (Stanislaw Ponte Preta) lavando carro. A partir daí passou a trabalhar como contínuo no Diário Carioca. Nos anos 60 começou a trabalhar na Associação das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e a promover rodas de samba. Depois fundou o bar Zicartola que reunia bambas e a intelectualidade carioca.

“Enquanto Deus consentir vou vivendo / E cada dia que passa aprendendo / Amar ao próximo como eu amo aos meus / Pois se todos que existem na terra / São filhos de Deus”

Em 1977 voltou a desfilar pela Mangueira e infelizmente, três anos depois, em novembro veio a falecer!

Poeta fantástico, homem de melodias lindas, um ser humano ímpar, dito por todos que o cercaram, Cartola é daqueles que fazem muita falta ao mundo! Que seu legado musical e humano se perpetue por toda a nossa existência. Toda e qualquer homenagem a Cartola é pequena diante de sua grandiosidade!

Muito obrigado por tudo, grande tricolor!

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Aqui, o registro da música de Cartola que mais gosto:

ACONTECE

Esquece o nosso amor, vê se esquece.
Porque tudo no mundo acontece
E acontece que eu já não sei mais amar.
Vai sofrer, vai chorar, e você não merece,
Mas isso acontece.
Acontece que o meu coração ficou frio
E o nosso ninho de amor está vazio.
Se eu ainda pudesse fingir que te amo,
Ah, se eu pudesse
Mas não posso, não devo fazê-lo,
Isso não acontece.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @mvinicaldeira

Imagem: cartola

2 Comments

  1. Muito legal. Bom conhecer essas histórias. Daqui de longe, numa civilização “asamba”, faz-se outra ideia da Mangueira. A mídia aproximou a escola ao Flamengo e amplificou em função de Da. Zica. Lembro bem, na década perdida, quando comemoravam os títulos nacionais, buscavam ela para relacionar a escola ao clube rubro-negro. Nunca dei bola para G.R.E.S., mas sempre tive antipatia pela Mangueira pelos motivo que falei.

  2. Além de excelente compositor, Cartola escrevia um português limpo, correto, como podemos perceber nos versos da música As rosas não falam: Devias vir, para ver os meus olhos tristonhos …
    Outro tricolor mangueirense é o Chico Buarque (Pela estrada que dá numa praia dourada, que dá num tal de fazer nada, como a natureza mandou, vou que vou, satisfeito, a alegria batendo no peito, o radinho contando direito a vitória do meu tricolor)

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