Bolt ou Kipchoge (por Paulo Tibúrcio)

Tive a inesquecível experiência de ver a final dos 100 m rasos na Rio-2016. A tensão antes da prova, captada por todo o estádio, era de um silêncio ensurdecedor. Segue um estampido e, por 10 segundos, tudo fica imóvel com exceção dos 8 atletas voando em suas raias. Na chegada quase simultânea, escuta-se um grito seco das arquibancadas, comparado ao gol de Washington contra o São Paulo na Libertadores. O Engenhão entra em estado de êxtase. Usain Bolt venceu a prova, partindo incrivelmente atrás, o que poderia ser fatal neste tipo de prova. Mas ninguém é um fenômeno por acaso. Bolt voltaria a repetir o feito nos 200 m. no mesmo dia fui brindado com a final dos 400 m, vencido pelo sul-africano Wayde van Niekerk. Embora menos badalado, Wayde. conseguiu quebrar o recorde mundial da prova. Bolt não correu os 400 m. Provavelmente, o “Raio” poderia fazê-lo e conseguiria um excelente tempo. Porém, mesmo um fenômeno precisa fazer escolhas. Imagino a mudança de treinamento necessária para acrescentar mais uma prova no seu repertório.

Seguindo o clima de nostalgia, assisti as provas de Maratona. A feminina nas ruas e a masculina, por um descuido no horário, em casa. Ambas as provas foram emocionantes, sendo que na masculina, por conta da televisão, foi possível acompanhar boa parte do tempo o desempenho de Eliud Kipchoge. Vários atletas se revezam na liderança, mas o queniano seguiu seu ritmo sem se incomodar. Aos poucos, os adversários ficaram para trás. No momento certo, Kipchoge assumiu a liderança da prova e disparou rumo ao sambódromo para buscar sua medalha de ouro. Os Jogos no Rio foram memoráveis. Triste comparar àquela época ao momento atual que estamos passando… mas o que isto tem a ver com o Fluminense?

As torcidas em geral costumam ficar ansiosas no início do ano, querendo ganhar até no cara ou coroa para escolha de campo. No primeiro revés, parte dela começa a questionar o trabalho e o desempenho da equipe, deixa de apoiar o time e passa a reclamar constantemente dos jogadores e comissão técnica. Ganhar é bom e não defendo passividade de torcida. Todavia, às vezes é necessário realizar escolhas, mesmo que isto signifique o risco de derrotas. Isto vale para grande maioria dos esportes. É assim com Bolt, Kipchoge ou qualquer outro atleta. No futebol não é diferente. Cada atleta tem seu biótipo e o momento certo de alcançar seu pleno desempenho físico. Negligenciar isto pode significar uma perda de rendimento durante a temporada ou até mesmo uma contusão mais séria.

Muitos discordaram da opção de Abel em poupar jogadores perante o Inter. Data maxima venia, eu concordei com nosso técnico. A logística envolvida no deslocamento até outro Estado interfere diretamente na preparação da equipe. Interrompe treinamentos e estressa fisicamente os jogadores. Sofremos uma derrota que poderia ser evitada com o time principal e agora precisamos ganhar do Brasil de Pelotas para continuarmos na busca do bicampeonato. É um risco que foi preciso correr e que permitiu testar jogadores e identificar quais posições do elenco estão carentes. Mostrou que o elenco precisa ser reforçado.

Não acredito na tese de priorizar campeonatos. Temos condições, a priori, de lutar pela conquista de todas as competições que iremos disputar este ano. De qualquer forma, decisões precisam ser tomadas de acordo com o desempenho do time durante a temporada. Temos o desejo que o Flu seja como o Bolt e comece ganhando as provas de tiro curto. Mas a temporada se parece mais com uma Maratona, sendo que haverá momentos em que será necessário ser como Eliud Kipchoge, dosando o ritmo no início, ainda que isto signifique começar atrás para assumir a dianteira no tempo certo. Que os heróis nos inspirem.

#ForçaScudi

Panorama Tricolor

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