SEJA LUZ PARA O LUIZ. COLABORE.
Passou esse domingo chocho e triste. Que pelo menos algumas crianças tenham sido felizes, já que a maioria sofre demais. O mundo é injusto.
O sábado não me trouxe surpresa. Se formos sinceros mesmo, sem clubismo oco, a verdade é que o Fluminense se superou na decisão do Estadual mas mostrou enorme irregularidade na temporada até aqui, a ponto do time considerado reserva ter melhores atuações do que o teórico titular.
Há horas em que a sinceridade é uma obrigação. Fomos campeões com autoridade, na força, na camisa, o título foi importante sem dúvida, mas no dia seguinte ao triunfo já tínhamos dúvidas quanto ao futuro para voos maiores. A pancada do Junior Barranquilla não foi um desastre – a do Olimpia foi muito pior e mais cara -, mas um alerta – ou, ao menos, deveria ser.
O jogo em Cuiabá foi tão ruim que comemoramos a vitória um tanto constrangidos. Se o futebol fosse uma ciência exata, não passaríamos do empate. Sorte que não é.
Enquanto o Fluminense parecer uma agência de aluguel de camisas (brilhante achado do jornalista Marcelo Migliaccio), priorizando jogadores veteranos, caros e de rendimento questionável, ou ainda nem veteranos mas também caros e questionáveis, será difícil ter uma linha vitoriosa duradoura, permanente. A oscilação será a regra. Pode até vir um título como o Carioca, mas ocasionalmente.
Podemos e merecemos comemorar o título estadual com toda legitimidade. Agora, essa conquista me obriga a não criticar contratações como as de Wellington e Caio Paulista, bem como a de Cris Silva?
Por que parte da torcida gosta de gritar ruf ruf e decretou quem é o melhor goleiro do Brasil, eu tenho que fingir que Fabio e Felipe Melo não tiveram responsabilidade na eliminação diante do Olímpia, assim como Willian Bigode?
Por que Fred é o maior ídolo tricolor do século XXI e um dos maiores artilheiros da história do clube, definitivamente consagrado, devo aplaudir suas atuações constrangedoras a cada rodada que passa neste 2022, prorrogando uma agonia chamada de fim de carreira? O Fluminense refém de um capricho?
Por causa de uma patota que é mais torcedora do presidente do que do próprio clube, tenho que me calar diante de descalabros, a ponto do Fluminense com as contas em dia de janeiro ser o mesmo sem dinheiro para avião em março?
Eu tenho que achar normal que, pela primeira vez com vantagem numa decisão de campeonato no Maracanã, na condição de mandante, o Fluminense só tivesse cerca de 30% do público porque a torcida adversária teve acesso aos ingressos antes do fim do primeiro jogo?
As desculpas são estapafúrdias e, em alguns casos, soam como verdadeiro deboche aos ouvidos do torcedor que se permite ir além das manchetes e dos cliques. Isso quando não se publica as notas oficiais em tom pernóstico, arrogante e com forte anemia gramatical.
Meus amigos, ser campeão carioca é ótimo e fiquei bem feliz, mas já passou. Isso não foi o suficiente para que eu me esquecesse da rifa do Luiz Henrique, do Dani Bolt saindo de fininho enquanto aturamos Samuel Xavier, da luta para aguentar o “revezamento” entre Danilo Uram Barcelos e Egídio Uram, dos garotos escanteados para CRB e Bragantino (antes era Corinthians e Ponte Preta, lembra?), da generosidade em recontratar Hudson, do extraterrestre Felippe Cardoso e por aí vai.
O mar de conversa fiada que inunda o cotidiano do Fluminense faz muita gente acreditar que ser quinto ou sétimo no Brasileirão é título, que ser eliminado na pré-Libertadores e cair na Sul-americana é vantagem e outras pérolas, muitas vezes alimentadas por anônimos alçados ao posto de celebridades dos likes, que funcionam como embaixadores da gestão tricolor, voluntariamente falando. Tudo em nome do bem do Fluminense…
E outros anônimos que publicam textões quase idênticos nos maiores grupos do Facebook, com mil elogios ao “maior Fluminense de todos os tempos” nascido em 2019?
Será que acham que todo mundo é estúpido e, no mínimo, não desconfia de tantos movimentos estranhamente coincidentes?
Já que se fala tanto em transparência no clube, por que não sabermos das principais cláusulas dos contratos dos jogadores? Ninguém quer saber o quanto ganham, mas sim as cláusulas. Será que tem garantia de minutagem e presença em campo para aumentos salariais? Sem problemas, mas que tal dar transparência real ao processo? Talvez aí esteja o caminho para se entender aquela substituição inacreditável, por exemplo.
“A torcida não assina cheques”.
Nunca mais se falou de Live Sorte, né?
Ainda sobre os juniores que sobem: são dezenas de casos onde “estão com a cabeça na Europa”, “o pai é chato e cria caso”, “não performaram” e acabam não servindo para o Fluminense, mas caem feito uma luva no São Paulo, no Athletico, no Grêmio, no Bragantino e, claro, no Flamengo. Às vezes saem de graça, é o que se noticia por aí. Honestamente, nunca mais teremos jovens que fiquem mais de três anos no clube e sejam ídolos? Todos começam no Fluminense mas são indiferentes ao clube? Vale a pena refletir a respeito disso?
É importante dizer: não se trata de apedrejar pessoas, longe disso. Ninguém quer o mal do Cris da Moldávia ou do Caio Paulista; agora, tentar impor estes dois jogadores, por exemplo, com franca campanha midiática nas próprias redes do clube é um comportamento grotesco, no mínimo.
Esperamos dez anos por um Carioca. Passamos quase dez anos enganados por discursos oficiais absolutamente mentirosos. À essa altura da temporada, dá pra dizer que German Cano fez muito mais do que os gols que decidiram o título. Na verdade Cano pode ter salvado duas gerações inteiras de tricolores, porque se não vencêssemos esse campeonato, talvez a nossa temporada de 2022 já tivesse ido pelos ares – exceto para os lunáticos que ainda defendem a maior gestão de todos os tempos…
Posto isso, eu não quero formar opinião alguma. O que me cabe aqui é desabafar e falar das coisas que vejo, dos fatos que testemunho. Tudo o que está aí acima fala de fatos, de situações registradas, do óbvio. Agora, o que move por trás todo esse mecanismo de fatos, fica para a consciência e análise de cada um.
Agora é respirar e encarar o Vila Nova.
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Neste domingo meu pai faria 81 anos. Ele nunca leu uma crônica minha ou sequer um dos meus livros sobre o Fluminense. Escrevi, escrevi e escrevi tanto para tentar aliviar minha dor pela sua morte. Escrevi milhares e milhares de páginas – só aqui no PANORAMA são mais de 2.500, afora 600 dos livros Roda Vida, disponibilizados gratuitamente.
Não adiantou. A dor é permanente. Já escrevi coisas demais, dentro e fora do Fluminense. Muitas.
Meu pai era a mão que me carregava por aquela arquibancada de concreto do Maracanã. Foram os melhores anos de minha vida e nunca mais vão voltar.
Era eu, meu cachorro quente, meu copo de Coca-Cola, minha bandeira do Fluminense e as pessoas grandonas me levantando, abraçando, isso enquanto Rivellino tabelava com Paulo Cezar, ou o jovem Edinho dava uma arrancada, ou Carlos Alberto Torres matava no peito, ou Carlos Alberto Pintinho desfilava sua elegância com a bola (talvez agora seja mais fácil entender minhas críticas sobre Wellington e Cris Silva, por exemplo).
Em 2005 o Fluminense foi campeão sobre o Volta Redonda no dia do aniversário de meu pai. Ele ficou muito contente. E eu por ele, eu por nós.
Talvez eu vá na terça e, se confirmar, farei o ritual de sempre nos últimos nove anos: enxergar no atual Maracanã o antigo, enxergar no atual Fluminense o universo do antigo Flu e procurar pelo meu pai. Em pensamento, sonho, choro, muito choro. Talvez ele esteja comigo mas não tenho como abraçá-lo, nem como ele me puxar pela mão.
Olhando para o que já não existe, procurando ao lado por pessoas que já não existem, mas tendo como prêmio de consolação uma camisa inesquecível, que eu passei a gostar desde que conheci o primeiro nome da história do Fluminense: Félix. Era 1973, eu tinha quatro anos e, até chegar a estas linhas, eu faria uma longa travessia. Longa, longa demais.
Meu pai faz muita falta. Sinto muita tristeza. Já pensei em parar muitas vezes com tudo, por diversos motivos, mas alguma coisa fala para não desistir, para ir até o fim. Enquanto dá, prossigo. Não sei até onde vai dar e nem quero pensar nisso, então escrevo.
Se eu não for ao jogo na terça, procurarei meu pai pela tevê mesmo. Não é a mesma coisa, mas o sentimento é o mesmo. Eu o amo e sofro muito sem ele. É um escudinho do Fluminense para mim. Os jogos que me levou, os botões que me deu. Pelo menos agora tem o sobrenome Andel em muitos lugares, e provavelmente ele iria gostar muito.
A orfandade esfaqueia a alma em qualquer idade, para qualquer filho, mesmo os que já são pais.
E suas palavras sobre o seu pai me fazem pensar em como eu gostaria que as coisas tivessem sido diferentes entre mim e o meu. Mas onde ele foi ausência, o Fluminense foi presença… por isso não me conformo com o que esses sujeitos fazem.
Paulo, o “maior Fluminense de todos os tempos” que esse pessoal diz ver só pode ser a base do iceberg.
Andel, a saudade machuca, mas sem ela a vida perderia o seu melhor tempero. O poeta da MPB disse que ‘ter saudade é melhor que caminhar vasio’…. todos nós temos nossas saudades e caminhamos por elas e não apesar delas…. força amigo…. saudações tricolores!
Andel, o sentimento nostálgico que nos releva é o mesmo que sinto pela perda do meu avô (meu maior herói) e as eternas lembranças do verdadeiro Maracanã. Primo do grande Marcos Carneiro de Mendonça, o meu “Velho” foi um dos responsáveis pela disseminação da paixão pelo clube em nossa família. Lembro-me muito bem dele recordando de seus ídolos de infância: Batatás, Moisés e Machado; Santa Maria, Orozimbo; Sobral, Romeu, Russo, Tim e Hércules. Os meus heróis são praticamente os mesmos que você citou, embora eu tenha nascido em 1974. A alegria contagiante e a simplicidade quase infantil do Casal…
Tenho pena desta geração, e das gerações que está geração formará por sua influência.
Saudades eternas do meu pai também. Apesar de tudo, ele era o meu maior amigo.