Na noite de 17 de maio de 1997, com 16 segundos de jogo, Romário recebeu a bola na área e finalizou, Adílson se atirou e desviou a bola para escanteio. O finalista da Copa do Brasil daquele ano, chegava ao clássico como o grande favorito, e se aquela bola entrasse o favoritismo se confirmaria.
Mas, como afirmei na última coluna, o Fluminense desafia a lógica.
O Fluminense flerta com o improvável, o irreal, o inverossímil, o inconcebível, o impensável, o inacreditável, o quimérico, o utópico, o irrealizável, o impraticável, o inexecutável, o absurdo, o extraordinário, e até o bizarro, diria nosso querido Marcelo Diniz Gomes.
Aos 15 minutos, seria impossível que Gilberto, após lançamento de Iranildo, perdesse um gol feito como aquele, mas perdeu.
E o Fluminense fez o improvável aos 15, quando Roni avançou pela direita em contra-ataque, e cruzou para a área. A bola passou por um estreante Júlio César com apenas 17 anos e chegou aos pés de Alcindo, que havia sido um dos ídolos do rival entre 1986 e 1990. Ele que fora em 1989 o autor do primeiro gol da história da Copa do Brasil, marcava agora mais um contra o antigo clube vestindo a camisa tricolor. Já havia marcado no clássico anterior, vencido também pelo Flu por 3 a 2.
Para não deixar passar sem aquela velha ajudinha o árbitro Ubiraci Damásio resolveu não aplicar o segundo amarelo em Júnior Baiano, após pontapé em Roni.
Dias depois, seria meu aniversário de 18 anos (21 de maio), e a vitória seria um presente antecipado. Na sala, meu irmão (hoje falecido) flamenguista, acreditava que Romário deixaria o dele no segundo tempo. Mas após o intervalo, quem voltou dando as cartas foi o Fluminense.
Em poucos minutos, Roni perdeu dois gols. E Alcindo foi atingido na área por Júnior Baiano. Expulsão do zagueiro e penalidade para o Fluminense. Júlio César defendeu a cobrança de Ronald, e deu a impressão de que poderia se tornar o herói da noite.
Mas o improvável (ah, o improvável), teima em dar as mãos ao Fluminense. Mesmo com Romário, Iranildo, Sávio, Gilberto, Lúcio, Nildo, Yan, Roni, Alcindo e até Renato Gaúcho em campo, a bola procurou um jovem desconhecido.
Após uma rebatida da zaga rubro-negra, a bola chega aos pés de Dirceu. Ele arrisca um chute de muito longe e acerta, dando números finais ao placar. Fluminense 2 a 0.
Naquele ano, o Botafogo se sagraria o campeão carioca, mas 1997 ficou marcado na minha memória, por dois clássicos do improvável. Duas vitórias totalmente maravilhosas contra nosso rival mais soberbo.
O Fluminense de Alcindo não foi campeão, e tampouco ele fez história com a camisa tricolor. Mas, por ter feito um gol em cada clássico contra o Flamengo, desbancando ninguém menos que Romário, ele passou a ser uma das minhas boas lembranças do Fluminense. Quase ninguém lembra ou fala dele, mas eu não esqueço.
Valeu Alcindo, valeu Nildo (2 gols na Vitória por 3 a 2), valeu Dirceu. Vocês me deram um baita de um presente de aniversário em 1997.
Ficha técnica
17/05/1997
Flamengo 0 x 2 Fluminense
Local: Maracanã
Árbitro: Ubiraci Damásio
Cartões amarelos: Fábio Magrão, Fabiano, Marco Aurélio (Fla); Vágner, Alcindo (Flu).
Cartão vermelho: Júnior Baiano.
Gols: Alcindo, aos 15min do primeiro tempo; Dirceu, aos 32min do segundo tempo.
Flamengo: Júlio César; Fábio Baiano, Jr. Baiano, Fabiano e Gilberto (Leonardo); Bruno Quadros, Fábio Magrão (Braga), Iranildo e Lúcio (Marco Aurélio); Romário e Sávio. Treinador: Sebastião Rocha.
Fluminense: Adílson; Ronald, Vágner, Márcio Costa (César) e Jorge Luís; Dirceu, Cadu, Nildo e Yan; Alcino e Rôni (Renato Gaúcho). Treinador: Valdir Espinosa.
Veja também: