ATENÇÃO: COLUNA TOTAL E ABSOLUTAMENTE PROIBIDA PARA MENORES DE 18 ANOS
Manhã de sábado, imediações do quiosque Rainbow, a popular “bolsa”, point certo de encontros de bibas e sandalinhas no bustier de Copacabana, com Chiquinho Zanzibar presente para pegar uma cor (mas não muita, de modo a não dar confiança aos que combatem o racismo). E comemorar o fim da era Césio 137 Barrios na antiga investidora do clube: “Com ele fora, se eu derrubar o abat-jour posso até sonhar em ser o verdeiro presidente. Uhuuuuuu! Mandarei e desmandarei. I’M THE QUEEN!” (céus com cinquenta tons de cinza e, não provoque!, é cor de rosa shocking).
Em sua cadeirinha florida de alumínio, Chicona espiava o mar e os homens seminus que desfilavam em seu paraíso de areia. Ao mesmo tempo, lia um jornaleco popular e pensava em ir a Edson Passos, até porque a ferveção da politicagem se intensificou grosseiramente e, na cabeça do presidente de honra do G.R.E.S. Unidos da Flubabaca, é preciso lançar mão de todos os recursos para se manter no poder, mesmo que isso custe atacar um de seus principais objetos de amor não identificado e evidentemente não correspondido: ninguém menos do que o baluarte tricolor Antonio Gonzalez, um blogueiro sujo de esquerda, um comunista lutador que ameaça as pretensões de traquinagem e picardia do nosso vilão vilã. Aliás, Gonzalez tem sido violentamente caluniado por Chiquinho que, não aceitando a rejeição do lutador fortão, mente descaradamente para gerar ódio contra seu amado – e pensa que, se toda a torcida odiar seu símbolo sexual, ele poderá lhe corresponder amorosamente. Sim, sabemos: nosso personagem exótico é um completo idiota em acreditar nessa possibilidade. E Gonzalez não tem culpa de despertar uma tórrida paixão jamais correspondida a um escroque reacionário tricolor. O Fluminense nos fascina pela imperfeição de seus homens, até mesmo quando são homens sexuais.
Mas o ódio de Chiquinho também atinge a todos os outros blogueiros tricolores, não somente os politicamente de esquerda. Todos, exceto os que demonstrem seus princípios bolsonazistalinistas em público. Já me contou que fica molinho molenga molengão ao ver a estampa do jornalista Fagner Torres na TV: “Um pretão bem apanhado”. É sabido seu ódio sem precedentes pelo escritor Paulo Andel, ainda mais por este produzir poesia em larga escala para leitoras: “Esse gordinho branco me despreza”. Chega a salivar quando fala de Dedé Moreira, Flupress: “Odeio! Desprezo! Mexi meu pauzinho (sic) para derrubá-lo. Esse maldito ainda me provoca sensações diferentes!”. E nunca negou sua profunda admiração pelo jornalista Paulo Brito, embora odeie suas matérias investigativas no portal jornalístico NeeeeeeetFlooo, disparado o mais acessado por toda a torcida do Fluminense: “Ele usa a grande audiência para sabotar a mim e meus beninos, mas não nego que é um senhor bofe! Altão, charmosoooo… Eu faço!”. A julgar pelos nomes elencados, de homens de diversas idades, brancos e negros, gordos e magros, percebe-se que Chiquinho Zanzibar os aprecia por uma característica comum, afora o talento: todos possuem no mínimo um metro e oitenta centímetros de altura, bom porte físico. Nem todos são homens brancos de bem, como prefere – ou diz preferir – a Madame Sauna, mas mexem com seus hormônios confusos em busca da satisfação da viadagem adquirida. A bonecona pira, eis a verdade. E é curioso perceber que toda a escrotidão do caráter de Zanzibar se encolhe quando ele nutre admirações homoeróticas em qualquer ocasião. A Flubabaca fica de lado e aí brota apenas um manjador de primeira, um admirador morde-fronha. Chega a cantar sozinho para seus musos, como se pudesse agarrá-los: “Não me queixo/ eu não soube te amar/ mas não deixo de querer conquistar/ uma coisa qualquer em você!”, Caetano Veloso, “Eclipse Oculto”, 1983.
E sendo o manjar uma arte do nosso pilantrão da sauna, lá estava ele na ponta dos pés espiando um rapaz atlético, de sunga branca, pele bronzeada, quando este veio em sua direção e pergunta-lhe as horas, olhando o Copacabana Palace com admiração. A tiazona responde de prontidão: “Dez e meia, jovem”. Um sorriso parece oferecer o caminho para as delícias de Pecadópolis, embora um tanto arriscado para Chiquinho por ser perto de casa. Mas afinal, se havia preocupação, por que ele estava no point oficial dos entendidos na praia de Copacabana? É um escroque contraditório por excelência. O papinho:
“Qual o seu nome, benino?”
“Anderson, e o do senhor?”
Mentindo descaradamente para ocultar a identidade, temendo picaretagens num eventual “Boa noite Cinderela”, Francisco Pinóquio sentencia:
“Muito prazer. Meu nome é Maurílio, mas pode me chamar de Nilito.”
“O senhor gosta de futebol?”
“Benino, eu a-do-go! Eu tenho muita influência no Fluminense, sou um sócio respeitável, mando na política que tornou o meu time o maior de todos os tempos. Faço tudo por paixão. Dizem até que a história do clube se divide em AN/DN, antes de Nilito e depois. Se deixar, fico o dia inteiro falando disso, embora possamos ter assuntos mais gostosos” (risada afrescalhada)
“Também gosto muito do Fluminense, sou tricolor e meu padrinho também. Moro com ele na esquina de Atlântica com Hilário de Gouveia. Eu vim da Bahia, vixe?”
” Nossssaaaaa, it’s wonderful!” (padrinho, hum, a senha estava dada…)
E o falso Maurílio continua, várias histórias depois:
“Fred era o maior ídolo de todos os tempos, mas ele me decepcionou e deixou de ser. Também, ídolo para quê? Temos CT, teremos estádio e o melhor time de todos os tempos. Eu SOU o Fluminense, modéstia à parte. Vai por mim: eu sou o príncipe da sauna”.
“O senhor trabalha, Seu Nilito?”
“Hã? Hum, bom… isso é uma longa história. Já percebi à primeira vista que seremos grandes companheiros. Conversaremos sobre isso. Anderson, eu queria ir ao jogo amanhã e estou sem companhia. Você gostaria de ir comigo a Edson Passos? É meu convidado: banco tudo!”
“Bom, preciso conversar com meu padrinho antes e pedir-lhe a bênção, mas acho que não terá problema. Ele provavelmente vai querer um agrado por eu deixá-lo sozinho, um mimo, sabe como é Seu Nilito?”
“Hummmmmmmmmmmmm, entendi, claro. Eu providencio isso. Sou um mestre dos agrados”.
Conversa, conversa, conversa. E falaram a valer dos jogadores do Flu, dos dirigentes – Chiquinho é absolutamente louco pelo presidente do club, um gallant para ele! – de grandes jogos e até de tristezas. Nossa bichinha reaça quase revirava os olhinhos na conversa praiana até que resolveu partir de vez rumo à chance de pegação, mudando totalmente o foco e radicalizando, bem ao seu estilo:
“Posso te recitar um poema, Anderson? É de Allen Ginsberg, o grande poeta da Geração Beat, que libertou milhões de jovens da caretice.”
“Claro, seu Nilito. Eu gosto muito de poesia. Manda ver com vontade.”
(O garotão dando molinho, já pensando no cachê pago pela biba, naturalmente)
“É forte, tá? Poderoso.”
“Vem que eu encaro, não se avexe!”
Sacando um pocket book da mochila rosada, o velho safado finalmente tentaria uma aproximação máxina com seu símbolo sexual súbito, por meio de uma cantada enrustida em forma de poesia. Ronroneou, pigarreou nervoso e mandou ver em voz baixa o mais radical poema gay da história do Ocidenteeeeeee:
por favor meu amo deixa eu tocar teu rosto
por favor meu amo deixa eu me ajoelhar a teus pés
por favor meu amo deixa eu baixar tua calça azul
por favor meu amo deixa eu contemplar o teu ventre de dourados pêlos
por favor meu amo deixa eu tirar tua cueca devagarinho
por favor meu amo deixa eu desnudar tuas coxas para meus olhos
por favor meu amo deixa eu tirar minha roupa sob a tua cadeira
por favor meu amo deixa eu beijar teus tornozelos tua alma
por favor meu amo deixa eu colar meus lábios na tua coxa dura lisa musculosa
por favor meu amo deixa eu grudar o ouvido no teu estômago
por favor meu amo deixa eu abraçar tua bunda branca
por favor meu amo deixa eu lamber tua virilha de pêlos louros e macios
por favor meu amo deixa eu tocar com a língua teu cu rosado
por favor meu amo deixa eu esfregar o rosto no teu saco
por favor meu amo, por favor, olha nos meus olhos,
por favor meu amo me manda deitar no chão,
por favor meu amo manda eu lamber tua pica grossa
por favor meu amo põe tuas mãos ásperas no meu crânio careca cabeludo
por favor meu amo aperta a minha boca contra o coração do teu pau
por favor meu amo aperta o meu rosto contra o teu ventre, me puxa
lentamente com teus polegares fortes
até tua dureza muda chegar à minha garganta
até eu engolir e sentir o gosto do teu pau-tronco cheia de veias de carne quente delicada por favor
meu amo empurra meus ombros me olha bem nos olhos e me faz debruçar sobre a mesa
por favor meu amo agarra minhas coxas e levanta minha bunda até a tua cintura
por favor meu amo tua mão áspera no meu pescoço palma da outra mão na minha bunda
por favor meu amo me levanta, meus pés apoiados em cadeiras, até meu cu sentir o hálito do teu cuspe e teu polegar girando
por favor meu amo manda eu dizer Por Favor Meu Amo Me Fode agora Por Favor
meu amo lubrifica meu saco e boca peluda com doces vaselinas
por favor meu amo unta teu caralho com cremes brancos
por favor meu amo encosta a ponta do teu pau nas pregas do buraco do meu eu
por favor meu amo enfia devagar, teus cotovelos envolvendo o meu peito
teus braços alisando o meu ventre, teus dedos tocam no meu pênis
por favor meu amo mete em mim um pouco, mais um pouco, mais um pouco
por favor meu amo enfia esse troço no meu cu bem fundo
e por favor meu amo meu faz rebolar para entrar a pica-tronco até o fim
até minhas nádegas aninharem tuas coxas, minhas costas arqueadas,
até eu ficar só solto no ar, tua espada enfiada latejando dentro de mim
por favor meu amo tira um pouco e lentamente esfrega em mim
por favor meu amo enterra fundo outra vez, e tira fora até a cabeça
por favor por favor meu amo me fode outra vez com o teu ser, me fode Por Favor
meu amo enfia até machucar o meu macio o macio
por favor meu amo faz amor com meu cu, dá corpo ao centro e me fode direitinho como uma garota
me abraça com carinho por favor meu amo eu me entrego a vós
e enterra no meu ventre o mesmo doce lenho quente
que dedilhaste em tua solidão em Denver ou no Brooklin ou fodeste uma donzela num estacionamento em Paris
por favor meu amo entra em mim com teu veículo, corpo de gotas de amor, suor de foda corpo de ternura, me fode assim de quatro mais depressa
por favor meu amo me faz gemer sobre essa mesa
gemer ó meu amo por favor me fode assim
nesse teu ritmo de roça-enfia e tira-e-roça e enterra até o fim
até meu cu ficar mole cachorro sobre mesa ganindo de terror prazer de ser amado
por favor meu amo me chama de cachorro, arrombando, me esculhamba
e fode mais violento, meus olhos escondidos por tuas mãos que agarram meu crânio
e enterra fundo com força brutal arrebentando a macieza úmida de peixe
e pulsa cinco segundos esguichando sêmen quente
e mais e mais, enfiando fundo enquanto eu grito o teu nome ah eu te amo
por favor meu amo, me deixa ser teu
Impactado pela descomunal força homoerótica do poema de Ginsberg, o garotão baiano ficou com os olhos arregalados e quase sem fala, enquanto Chiquinho passava a língua languidamente nos lábios e misturava todas as suas paixões enrustidas em sua mente sexista: Gonzalez, Andel, Fagner, Paulo, Dedé, todos ali representados por um sorriso. Então o garotão respirou e respondeu:
“NOOOOSSSSSSSA!”
“Você achou o poema forte, Anderson?”
“Bom, achei mas… foi gostoso. Olhe, estou com fome, acho que vou almoçar. O senhor gostaria de ir comigo?”
“É claro que sim. Já é, filhão! Vamos aos acepipes.”
Uma troca de sorrisos quase sinceros passava a selar o florescer de uma linda amizade entre o cangaceiro tricolor e um filhão baiano das nossas três cores, com a bênção do Rainbow e direito à performance de Maria Bonita. Os embalos de sábado à noite certamente iriam até a manhã na Baixada, porque nem o racismo do nosso personagem hipócrita vence sua obsessão pelo amor que não ousa dizer seu nome. O problema, claro, é Esmeralda. O Fluminense ruge, Chiquinho ronrona feito um gato angorá e se empolga, serelepe que só ele. Mas nada impediria a linda amizade de dois homens sexuais no apogeu de suas vontades, nascida na bolsa da praia de Copacabana.
Que venha a vitória em Edsannnnnnnnnnnnn com gols dentro e fora das quatro linhas. Enquanto isso, a campanha de Chiquinho come (e dá) solta.
Contém reprodução de “Por favor meu amo”, Allen Ginsberg, “A queda da América”, 1968, sem qualquer finalidade lucrativa.
Panorama Tricolor
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