Ainda sobre a SAF tricolor (por Flávio Souza)

Tivemos no início da semana a reunião do Conselho Deliberativo do Fluminense, realizada no maravilhoso salão nobre do clube, com seu magnífico vitral ao fundo.

Confesso que alimentei por muito tempo o sonho de casar em uma igreja com a camisa tricolor por baixo do terno, ao som do hino do clube tocado ao vivo e depois oferecer uma festa para os convidados neste mesmo salão nobre. Infelizmente as coisas não ocorreram como planejado e algumas restrições, principalmente as financeiras, me impediram de realizar este sonho.

De volta à reunião, na semana anterior à sua realização, anunciada como extraordinária, houve muita tensão na comunidade tricolor. Muitos temiam o que poderia ser anunciado e até mesmo decidido sobre o assunto SAF. A preocupação era muito justificável em virtude do histórico negativo do presidente do clube, que repetidas vezes desrespeitou seu estatuto com as bênçãos desavergonhadas dos conselhos fiscal e deliberativo.

Tivemos a grata surpresa quando foi anunciada uma ação há muito aguardada pelas pessoas que querem ver o respeito ao estatuto do Fluminense. Um advogado membro de um grupo político entrou com uma ação na justiça procurando impedir que o atual presidente venha ocupar o comando da SAF e impedir também que o processo continue sendo conduzido sem transparência. Espero que no futuro próximo outras ações possam ser impetradas buscando respeito aos direitos dos sócios e ao estatuto do Fluminense.

Outro fato que, a princípio, pareceu positivo foi o anúncio de que a reunião seria transmitida ao vivo através do canal do clube. A surpresa veio quando o presidente, que é conhecido como “pavão” por ser muito chegado aos holofotes, deu lugar ao seu vice-presidente no longo discurso de abertura da reunião. Rapidamente ficou muito claro para todos que a transmissão ao vivo da reunião tinha como um dos seus principais objetivos apresentar e viabilizar o vice-presidente como candidato da situação para as próximas eleições.

O discurso repetiu as falácias que todos estamos já cansados de ouvir da atual gestão, porém a que mais me chamou a atenção foi a afirmação de que as finanças do clube são muito impactadas por processos trabalhistas vindo de gestões anteriores. É preciso lembrar que não apenas o atual presidente tem ocupado diversas posições executivas no clube há mais de dez anos, jurídicas inclusive, mas temos jogadores vendidos na atual gestão processando o clube e pelo menos dois outros clubes cobrando na justiça repasses de valores de venda de jogadores como Isaac e Lelê.

Um ponto muito negativo da reunião foi constatar o nível intelectual baixíssimo dos conselheiros que haviam se inscrito para falar. Será muito difícil de esperar que estes conselheiros ajudem a conter as propostas pouco ortodoxas do presidente para a SAF. Entre os poucos conselheiros que valeu a pena ouvir falar se destacou o que falou algo corajoso, porém mais que óbvio: que apesar de não ser ilegal, é imoral o presidente que conduz a venda da SAF vir a ocupar o cargo de CEO da mesma SAF. O presidente, em vez de aproveitar a oportunidade para declarar oficialmente que não ocupará este cargo, optou por tentar intimidar o conselheiro com uma ameaça de processo.

O meu balanço final desta reunião é de que absolutamente nada de novo ou relevante em relação à SAF foi mostrado e que o objetivo de dar destaque a vice-presidente ficou escancarado demais até para as pessoas simpáticas à atual gestão. O que resta à torcida tricolor é estar muito atenta aos próximos passos da administração do clube na direção da SAF.

Precisamos que no campo político a oposição se una o mais rapidamente possível em torno de um candidato viável, pois já se demonstra clara a estratégia da situação.

Que estejam atentos todos os tricolores, a venda da SAF é algo que uma vez feito não poderá no futuro ser desfeito.