Confesso que tenho me admirado com a regularidade do Flu neste brasileirão. Apesar de possuir um elenco invejável em relação aos concorrentes ao título, o Flu não vem jogando a bola que encanta o torcedor e lhe dá confiança. Porém, tem demonstrado uma atitude incomum aos times de futebol: persistência, fé no resultado e combate incansável durante os jogos. Não se entrega nunca, não se abate e acredita até o último minuto que pode fazer o resultado. Por isso tem sido quase imbatível, dentro ou fora do RJ.
Tenho um amigo gaúcho, torcedor do Grêmio, que me perguntou noutro dia: Esse time não perde nunca? Para entender o que está acontecendo é preciso entrar na cabeça do Abel Braga ou assistir aos treinos táticos e ouvir as preleções que ele faz ao grupo. Como isso não é possível, resta-me concluir que o Fluminense joga estritamente de acordo com o pensamento e estilo do seu treinador, assim como o Atlético Mineiro faz em relação ao Cuca. Parece óbvio, mas isso não acontece espontaneamente e muito menos sem muito, muito trabalho, daí o motivo das freqüentes demissões de treinadores dos clubes devido à dissintonia entre atletas e técnico.
O ponto forte do Flu é a sua invejável disciplina tática, que lhe confere eficácia, resultados. Já o Galo joga um futebol mais vistoso, corajoso, destemido e tem no Ronaldinho o diferencial de que todo time precisa para obter sucesso.
Outra diferença do sucesso dos dois clubes neste brasileirão é que o Fluminense tem um excelente banco de reservas e tem sobrevivido dele. Mas, tem sofrido seguidamente com contusões e suspensões. Enquanto não recupera alguns titulares contundidos, como é o caso do Deco, principal estrela do elenco e que muda a forma do time jogar quando está em campo, vai usando os reservas, formando um segundo time igualmente forte. Já o Galo tem tido até aqui a sorte de não perder seu principais titulares, nem por contusão e nem por suspensão. Se perder o Ronaldinho perderá metade do potencial. Isso aconteceu com o Vasco, que despencou ladeira abaixo após perder em definitivo duas de suas peças principais. Outro fator favorável ao Galo é que também tem sido bafejado pela sorte que costuma acompanhar os campeões.
Até agora o Flu e o Galo são os principais concorrentes ao título e não creio que saia fora disso. As ameaças do Grêmio e do Vasco não os farão liderar o campeonato, no máximo perseguirão o segundo colocado.
Sei que é difícil perseguir e mais ainda pegar um galináceo, mas nem por isso as pessoas deixam de se fartar com uma deliciosa galinhada. Há técnica pra tudo!
A magia da torcida tricolor
Quando (mais) jovem, lá nos idos da década de 1960, costumava ir ao Maracanã nos dias de clássicos cariocas em que o Flu estivesse envolvido, geralmente aos domingos. Alguns dos jogos que assisti foram memoráveis, inesquecíveis. Naquela época a torcida tricolor cantava uma música simples, mas de forte apelo e motivação. Sempre que o Flu fazia um gol, lá vinha o cântico “mais um, mais um, mais um, mais um, mais um” que se repetia até as gargantas entrarem em colapso. Não, meu caro leitor, não era a simples repetição do “mais um” conhecido, de forma monótona, uníssona e sem melodia; era mesmo uma canção de um único estribilho ou refrão, mesmo não sendo uma rima. E a cada final de “ritornelo” os surdos faziam uma espécie de reintrodução dos “versos” junto com pistões e trombones de vara, como fazem os blocos de carnaval. E, claro, tudo sempre envolto em pó de arroz (talco, na verdade). A galera ia a um delírio que contaminava os jogadores, transformando pernas de pau em virtuoses da bola, tal era o ânimo de que eram tomados. E se acontecia um gol em seguida, lá vinha de novo o tal “mais um”, entoado com mais vigor e entusiasmo. O Maracanã se transformava em uma caixa acústica, que fazia as arquibancadas tremerem, tornando inaudível até o grito de “olha o mate Leão” ou do “biscoito Globo” (muitas vezes Grobo) do vendedor ambulante.
Outra boa lembrança, que recomendo aos torcedores que costumam ir ao estádio hoje experimentar é assistir a torcida tricolor do lado oposto das arquibancadas. É fantástico ver as bandeiras coloridas desfraldadas no meio do branco do pó de arroz. É a mais tradicional e longeva expressão de torcidas no Brasil, marca registrada tricolor, mesmo sem registro no INPI. E a mais bonita também, imbatível e inconfundível. Se tiver pó de arroz na arquibancada não haverá dúvida de que é jogo do Flu.
Hoje o que vejo de mais bonito na torcida tricolor são os painéis humanos e as músicas de louvação, muito bem compostas e contagiantes. Aliás, estou sentindo falta delas.
Adeus, Félix
Bonita e merecida a homenagem póstuma ao Félix nos jogos deste final de semana. Félix foi um goleiro eficiente e era querido por todas as torcidas, mesmo as adversárias. Foi injustamente tachado de frangueiro na Copa de 1970 por conta de um gol que tomou contra o Peru. Mais injustiçado que ele só o Barbosa, da seleção de 1950.
Félix nos deixou várias lições de humildade, de perseverança, de profissionalismo e de amor aos clubes que defendeu. Deve estar neste momento no céu, trocando figurinhas com o Nélson Rodrigues.
Jorge Dantas
Panorama Tricolor/ FluNews
@PanoramaTri
Imagem: Mário Alberto
Contato: Vitor Franklin