Três da manhã e “Os sete gatinhos” na TV. A dramaturgia arrebatadora de Nelson Rodrigues adaptada pelo cinema desafiador de Neville D’Almeida.
Não há outro Nelson Rodrigues. Não há.
O maior orgulho da torcida do Fluminense é também seu maior peso, involuntariamente.
Desde 1980 até os dias atuais, torcedores, jornalistas, parajornalistas, celebridades decadentes, picocelebridades, internautas e sobretudo anônimos sem currículo tentam em vão ocupar um trono impossível: o lugar de Nelson. Ou, pelo menos, faturar com alguma monetização.
Some-se a isso a tonelada de narrativas, alugadas ou até ingênuas, despejadas diariamente na internet e o resultado é uma saraivada de mediocridades. Salvo honrosas exceções, que merecem muito ser lidas/ouvidas/vistas, a maioria é um circo burlesco em busca de autopromoção. Se metade desse pessoal calasse a boca para sempre, o universo tricolor seria agraciado.
A cada minuto, um novo dono da verdade, impoluto e de bem, determina o que é ou deve ser o Fluminense.
Quanta idiotice.
É possível amar o Fluminense, torcer muito por ele mas não abanar o rabo para sandices do dia a dia, tais como a reeleição eterna da atual gestão ou a discussão se o time atual supera a Máquina ou o Tri dos anos 1980.
Mas que mentalidade de merda é essa que, para valorizar o tempo atual, apedreja o passado?
Outra coisa que beira o ridículo: paixonites para passar pano, supervalorizando feitos e omitindo falhas para forçar barra de idolatria. O caso mais evidente no momento é o de Fábio, que vem fazendo um excelente 2023, fechou o gol na altitude, mas também falhou contra Vasco e Botafogo. Isso o diminui? De forma alguma, mas é um exemplo do que vem acontecendo há tempos e com vários outros jogadores também. Felipe Melo já virou Gerson ou Deley para alguns alucinados em busca de likes em polêmicas ocas. Com todo respeito à pessoa, será difícil descobrir qualidades no futebol de Thiago Santos.
Outra coisa que se discute é o critério de Diniz nas escalações e poupança do time. Por um lado, jogar na altitude é inviável etc; agora, nós já decidimos dois títulos continentais lá. E se vier a terceira final, vamos entregar de bandeja porque e inviável ou vamos partir com tudo? É um problema, é grave mas de nada adianta apenas se lamentar: é preciso estar preparado para o enfrentamento.
O Flu está praticamente classificado na Libertadores. Perfeito. Agora, qualquer time grande que passe três jogos sem fazer gol vai sofrer cobrança. É natural.
Neste domingo, mais um compromisso importante e nada fácil, porque a Arena é braba de se jogar. Agora, esportivamente falando e independentemente de escalação, o time precisa jogar pela vitória, a não ser que o plano seja fazer o papel de figurante qualificado, aquele que se mantém no G4 ou G6 mas em nenhum momento ameaça quem realmente briga para ser campeão, caminhando a oito ou a dez pontos do líder.
E, claro, a grande preparação para o Fla x Flu de quinta, que vale muito mais do que uma simples classificação. É confronto histórico e com uma bolada de prêmio. Minha amiga Cler já está tremendo…
O Fluminense precisa de bom senso acima de tudo. Na gestão, na torcida, no campo, nas diversas esferas. A bola está entrando, tudo bem, tudo é perfeição; agora, quando não estiver…
Temos tido um bom ano. Dentro do possível, o bicampeonato carioca nos fez muito bem. Até jornalistas paulistas saúdam o Fluminense. Agora, esse time não é a Máquina nem o tri dos 1980. É uma equipe em busca de afirmação. Ninguém precisa concordar comigo: eu também não concordo em nenhuma máquina com Guga, Felipe Melo, Thiago Santos e Pirani. É questão de gosto e lógica.
Nelson Rodrigues, não há outro igual. Não adianta dar piti no Twitter, fazer vídeo dando cambalhotas ou esculhambar a reputação alheia. É inútil.
Um bom domingo a todos, um grande jogo logo mais.