Em memória de Nena Moraes, tricolor de fé.
ANTES DA PARTIDA
Daqui a pouco vou para o jogo.
Assim tem sido há mais de 40 anos, desde que meu querido pai me puxava pela mão e vivíamos o sonho de criança – na arquibancada ninguém é adulto.
De lá para cá foram muitos os encontros e as despedidas, mas não importa: eu vou para o jogo.
Meu compromisso é com o Fluminense, é com o meu amor e a saudade, desimportando o trágico cenário que o cerca e ameaça.
Acredito na permanência. Eu sempre acredito, mesmo quando tudo parece perdido.
Quem tem compromisso com o amor não tem tempo a perder com falsidade, mediocridades, excrescências mentais que se tornaram a nojenta e prostituída luta política do clube.
Desculpem a imodéstia, mas posso falar disso com total propriedade: sou o escritor independente com mais títulos literários publicados sobre o Fluminense em sua história, nunca dependi de seus dirigentes para publicar nada (muito pelo contrário, se dependesse de dois dos porcos escrotos que passaram por lá, eu teria era um livro apreendido e DESTRUÍDO – só um dirigente muito filho da puta, muito escroque, um rato de esgoto poderia lavar as mãos diante disso), nunca postulei cargo e emprego no clube, nunca vendi ou aluguei minhas palavras a $erviço de seus “grupos políticos” – o que poucos podem dizer se passarem por um detector de mentiras.
Quando errei como eleitor, o fiz de graça e pelas minhas convicções conjunturais – e meu voto ou apoio não foram uma carta branca para a livre prática do grotesco. Quando tive que defender o Fluminense, não foi como uma nanocelebridade em busca de holofotes, mas escrevendo aquela que, para alguns ou vários, é a maior defesa institucional da história do clube, ao lado de outros cinco escritores.
É deprimente que, num momento grave como o de agora, há quem veja no Fluminense apenas uma oportunidade de ascensão pessoal, de autopromoção ou de manutenção de vantagens particulares. Felizmente passo longe disso.
Vou ao jogo porque meu amor estará em campo, pouco importando quem vista seu uniforme no gramado.
Vou pela saudade de meus pais e meu irmão, de meus amigos que já se foram ou estão longe demais, pelos melhores anos da minha vida, quando meu mundo era uma nuvem gigantesca de pó de arroz e muitas bandeiras.
Pelo falecido Maracanã, minha casa de lembranças. Eu ainda me lembro quando vi um velho placar de 0 a 0 em 1974.
Vou ao jogo porque amo o Fluminense. Só tenho compromisso com o clube e suas cores, não com os hipócritas e sacripantas que o cercam. Não preciso dessas pessoas escrotas para nada e, sinceramente, muitas delas para mim estão mortas em vida.
O momento é muito grave, mas tenho fé na superação. Depois disso, trata-se do resto.
Não sou torcedor de dirigente ou candidato, nem de “grupo político” (com aspas mesmo, porque qualquer pessoa minimamente instruída não pode considerar essa batalha de ódio, ofensas e mentiras como algo que se deva respeitar politicamente, salvo raras e honrosas exceções que já tornei muito claras por aqui, no PANORAMA e em meus livros). Nunca precisei dessa merda para nada, continuarei não precisando. Não sou massa de manobra nem me presto ao papel ridículo de panfleteiro eleitoral travestido de “formadô de openeaum”. Deve ser uma merda depender exclusivamente do próprio time para se mendigar a atenção e o carinho de alguém, um vazio por absoluta ausência de predicados.
Vou ao jogo. Eu amo o Fluminense, não as pessoas escrotas que torcem para o meu time – e infelizmente elas são muitas.
Que cada um possa apoiar o time logo mais, evitando a descida para o inferno. Assim seja.
Eu vou ao jogo pensando nos meus pais, no meu irmão, nos meus verdadeiros amigos tricolores, nos meus ídolos de verdade, nos meus heróis anônimos que me trouxeram da infância até aqui. Eu vou ao jogo pela minha eterna infância de torcedor e só.
Torço sinceramente para que o Fluminense volte a ser aquele que, um dia, eu vivi. Com novos nomes, novos cenários, longe desse museu de grandes novidades que não passa de uma farsa, uma panelinha de vaidades e interesses pessoais.
Todos ao Maracanã. Hoje, é só o que importa.
Eu amo o Fluminense, eu estarei lá.
DEPOIS DO JOGO
O Fluminense carrega em suas veias o ápice, o drama e o teatro. Não à toa, o maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos foi seu maior cronista.
Num dos momentos mais difíceis de sua história, tão grave quanto em outras sete oportunidades na era dos pontos corridos, ou até mais devido ao caos atual, conseguiu se manter na primeira divisão no domingo passado.
A torcida tricolor fez a sua parte lindamente. Richard fez o gol que o colocou ao lado de Marcelo e Marquinho, heróis de 2003 e 2009. O time mostrou luta, mesmo com seus horizontes limitadíssimos. A seriedade de Digão ajudou, Gum foi guerreiro. A bola salva em cima da linha é uma página eterna da literatura tricolor. Junto, o salto fantástico de Igor Julião: em 99,9999% dos casos semelhantes, um jogador teria levado uma bolada e talvez resultando em gol contra.
Agora, Júlio César jamais será esquecido pela atuação diante do América-MG. O Fluminense tem uma galeria imensa de jogadores que lhe deram grandes títulos, outros que marcaram vitórias e reações inesquecíveis; no entanto, com sua defesa do pênalti e a de mão trocada no segundo tempo, Júlio salvou o Fluminense da morte. Mais do que a vergonha, a queda para a segunda divisão significaria a falência múltipla dos órgãos do Tricolor. Júlio César foi um monstro. Num todo, o time escalado teve uma dignidade enorme.
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Depois do alívio pela salvação, agora é hora de salvar o clube.
Que o mínimo bom senso prevaleça tanto do grupo político da atual gestão quanto de suas dissidências que hoje se apresentam como oposição. Ninguém aguenta mais essa guerra estapafúrdia enquanto o Flu afunda, exceto os que lucram com ela. A torcida deu seu recado hoje no estádio.
O Fluminense precisa de paz, e ela só virá com diálogo e sem o museu de grandes novidades que limita e, mesmo que involuntariamente, sabota o Tricolor. Não existe mágica, o clube não pode ter seu debate limitado a panfleteiros de redes sociais e leões de chácara de teclados. Com meio bilhão de dívida, a crise financeira do Flu é coisa para profissionais, não amadores e palpiteiros de meia tigela.
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Os textos acima foram postagens que fiz no Facebook, com pequenas adaptações temporais.
Não adianta dar murro em ponta de faca. A política do Fluminense é feita de chorume, que vai desde a maioria de seus seus protagonistas, passando por muitos de seus panfleteiros e militantes, até chegar ao torcedor comum, às vezes alimentando um ou outro indigente mental com a bravata de que a culpa pelo caos desta gestão – e também de suas antecessoras – é de seus eleitores em vez dos eleitos, como se o sócio do clube tivesse dado uma carta branca de barbaridades, sandices e mentiras em vez de dar um voto de confiança para os candidatos eleitos e seus grupos.
Raros são os que pensam no Flu acima de seus interesses pessoais. Eles existem, mas infelizmente não constituem maioria. Ou vocês acham que essa camarilha passa o dia inteiro na internet destruindo reputações, mentindo e cometendo crimes de graça?
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Por ora, o cenário de 2019 é ainda pior: perda de jogadores (até mesmo os mais fracos), reposição sofrível, nenhuma perspectiva de briga por títulos, aumento da dívida rumo ao bilhão e a cereja do bolo trash: a eleição no fim do ano, onde o principal embate é anunciado como a troca da situação pela ex-situação – ou de Júnior Dutra por Wellington Paulista, se assim preferirem…
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Ano que vem tem novo livro meu sobre o Fluzão, o décimo-quarto. Aguardem.
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Pessoal, muito obrigado pelo apoio de quase todos vocês ao PANORAMA, que completa sua sétima temporada em atividade. Os que desaprovam não têm a menor importância.
É uma luta diária, voluntária e muito, mais muito longe de acordos com candidatos que se lê ou se vê por aí, o que muito nos orgulha. Não escrevemos onze mil páginas de conteúdo próprio à toa.
Ainda teremos algumas colunas de fechamento de ano. Depois, as publicações serão facultativas até o início da temporada 2019.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel