Abismos que separam dois Abéis (por Edgard FC)

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Na segunda-feira passada, 21 de março de 2022, dois Abéis, em momentos distintos e instâncias diferentes, responderam perguntas. Um no Rio de Janeiro, direto do Engenho de Dentro, bairro que abriga o Estádio Nilton Santos, após jogo da equipe que é treinador, o Fluminense, que havia enfrentado o Botafogo pela semifinal do Cariocão 2022. O outro, estava em São Paulo, no estúdio da TV Cultura, canal público-privado, no tradicional programa da emissora, o Roda Viva.

Maior do que os 423 quilômetros que os separavam fisicamente no mesmo dia e horário, é o abismo que os separa intelectualmente sobre o modo de pensar, encarar e propor soluções em sua área de atuação, que é a mesma, treinador de futebol. Não que um seja ignorante e o outro brilhante. Me refiro ao arejamento e posições sobre como tanger seu riscado.

Enquanto o Braga, atual técnico do Fluminense FC, na entrevista coletiva tradicional pós-jogo, tentava ludibriar a inteligência do torcedor, e desacreditadamente, criava seus próprios fatos, muito bem destacado quando afirmou que sua equipe titular, recheada de medalhões ex-jogadores e pseudo-jogadores ou jogadores abstratos, era mais segura que a equipe reserva. E disse isso com ar de saberes celestiais, que nem o Conde Francisco da Zanzibar foi capaz de empunhar, até hoje. Mesmo sabendo que as únicas derrotas até aqui foram sofridas pelo escrete titular.

Já Ferreira, técnico do Palmeiras e atual bicampeão da Libertadores da América, algo que o tricolor só sonha ser, mostrava uma compreensão massiva e completa sobre o pensar futebol e seus meandros. Sua fala emblemática, parecia endereçada ao patrão do ‘nosso’ Abel: “Eu faço uma pergunta aos clubes brasileiros: (eu fico doente!) Eu tenho uma academia, formo jogadores. Vendo um jogador por dez milhões de euros, e depois vou contratar um jogador de 35 anos, vou lhe pagar uma fortuna. Vou ficar sem o dinheiro que vendi e a cria. Não entendo. Eu não entendo”. E disse isso com olhos esbugalhados de muito espanto e incredulidade.

Esse pequeno corte dos dois já aponta caminhos opostos, ainda que saibamos nós que o Palmeiras, guiado pelo Abel Ferreira, ao fim da jornada passada, dispensou Willian (35 anos) e Felipe (38 anos), enquanto o Fluminense, ‘a pedido de Abel Braga’, segundo o presidente Mário Bittencourt, contratou a peso de ouro – ou gasolina – os dois, comprometendo-se, só com seus salários, somados, em dois anos de contrato, algo em torno de R$30.000.000,00 (trinta milhões de reais), fora taxas, impostos e comissões que devem ser pagas aos empresários e agentes na negociação, chamada por muitos por aí, de ‘sem custos’.

E tudo isso sob a bandeira de que o Fluminense está em reconstrução e austeridade financeira. Vomitado e despejado em nossas cabeças diariamente pelos influencers e páginas de grande alcance na internet, incluindo o grupo Globo, com matérias que mais parecem propaganda encomendada pelo atual mandatário do Fluminense.

Recomendo e muito assistirem essa entrevista de Abel Ferreira no Roda Viva, mesmo eu não gostando tanto de seu modelo de jogo, mas o que ele defende e estuda para fazer é o foco dessa análise.