1.
O Cordão da Bola Preta é a cara de um Rio de Janeiro que insiste em resistir. Um Rio alegre, cultural, do povo e para o povo. Anualmente, seu desfile coloca mais de milhão de foliões nas ruas da cidade no sábado de carnaval. Parecido, no Brasil, só o Galo da Madrugada.
Sempre abri meu carnaval no Bola Preta. Ia com a minha finada mãe e amigos. Algumas vezes com meu pai que infelizmente já nos deixou. Mas, sempre, no sábado de carnaval, lá estava eu ouvindo a abertura do desfile e seguindo o cortejo bem ao lado do carro de som.
É absolutamente espetacular.
Apesar do que falam, nunca fui assaltado e nunca fui agredido. Ao contrário, sempre me diverti, e muito.
2.
O Bola passou por momentos difíceis. Perdeu a famosa sede perto da Cinelândia. Ficou sem casa. Perdeu a Carioca pois voltou a ser gigante e o cortejo não cabia mais lá.
Acabou de perder a Rio Branco, pois o VLT não deixa mais.
Mas, o Bola insiste em ser o Maioral dos Maiorais. Não tem para ninguém. Está de sede nova, na rua da Relação com Lavradio. O percurso é novo. Primeiro de Março – Presidente Wilson. Segue gigante em tamanho e importância.
E conta com aluta diária do presidente Pedro Ernesto Marinho e sua diretoria a quem destaco em especial o Mauro. Sem esses talvez tivesse sucumbido. Não sucumbiu, não sucumbirá.
Aliás, absurdo não ter apoio integral da prefeitura. Deveria ter verba fixa da prefeitura para seu custeio.
Mas, deixa para lá.
3.
Ano passado curti o Bola no trio elétrico fantasiado de Cartolinha Tricolor. Foi demais. Lá de cima temos a real dimensão do que é o Bola Preta.
Fui confundido com celebridades. Algumas mulheres me mandavam corações e beijos (mil risos), flamenguistas e vascaíno apontavam para mim como dissessem que iam me matar, tricolores mostravam orgulhosos a camisa do Flu ou cerravam o punho em alusão à Young Flu.
Um barato, diversão pura.
Este dia ficará guardado em minha memória por toda a eternidade.
4.
Todo primeiro sábado, indo para o terceiro ano, toco lá, com o Grupo Cultural Exaltação ao Samab de Enredo do qual sou fundador. Uma honra, uma dádiva, poder conviver ali e poder contribuir de alguma forma com o Bola.
E todo primeiro sábado é especial. Os antigos e sócios do Bola são especiais. Muita história boa, muita galhardia e muita alegria. Tem a mesa do sócio que arma um verdadeiro piquenique em cima dela.
Chego e procuro tomar uma cerveja com o Mauro. É uma dádiva poder ouvir as histórias daquele lugar mágico.
Tem o Eduardo que também é diretor da Mangueira e aparece numa foto em painel na nova sede á frente de um desfile antigo quando ainda era no chão.
Tem o Papa e tantos outros.
5.
Tem o Bernardo, vascaíno, que já foi garçom e hoje ajuda com a organização da venda e reservas das mesas. Figuraça. Sabe tudo quanto é samba.
E tem o Arlindo, garçom histórico do Bola que com quase 80 anos ainda trabalha com humor, alegria e qualidade.
Aliás, Arlindo é torcedor fanático do Fluminense como ele mesmo gosta de falar. E sempre converso com ele e ele me conta histórias fantásticas enquanto torcedor.
6.
Após um desfile do Bola, Bernardo, vascaíno e Arlindo foram assistir a um Fluminense e Cruzeiro quando o nosso tricolor era conhecido como Máquina Tricolor. Todo mundo queria ver aquele time jogar.
Bernardo conta que Cafuringa – ex-ponta direita veloz e habilidoso – neste dia estava mal. Arlindo se desesperava a cada jogada errada do ponta.
Uma hora, Bernardo confidenciou-me que teve que segurar o Arlindo, pois este queria pular o fosso que separava a geral do campo para partir para cima do Cafuringa.
(Mil risos) Não consigo imaginar, Arlindo, aquela figura doce do Bola Preta ensandecido querendo partir para cima de um jogador.
Impagável
Fim.
São essas coisas que valem o futebol.
Histórias, gols épicos, títulos, derrotas, comemorações, emoções.
O mesmo posso dizer do carnaval.
Salve o Bola Preta. Salve o Fluminense.
Obrigado, Pedro Ernesto Marinho, Bernardo, Arlindo, Papa, Mauro, Eduardo e todos do Bola por vocês existirem.
A vida é uma dádiva.