As reclamações contra nossa zaga são constantes e, até mesmo, irritantes. Desde há muito pedimos a contratação de zagueiros e temos uma relação de amor e ódio aos que lá estão. Via de regra, independentemente de qual seja a formação titular, ao vermos a escalação, preferimos os que estão de fora.
Se Gum joga, críticas a ele. Se na outra partida vem Leandro, fora Eusébio. Digão? Não, nem pensar. E Elivélton, que tal? É baixo, vai dar “pixotada”. Anderson então! Ainda está no Flu? Que absurdo, não joga nada. E é assim a torcida, sem lógica ou qualquer coerência. Há quem defenda a zaga bicampeã, mas, no geral, chovem críticas de todos os tipos.
Não vou aqui dizer que são análises infundadas por completo, pois eu mesmo avalio a necessidade de reforçar o setor. Contudo, temos de parar com essa mania esquizofrênica de que nada do que se faz está bom. É preciso experimentar e tentar coisas diferentes, exatamente o que faz o bruxo Luxemburgo.
Nossos zagueiros não passam por uma fase boa e estão bem abaixo do ano passado. Todo o time vive momento inferior a 2012, mas isso é mais evidente na zaga porque a falha de um defensor gera consequências maiores que a dos atacantes. Não que tenhamos uma defesa tecnicamente excepcional, também não é isso. Mas não são os carniceiros que querem pintar hoje.
Gum é raçudo, entrega-se em cada jogo. Tem suas limitações técnicas e falha sempre que se sente pressionado a provar seu valor. Amargou um banco durante um bom tempo, voltou em melhor forma técnica, mas ainda não é o zagueiro em que se deposite total confiança. Falta-lhe uma pitada de calma e de controle da ansiedade, pois acaba cometendo faltas próximas à área ou mesmo pênaltis infantis (não estou considerando este último contra o Goiás).
Euzébio tem qualidades importantes: coloca-se bem e é muito bom no jogo aéreo. Seu grande problema é que às vezes pensa dominar uma técnica refinada que não possui. Daí, saídas erradas de bola passam a ser constantes. Além disso, não consegue ser seguro quando pressionado, complicando-se muitas vezes diante do adversário. Some-se a isso que sua velocidade e agilidade não são das maiores, o que torna emocionante qualquer ataque adversário.
Digão surgiu como mais uma joia de Xerém. Seguro, jogando de cabeça erguida, sempre teve a missão de marcar a estrela do ataque adversário. Seu porte físico é o grande diferencial, mas peca pela pouca experiência. Talvez por conta disso, muitas vezes embananou-se em situações críticas por excesso de confiança e foi para o banco de reservas mais uma vez.
Anderson é o menos identificado com o clube. Chegou com autoridade e chancelado pelo Abel. Ganhou a titularidade de forma rápida, mas sua irregularidade lhe custou a posição. É um zagueiro rápido e voluntarioso, apesar de atabalhoado. Falta-lhe melhor senso de posicionamento e concentração no jogo.
Elivélton é uma promessa. Aliás, gosto muito de seu futebol. A maior crítica que se faz a ele diz respeito a sua estatura. Acho que ele tem boa velocidade e precisa se aprimorar nos fundamentos da posição, apesar de enxergar nele algumas características de jogadores mais tarimbados: não é afobado e joga sério.
Depois de um parágrafo para cada um, percebe-se que não temos um zagueiro completo, apesar de que as qualidades estejam ali, dispersas. O bruxo faz bem ao trabalhar a confiança dos jogadores e melhor ainda ao transformar a tática em subsídio da técnica: Edinho, um volante temerário, não compromete na zaga, aliando mais qualidades que defeitos.
Assim, os três zagueiros criam maior proteção, permitindo que se superem aos poucos as dificuldades surgidas ao longo desse ano. Nossas zagas foram muito pouco vazadas em 2010 e 2012, tendo as mesmas limitações técnicas. Uma boa dose de confiança, representada pela alteração tática, pode levar nossos zagueiros à fase dos outros anos. E, como Cavalieri vem demonstrando querer voltar a ser milagreiro, abramos uma leiteria inteira a partir da meia-lua. Aos poucos, o bruxo vai acertando os caminhos.
Panorama Tricolor
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