A nova panaceia no Fluminense (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, hora de fechar o ano e desejar um 2020 maravilhoso a todos: tricolores, dissidentes e amantes do esporte de um modo geral.

Porém, como aqui é lugar de análise, vou eu novamente fazer o papel de antipático.

É que o que  mais vejo por aí, nas mídias sociais, é o pessoal falando de associação ao clube como a nova panaceia. Se nossa dívida é gigantesca, se não contratamos bons jogadores, se brigamos contra o rebaixamento, a culpa é do torcedor que se recusa a contribuir com o clube com R$ 10,00 por mês.

Isso é uma tremenda de uma mentira. Se as coisas não acontecem no Fluminense, inclusive o torcedor se associar em massa, é porque temos presenciado péssimas gestões, porque o clube resiste a qualquer tentativa de profissionalização, porque o Fluminense está longe de ter um modelo organizacional, administrativo e operacional que se habilite à gestão de um faturamento de R$ 300 milhões anuais.

Ah, mas a torcida do Vasco é que está certa. Sim, está certíssima, mas é preciso dizer que a iniciativa partiu do clube, foi o Vasco quem iniciou a campanha, que tinha pé e cabeça. Mesmo a campanha vascaína,  pelo menos até o final do período de desconto, levantou uma receita extra de cerca de R$ 30 milhões anuais.

Aliás, se o clube iniciar bem a temporada, é  possível, retendo esses associados, aumentar substancialmente essa receita, mesmo sendo previsível que haverá uma taxa de abandono quando o valor da mensalidade desses novos sócios dobrar.

E se conseguíssemos nós uma receita nova de R$ 40 milhões? Ajudaria? Muito! O que foi feito para isso? Nada. Mesmo que houvesse sido feito, não resolveria nosso problema financeiro, tampouco o esportivo, o que significa que precisamos de mais.

E o que seria esse mais? Mais receita com bilheteria, premiações e patrocínio. Como obter isso? Só tem um jeito. É preciso conquistar credibilidade. Porém, o que temos visto até aqui? Conseguimos desbloquear a grana do Wellington Nem e estamos conseguindo colocar as despesas em dia, perto, inclusive, de obtermos a CND.

Não fosse, inclusive, a tal penhora, teríamos tido um ano relativamente tranquilo nas finanças, inclusive sem necessidade de vender o Pedro por um preço que em breve se mostrará uma verdadeira abominação, como foi com Richarlison.

Sim, é claro que a torcida tem que comprar o barulho. Eu sou a favor disso e incentivo que as pessoas se associem. O que não pode é vender a associação  como panaceia, porque não é do torcedor a responsabilidade e sim de quem está governando o Fluminense, inclusive no sentido de atrair esse torcedor e mostrar que ele está apoiando um projeto sério.

Eu não vejo nada de animador nesse final de ano, e olhe que eu estou falando de coisas concretas. O que temos de concreto, em termos de elenco, é a saída de jogadores de ótima performance em 2019, como Daniel e Yony, e a retenção de alguns jogadores de performance  duvidosa, como Gilberto e Yuri.

Ponto positivo para a permanência do Nino, assim como segurar o Digão é uma boa medida. Digão passou por um período desastroso na temporada, que acabou comprometendo a percepção da torcida sobre seu desempenho médio. Começou o ano muito bem e terminou da mesma  forma.

Fora isso, temos a interminável novela Caio Henrique e Allan, outras duas referências técnicas da equipe. Até quando isso vai, só Deus sabe.

Temos um projeto Sub-23 (Aspirantes), que servirá para fazer uma ponte entre a formação e o profissional. Faz todo sentido, contanto que tenhamos  um modelo de jogo universal, mas o modelo de jogo que tínhamos foi descartado. Por outro lado, eu fico me perguntando o que alguns jovens formados em Xerém vão fazer no Sub-23, quando leio alguns nomes especulados na imprensa.

Então, corremos o risco de ver jovens desfilando em torneios paralelos enquanto empresários colocam a xepa para aumentar a folha salarial do profissional.

A verdade é que as coisas carecem de explicação e as explicações carecem de lógica. Como, aliás, foram as declarações do Angioni sobre as vendas de Spadacio, Resende e mais um menino que foi recentemente, para o futebol lá do Oriente Médio.

Vale ressaltar que Spadaccio, quando foi negociado, mandava prender e mandava soltar no Subb-20. Era o melhor da turma disparado. E a  gente pergunta: qual o sentido disso? Seria o medo do jogador subir, estourar no profissional, entregar benefício esportivo e depois gerar uma bolada para o clube? Só pode.

Então, amigos, amigas, não adianta vender ilusão, porque ilusão é igual sorvete. É saboroso, mas derrete.

Houve o tempo em que o Fluminense precisava somente profissionalizar sua gestão e ter um projeto econômico e esportivo claro. Hoje nós precisamos de tudo isso e de investidores. Ou, como disse o nosso presidente, levaremos mais de uma década só para colocar o pescoço para fora. E com essa forma de fazer futebol é bem provável que nem isso consigamos, porque o que se desenha no horizonte é um ano sombrio.

Como eu acredito em trabalho sério, projeto científico e organização impecável, não em milagres, a recomendação é apertar  os cintos, pois já teremos problemas na decolagem.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

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