Ninguém quer perder, ainda mais em futebol.
Perder faz parte do jogo e da vida.
Talvez o problema maior é como se perde.
A maneira como o Fluminense desperdiçou sua vantagem na Taça Guanabara, na derrota descompromissada para o Botafogo, nos levou ao processo atual.
No próximo sábado, precisamos vencer o Flamengo por três gols de diferença. Por si só, já é uma façanha, mas ainda conta com um agravante: há meses, o bom futebol do nosso time sumiu, vivendo às custas de lampejos. A própria conquista da Recopa mostrou isso. Vencemos e comemoramos, mas estivemos longe de brilhar.
Houve um tempo em que o Fluminense conquistava títulos a granel. Por exemplo, somente do fim dos anos 1960 até a metade dos 1980, fomos campeões em 1969, 1970, 1971, 1973, 1975, 1976, 1980, 1983, 1984 e 1985. Desde então, se passaram quase quatro décadas e, em quase metade desse tempo, não conquistamos nada.
Justamente por isso, a chance de um tricampeonato é rara, bem rara, e não devia ser desperdiçada. Depois do período 2010-2012, passamos uma longa seca até o momento mais recente com o bicampeonato carioca 2022-23 e a sonhada Libertadores 2023, mais a Recopa 2024. Ah, sim, há quem diga que não houve seca por causa da efêmera Primeira Liga. A prevalecer essa tese, então também não tivemos seca entre 1986 e 1994, já que vencemos a Copa Kirin de 1987 e o Torneio de Kiev de 1989. De qualquer maneira, todos os títulos são importantes – o Carioca inclusive.
O próximo sábado marca a dignidade do Fluminense. Luta por um improvável tricampeonato no Rio e também para não igualar o humilhante recorde de 12 clássicos consecutivos sem vitória.
Há tricolores que, resignados, só esperam uma atuação digna na segunda partida. Não é nenhuma bobagem de “antis”, mas apenas uma questão de coerência. Longe de se jogar a toalha antes da hora, é um exercício de lucidez básica. O Fluminense pode reverter o quadro? Sim, lógico, desde que recupere o futebol perdido há meses. E o que fará para isso?
Caso não venha a ressurreição, não teremos uma terra arrasada, mas para os tricolores com mais de 50 anos de idade ficará um gosto de certa despedida: a de um tricampeonato. Talvez não haja uma nova oportunidade para os cinquentões, nunca se sabe.
Se for a minha última chance para isso, sei exatamente dos riscos e vou torcer até o fim. Até o fim, mesmo discordando de muita coisa. Mas, sinceramente, gostaria de reviver a alegria que feras como Ricardo, Deley, Romerito e Branco me proporcionaram tempos atrás, quando torcer para o Fluminense era muito mais do que falar ou escrever bobagens para ganhar likes ou ser “famoso”.
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Em memória de Anderson Gomes e Marielle Franco.