Amigas, amigos tricolores, pseudo-influencers e youtubers desmilinguidos,
Vamos falar sobre PH Ganso.
Visto no início como o craque à moda antiga que dominaria a camisa 10 da seleção, foi acumulando lesões e críticas. Desde que estreou como profissional pelo Santos, em 2008, o meio-campista canhoto criou enormes expectativas nos amantes do futebol, graças a seu refinamento técnico, ao estilo cerebral e à visão de jogo que lembrava craques brasileiros das décadas de 1970 e 1980.
Um jogador que pensa antes da jogada ser iniciada, e se ele perceber que não será executada, não titubeia de voltar e tentar novamente. Em toda a sua carreira foi mal compreendido; na mesma maneira que era elogiado, era criticado.
Em tempos de um futebol marcado pela intensidade constante, Ganso foi jogado ao desperdício do óbvio; poderia ter ido no mínimo em uma Copa do Mundo, na minha opinião a de 2010, onde estava no seu auge técnico e físico.
Se tivesse nascido 20 anos antes, Ganso poderia ter sido o craque da Copa de 1994, quem sabe, ao lado do finado Dener, a dupla de criação para municiar Bebeto e Romário. Mas isso é uma situação hipotética, uma tese utópica.
Gostando ou não gostando, ele é diferenciado, pensa o jogo fora da caixa, faz o não óbvio tão usual no futebol moderno. Paulo Henrique Ganso, versão 2024: os joelhos deteriorados, mas o cérebro e o coração em perfeito funcionamento. Menos traquinas, mais maestro. As pernas o impedindo de ocupar a extensão do campo, mas a cabeça e o guia intuitivo sempre o levando para onde a bola estava. Na verdade, nem isso era preciso: a bola chegava. A interessada era ela.
Como um poeta e malandro, algumas estrofes de Stanislaw Ponte Preta mostrando a arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro. Captando todo o ambiente. Refletindo e refratando todos os movimentos. Uma luz própria, um corpo fendido, reservado, destacado, à parte das coisas do mundo, retalhos da vida. Um co-criador do tempo e da situação — quantos minutos de jogo?
Quando Ganso largar a bola, a gente se preocupa com isso.