Agora a noite no Maracanã acabou (por Paulo-Roberto Andel)

Quarta, sete da manhã. Dois terços de agosto.

A cidade não pára. Vista do alto, os milhares de veículos formam uma admirável corrente sanguínea de aço, deslizando pelas veias e artérias de asfalto.

A dor existe. A violência e a morte aterrorizam os corações. A miséria também.

Contudo, coube ao Fluminense tornar a manhã menos cinza – logo o Flu, que um dia nasceu cinza e depois virou colorido de se apaixonar. Por causa do Tricolor, centenas de milhares de pessoas estão encarando suas duras batalhas pessoais com um sorriso. Enfrentando trens lotados, engarrafamentos e precarização de toda sorte. Gente rindo e brincando numa cidade tão sofrida.

Foi uma vitória admirável. O Flu, que vem de um ano tão difícil, fez seu melhor primeiro tempo em 2024 e poderia ter liquidado a fatura nos 90 minutos, mas o roteiro estava preparado para mais emoções. Veio a batalha alucinante dos pênaltis, com personagens multifacetados.

Ganso, que quase fez um gol de placa no jogo, perdeu o primeiro pênalti. Fábio, que falhou nos 90 minutos, foi monstruoso na disputa e quase defendeu três cobranças – a mais bonita acabou passando, uma pena. Mas no fim, a massa tricolor explodiu de alegria no Maracanã e por todo Brasil. Ganhamos o gigante Grêmio, tricampeão da Libertadores, com Renato Gaúcho, um nome eternamente vinculado à nossa história tanto do nosso lado quanto adversário.

Ah, o Fluminense. Vive um 2024 sofrível, o clube deve os tubos, sua gestão é uma tragédia e vive uma luta gigantesca no campeonato brasileiro. Mas ontem, só por ontem, o Flu viveu uma de suas noites inesquecíveis, que nos remetem à verdadeira grandeza da instituição de 122 anos. Ontem, revivemos o nosso verdadeiro tamanho.

Agora a noite no Maracanã acabou. É um novo dia. Em meio ao gris da manhã, ainda sentimos no peito os resquícios da felicidade de ontem, mas é hora de desligar da Libertadores e se concentrar no foco principal: a disputa no Campeonato Brasileiro. Certamente ganhamos mais força para a batalha, que todos saibamos lidar com a situação. Bem cabem os versos de nosso ídolo pop tricolor Lulu Santos: “então desmonta logo essa máscara/ voltemos à estava zero/ fica tudo igual/ normal”. Depois a gente pensa no Galo.

Daqui a pouco, na hora do recreio, os garotinhos vão rir a valer na escola, zoando tudo e gritando “Nenseeeeeeeeee!”