Mais uma vez, é uma coluna que eu jamais queria publicar, mas a vida é assim: matreira, às vezes prega peças e abate até aviões em pleno voo.
O universo tricolor inteiro já sabe de sua importância como bandeirante e colonizador da internet do Fluminense. Tudo veio depois dele. Beto foi uma espécie de Velvet Underground: assim como inúmeros fãs da banda montaram suas próprias bandas, os tricolores que o conheceram também abriram seus sites, blogs, canais e o escambau. Acabou sendo o que não gostava: um influencer de verdade, daquele cujas opiniões faziam realmente pensar e refletir.
Foi meu colega de Fluminense & Etc, colaborador do PANORAMA e presença certa em nossas lives de aniversário.
Beto sempre divulgou todo o meu trabalho literário, ao contrário de 99% da dita imprensa segmentada tricolor. Entende-se: ao contrário destes, ele era leitor e tinha apreço por livros.
Nos últimos anos, ele era uma espécie de farol do Twitter: para entender o Flu você precisava lê-lo, mesmo quando discordasse de seu ponto de vista, mas o opositor tinha dificuldade em prosperar, tamanha a educação. É difícil debater com um lorde, o que ele era na acepção da palavra.
Difícil ter uma pessoa mais simpática em nossa torcida. Ele chegava e o mundo inteiro vinha abraçá-lo. Numa internet marcada por arrogância, empáfia e muito teor pernóstico, Beto Meyer foi a antítese disso: simplicidade, simpatia e carisma – o que é para muito poucos. E uma palavra que traduz a essência tricolor: fidalguia.
Ainda abalado com esse desfecho inesperado para mim, disfarço e choro. Também lembro de dois momentos. O primeiro deles, quando Beto cornetava uma ou outra coluna nossa. Na décima vez, cheguei e disse: “Seu mala, você só reclama. Quando é que você vai elogiar alguma coisa nossa?”.
A resposta: “Não precisa, né? O resto você sabe que tá foda”.
O segundo momento era uma divertida brincadeira que tínhamos, e que por sinal envolvia o atual presidente do Fluminense muito antes de ganhar a eleição de 2019. Brincadeira divertida em nossos encontros, sem qualquer conotação pejorativa, mas que agora o Beto levou para a eternidade.
Meu amigo Beto Meyer, hoje é um dia muito triste para mim. Eu esperava outra coisa. Muito obrigado por tudo que você fez por mim e pelo PANORAMA. Muito obrigado por ter sido o grande bandeirante da internet tricolor, e sua principal referência de ética, elegância e carisma. A gente chora mas sabe que você está e estará muito bem. Eu preciso encontrar o Gustavão e o Serjão. O Luciano veio aqui na loja anteontem.
À essa altura, Assis e Washington já anunciaram no céu: “Seja bem-vindo, Beto Meyer!”. É que na segunda já tem celebração dos 40 anos da cabeçada imortal do Carrasco, na decisão carioca de 1984. E agora, condenado à imortalidade, ninguém melhor do que o Beto para nos representar.
Vá com Deus, nobre tricolor.
Poético e preciso, caro amigo Andel! Beto era tudo isso! A essa altura, ele já foi bem recebido pelos grandes tricolores do plano superior. Deixa grande saudade.