Sou um torcedor apaixonado do Fluminense há 37 anos. Comecei a acompanhar futebol em 1983 e comecei a frequentar estádios em 1984, para nunca mais parar. E basta citar esses dois anos para se deixar muito claro que o clube que me encantou foi um clube grande, enorme. Tinha a hegemonia de títulos estaduais no Rio de Janeiro desde sua fundação, e estava se tornando bicampeão brasileiro. Desnecessário lembrar que trazia em sua história também o Mundial de 1952, o bicampeonato do Rio-São Paulo, a Taça Olímpica e glórias diversas em vários esportes olímpicos. Era um gigante do esporte brasileiro, especialmente do futebol. Não perdíamos para o Vasco, nunca perdíamos finais para o Flamengo.
Tivemos um jejum muito incômodo de títulos depois, mas sem nunca deixar de brigar em cima da tabela e de chegar às finais (semifinais do Brasileiro em 1988 e 1991, final da Copa do Brasil em 1992, finais do estadual em 1991, 1993 e 1994). Tivemos 1995. Passamos depois pelos anos mais obscuros da nossa história, mas retomamos nosso caminho com outras semifinais de Brasileiros em 2001 e 2002 e títulos estaduais em 2002 e 2005. De 2007 a 2012, apesar de escorregões inaceitáveis pelo caminho, tivemos anos muito fortes e marcantes, com três títulos nacionais, protagonismo na América do Sul e nosso último estadual. Em 2013, ainda fomos, sem muito brilho, às quartas de final da Libertadores. E depois disso…
Bem, depois disso…é difícil descrever o que passou e ainda passa. E pior, projetar o que passará. O Fluminense, desde então, vem num processo absurdo de apequenamento esportivo e institucional. É difícil apontar um marco temporal específico de início desse processo, porque algumas coisas já vinham de antes, e ficavam camufladas pela injeção de dinheiro do patrocínio que tínhamos. Mas na minha opinião, ele começou quando o Fluminense negociou (se é que podemos chamar aquilo de negociar) as cotas de TV no início da década passada. Naquele momento, a gestão (se é que podemos chamar aquilo de gerir) aceitou passivamente que o clube que criou o futebol brasileiro ficasse no terceiro grupo de clubes em valores a receber. Quem fez aquilo não tem a menor ideia do tamanho do clube que representava. E aquela diferença em relação aos grupos 1 e 2, somada à perda do patrocínio, foi a mola propulsora para o que começou a acontecer desde então.
Desde então, vamos recapitular o que aconteceu: vencemos a Primeira Liga, um torneio de cinco partidas, sem times de São Paulo e que só durou duas edições. Disputamos duas finais de estadual como coadjuvantes do Flamengo, e perdemos as quatro partidas disputadas. Brigamos para não cair para a segunda divisão do campeonato brasileiro em praticamente todas as temporadas. Não chegamos sequer perto de uma Libertadores de novo. Fizemos boas campanhas em duas Sul-Americanas, mas perdemos quando enfrentamos adversários brasileiros.
Nesse mesmo período, vendemos a preços de banana (banana da xepa da feira, e não no preço de banana das 7h da manhã) todas as revelações da base ou contratadas enquanto jovens promessas. Posso citar o Richarlison, que nem sei quanto vale hoje em dia. Posso citar o João Pedro, que tenho certeza que seguirá o mesmo caminho. Poderia citar o Wendel. Se fosse mais para trás poderia citar o Marcelo. E se parasse para pesquisar por 15 minutos, poderia trazer uma lista de 20, 30, 40 jogadores mal vendidos. E poderia mencionar ainda que jogadores como Danielzinho preferiram ser negociados para jogar no Bahia, e que Pedro fez de tudo que podia e não podia para jogar no Flamengo. E, por último, posso citar que o Internacional quer contratar o Evanílson, de quem o Fluminense detém 10% (DEZ, não cem, por cento) dos direitos econômicos.
Sabe o que essas negociações significam para mim? O óbvio. Que o Fluminense virou um time de menor expressão, que revela jogadores para pagar a folha de dois meses de salário e eles brilharem esportivamente em outros clubes, do Brasil ou do exterior. Isso é humilhante. É ultrajante. O Fluminense (ainda) tem uma torcida na casa dos milhões. Uma torcida que não merece ser vilipendiada dia após dia por essa gestão medíocre, amadora e que não traz em seus quadros ninguém que entenda de futebol.
E que não tenham a covardia de dizer que é por falta de dinheiro, porque o Fluminense CANSOU de montar times campeões com pouco dinheiro. Porque se olhamos para o Corinthians nos últimos 15 anos, vamos ver que montaram bases de elencos campeões sucessivas vezes a partir de jogadores do interior de São Paulo, totalmente desconhecidos do grande público até então. Será que eles tiveram sorte? Ou será que sabem procurar, identificar e contratar? Será que Nilton Graúna teve sorte quando montou a máquina de 1983/84/85? E, doutro lado da análise, porque não falta dinheiro para um contrato de cinco anos com o Ganso, para pagar processos trabalhistas por demissões feitas por aplicativo de celular ou, para a cereja do bolo: o projeto Fluminense Samorín.
Eu estou farto dessa esculhambação com o time que eu amo! Eu quero perguntar ao Peter, ao Abad e ao Mário: como eu faço para que minha filha de 14 anos ame um time grande? Estou fadado a passar as quartas e domingos mostrando VTs no Youtube, DVDs ou jornais antigos? Vocês não têm vergonha?
BASTA!
Panorama Tricolor
#PanoramaTri
#credibilidade
Um grande desabafo. O modelo de negócio deixou de ser o futebol, para se tornar um vendedor de jogadores associados a empresários que mantém o futebol do clube como vitrine. Agora, a pergunta que não quer calar. A quem interessa a manutenção desse modelo?