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“Geraldinos”, de Pedro Asbeg e Renato Martins (2015), é um dos grandes filmes do futebol brasileiro e precisa ser visto por todo admirador do esporte que vivenciou – ou pesquisou – parte ou todo o período compreendido entre 1950 e 2005, com ênfase nas décadas de 1970, 1980 e 1990. Está em cartaz nesta semana no Circuito Cine Joia e em outros cinemas.
Em 88 minutos, o filme mistura depoimentos de personalidades, anônimos e imagens espetaculares do Maracanã em êxtase, mesmo em partidas onde nada estava sendo propriamente decidido. O setor mais popular do estádio era um espetáculo à parte, com torcedores divertidos, exóticos e apaixonados por seus clubes. Em paralelo, cenas empolgantes das arquibancadas lotadas, cheias de bandeiras e bem diferentes dos dias atuais. Quem assistir vai entender porque os veteranos dizem que era tudo muito diferente e melhor, embora o Maracanã atual seja mais confortável para o público. Há questões sociais, políticas e esportivas nas reflexões propostas na tela.
Os tricolores têm motivos especiais para ver “Geraldinos”: o Fluminense é um dos principais atores da película, seja por imagens fantásticas da nossa torcida, pelo depoimento do mitológico carrasco Assis, pela presença da simpaticíssima Vovó Tricolor, esbanjando felicidade e sendo carregada na geral, o querido Abelão à beira do gramado e ainda pelo torcedor tijucano apelidado de “Assis”, que invadiu o gramado certa vez num Fla-Flu em que levávamos um baile em 1982 e… batizou o próprio filho com o nome de Assis, dentre outras situações hilárias de anos incríveis que já não voltam. Tudo bem: há um torcedor que xinga o folclórico goleiro Fernando Henrique, mas até mesmo esta parte do filme sugere um bom debate.
“Geraldinos” merece a presença da nossa torcida, em especial os que sabem que o Fluminense está na atividade há muitos em muitos anos, detentor que é de uma história honrada e consagrada naquele inesquecível Mário Filho – o dos domingos de glória às cinco da tarde.
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Falecido na semana passada, o escritor, jornalista, historiador, locutor, comentarista e multi-homem Teixeira Heizer deixou um verdadeiro tesouro literário como réquiem: “A outra história de cada um – o lado oculto de conhecidas personalidades”, lançado há dois meses pela editora Mauad. Lamentavelmente, Heizer passou mal logo depois do lançamento e foi internado para não mais deixar o hospital.
“A outra história de cada um” é uma coletânea de perfis e relatos de fatos, todos com no máximo três páginas. E foca em situações desconhecidas e particularidades dos personagens. Embora envolva próceres de várias vertentes, o livro acaba enfatizando nomes de alguma forma ligados ao futebol, aquário natal de Heizer, um tricolor fanático.
O texto categorizado, elegante e sucinto do autor faz de “A outra história” um dos melhores livros do ano de 2016. Uma verdadeira aula de redação, boa escrita e talento. Uma leitura fundamental para se mergulhar em mais de meio século da vida brasileira. Por isso mesmo, é contra-indicado para pernósticos de ocasião e subcelebridades da Internet que insistem em travar uma guerra contra o vernáculo: podem se sentir humilhados e até coléricos com o texto.
O tricolorzaço Heizer estampou o Fluminense no livro. Lá estão nomes como os de Castilho, José Carlos Araújo, Nelson Rodrigues, Zezé Moreira e Jô Soares. Também está João Havelange, mas até nisso o brilho do escritor reverbera: neste verbete, o Tricolor passa incólume.
Teixeira Heizer é um nome que precisa ser conhecido pelos mais jovens, e também reverenciado por todos que veem no futebol um combustível possível para uma literatura refinada. Mais do que isso, eternizado como mestre a cativar humildes pupilos, tais como este PANORAMA.
Panorama Tricolor
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Imagem: rap heizer asbeg